Informações sobre riscos de sustentabilidade são cada vez mais demandadas pelas partes interessadas, pois tais riscos e correspondentes oportunidades podem potencialmente impactar os negócios, fluxo de caixa e posição econômica, com consequências na performance financeira das entidades.
Por Mariana Lebreiro, Sócia de Financial Accounting Advisory Services (FAAS), e Renati Suzuki, Gerente Sênior de FAAS e especialista em ESG.
As companhias são invariavelmente expostas a riscos de sustentabilidade, mas os impactos desta exposição dependem de uma série de fatores: setor em que atuam, recursos naturais que utilizam, regulamentações que devem atender, área geográfica, modelo de negócio, entre outros. Estes impactos devem ser avaliados sob o aspecto contábil e, se materiais, devem ser divulgados nas demonstrações financeiras das entidades.
Investidores têm apontado esta falta de conexão como um problema. Em nosso último EY Global Corporate Reporting and Institutional Investor Survey [1], 73% dos investidores responderam que as entidades não têm conseguido criar uma divulgação que considere tanto dados financeiros como de sustentabilidade. Embora 99% dos entrevistados levem em consideração divulgações de ESG na tomada de decisão, 76% consideram que as entidades selecionam as informações a serem divulgadas a seus investidores, o que aumenta a preocupação de greenwashing. O IASB também se posicionou diante da falta de conexão entre as informações divulgadas e, neste ano, iniciou um projeto de integração das informações de mudança climática nas demonstrações financeiras[2].
Embora as regras contábeis atuais não contemplem especificamente como os riscos e oportunidades de sustentabilidade se aplicam na contabilidade, as entidades devem utilizar os padrões de contabilidade atuais e integrar a sustentabilidade em suas políticas de contabilização e divulgação, como qualquer outro risco, oportunidade ou estratégia desenhada pela companhia. Um ponto importante é que o IFRS S1 e S2, lançados pelo IFRS em junho deste ano, são padrões de divulgação de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade, ou seja, objetivam padronizar as informações de sustentabilidade e não como estas informações devem ser considerados na contabilidade e na divulgação financeira. A adoção do S1 e S2 não tem relação com a necessidade imediata da conexão entre as informações de sustentabilidade e a contabilidade.
A falta de conectividade entre as estratégias, riscos e oportunidades de sustentabilidade com as informações financeiras podem prejudicar a integridade da informação financeira pela desconexão com seus impactos financeiros. Por exemplo, se no relatório de sustentabilidade uma entidade divulga metas de descarbonização com dispêndios de materiais e compras de ativos, investidores esperam que estas metas sejam refletidas nas finanças da companhia, considerando os dispêndios em seus fluxos de caixa para teste de impairment, e na análise da vida útil dos ativos que estão em operação e serão trocados para atendimento às metas de descarbonização. Se as metas causarem impactos financeiramente materiais, é esperado que tais impactos sejam divulgados.
Por fim, a informação financeiramente material pode ser exclusivamente qualitativa, e não quantitativa. Setores que são notoriamente impactados por riscos específicos de sustentabilidade e onde os investidores esperam a divulgação de tais informações, devem divulgar ainda que sua exposição ao risco não se traduza em riscos materialmente quantitativos no exercício atual, ou mesmo quando não há impacto financeiro esperado devido às ações da entidade em resposta àquele risco. Por exemplo, no setor de óleo e gás é esperado um impacto significativo devido à natureza de seus negócios e à relação direta com a mudança climática. Desta forma, investidores esperam divulgações relativas à mudança climática, mesmo que sejam qualitativas. Por exemplo, a entidade deve informar que suas estimativas e julgamentos consideraram a mudança climática, embora no exercício não tenha existido um impacto material em seus testes de impairment ou avaliação de ativos. A informação qualitativa, embora não tenha impacto financeiro, informa ao investidor que aquele risco específico foi considerado nas avaliações financeiras contábeis e estão conectadas com as informações de sustentabilidade divulgadas.
- Como a entidade garante que os impactos financeiros dos riscos e oportunidades de sustentabilidade estão devidamente endereçados e, se materiais, divulgados?
- A entidade tem controles internos que garantam que os riscos e oportunidades de sustentabilidade são devidamente identificados, mensurados e avaliados quanto aos seus impactos financeiros?
- Existem profissionais capacitados e sistemas para que as informações estejam conectadas?
- Como os auditores externos estão envolvidos no processo de conexão dos riscos de sustentabilidade, impactos financeiros e de divulgação?
As quatro perguntas acima devem orientar as organizações para sanar essa lacuna.