De acordo com o G20, grupo das 19 maiores economias do planeta mais União Europeia e União Africana, para viabilizar a transição para baixo carbono em larga escala, o mundo precisa de um investimento anual de US$ 4,1 trilhões em tecnologias. Considerando esse valor, está claro que teremos dificuldades para construir toda a infraestrutura necessária no tempo urgente mencionado pela COP28 no global stocktake. “A alternativa é investir em uma rede inteligente de energia, chamada de smart grid, comandada por sistemas robustos de inteligência artificial que farão com que as diversas fontes de energia conversem entre si, para otimizar ao máximo a utilização de cada uma delas. Essa orquestração da rede elétrica é complexa para o ser humano e só pode ser realizada pela IA”, explica Thierry Mortier, líder global de Digital e Inovação para Energia e Recursos Naturais da EY.
Na avaliação de Ana Domingues, líder global de IA e GenAI da EY para Energia e Recursos Naturais, não há transição para as energias renováveis sem o suporte da IA. “Há uma série de variáveis que precisam ser consideradas para que o mercado de energia renovável seja impulsionado, o que se dará somente se houver lucro por parte das empresas envolvidas. É preciso, por exemplo, prever os preços de energia, as condições diárias do tempo e de viabilidade de produção de cada fonte de energia, a fim de que seja possível decidir se e quando produzir a energia solar, a eólica, a proveniente do hidrogênio verde, sem deixar de lado o armazenamento inteligente dessa energia por meio de baterias de longa duração”, diz a executiva, que ressalta ainda que são tantos dados envolvidos nesse processo, que somente uma ferramenta de IA consegue considerá-los ao mesmo tempo com a agilidade necessária para fornecer insights que permitam a essas empresas ser lucrativas, viabilizando assim a transição energética.
É preciso primeiro entender os diferentes cenários de descarbonização do mundo para que seja possível elaborar um plano de investimento de longo prazo em energias renováveis. Na Europa, por exemplo, o caminho é longo para a construção da infraestrutura de energia renovável – há poucos painéis solares fotovoltaicos usados pelos consumidores em suas casas e comércios, como existem em abundância em outros países como o Brasil.
“A primeira dificuldade no continente europeu é a mão de obra, porque não há engenheiros suficientes para isso. Sendo assim, para aproveitar esses profissionais em número insuficiente, o uso da IA generativa traz a oportunidade de poupar seu tempo de trabalho, já que dedicam praticamente metade do expediente à busca de informações técnicas e na elaboração de relatórios. Se eles fizerem esse trabalho rapidamente com o auxílio da IA, poderão usar esse tempo para tarefas técnicas voltadas para a transição energética”, considera Ana Domingues.
Flexibilidade da rede
Outro aspecto muito relevante da utilização da IA está relacionado com o sistema de energia. A adoção das energias alternativas transformará a rede, que ficará sob pressão, exigindo soluções para expandi-la, especialmente em relação à flexibilidade, que é a capacidade de o sistema se adaptar à demanda de energia de forma constante, sendo, portanto, suficientemente flexível para suprir o que a demanda exige em um dado momento. Pode haver um pico, por exemplo, que precisa ser suportado em segundos pelo sistema – para que não haja falta de energia.
Na Europa, os requisitos de exigência de flexibilidade aumentarão dez vezes até 2050, de acordo com as previsões do estudo “If every energy transition is different, which course will accelerate yours?”, da EY. “Os sistemas de IA podem auxiliar a prever esse comportamento da rede, acionando as fontes de energia mais preparadas naquele momento – inclusive as renováveis – para atender a essa elevação da demanda”, afirma Victor Guelman, sócio-líder de Markets e Business Development da EY Brasil.
Dificuldade de conexão à rede
Por fim, problemas na cadeia de suprimentos e atrasos em licenças estão dificultando a construção e instalação de novos ativos de energia renovável. “Na Europa, mas não apenas lá, a conexão das infraestruturas na rede elétrica é difícil e pode levar anos para que seja plenamente efetuada. Não podemos esperar todo esse tempo para a transição energética, motivo pelo qual precisamos fazer mais com aquilo que já temos, e a IA pode ajudar nisso”, diz Ana Domingues.
Em todo o mundo, os desenvolvedores de infraestrutura de energia renovável estão sendo informados de que devem esperar alguns anos nos Estados Unidos e até 15 anos no Reino Unido antes de poderem se conectar à rede. O problema é conhecido como “fila de interconexão” e representa um gargalo na transição energética.
Nos EUA, pelo menos 1.350 GW de capacidade eólica e solar e 680 GW de armazenamento aguardam para serem conectados à rede – o suficiente para dobrar o fornecimento de eletricidade do país. No Reino Unido, cerca de 25% dos pedidos aprovados em 2022 receberam ofertas de datas de ligação para 2030 ou mais, de acordo com o regulador Ofgem (Office of Gas and Electricity Markets). Situação semelhante é observada na Espanha e na Itália.