Por Armando Lourenzo, vice-presidente do Conselho Consultivo do EY Institute
A comunicação é um desafio constante nas empresas familiares, e os conflitos são, muitas vezes, a principal causa de ruídos ou até da completa ausência de diálogo. Isso compromete decisões ágeis, o trabalho colaborativo e a construção de estratégias eficazes.
Esses conflitos têm origens variadas — algumas remontam à infância dos envolvidos — e impactam tanto a gestão quanto a dinâmica emocional da organização. Isso compromete a efetividade do processo sucessório e reduz as chances de longevidade do negócio.
A ausência dos fundadores costuma agravar a situação. Muitos atuam como mediadores naturais dos conflitos, ainda que, por vezes, apenas adiem tensões profundas. Quando a segunda geração assume, esses impasses tendem a ressurgir com mais força.
As três fases dos conflitos familiares
- Na primeira fase, os fundadores centralizam o poder, empreendem e controlam os conflitos entre irmãos.
- Na segunda fase, com a ausência dos fundadores, o perfil empreendedor pode se enfraquecer e os desentendimentos entre irmãos se intensificam. Isso desvia o foco da gestão e abre espaço para os concorrentes ganharem terreno.
- Na terceira fase, conhecida como “consórcio de primos”, a ausência de uma liderança agregadora pode levar cada núcleo familiar a priorizar seus próprios interesses. A falta de alinhamento, muitas vezes, leva à venda da empresa por valores abaixo do seu potencial, em uma tentativa de evitar a falência.
Esses cenários evidenciam a importância de que o processo de sucessão seja iniciado ainda com a presença do fundador. Assim, a nova sociedade pode ser construída com base em valores comuns, humildade, transparência, comunicação de qualidade, respeito mútuo e propósito compartilhado.
O papel central da comunicação
Os conflitos costumam começar entre irmãos, pais e filhos, primos, genros e noras, e se expandem para outros agentes da gestão. A comunicação, embora não elimine os conflitos por completo, pode reduzi-los a níveis aceitáveis e saudáveis.
Outro fator crítico é a falta de regras claras. Quando os membros da família perdem a referência dos objetivos das três dimensões que regem o negócio — organização, sociedade e família — os conflitos se intensificam.
Por fim, a falta de objetividade em situações de tensão indica que o foco da discussão já não é mais o problema em si, mas sim a necessidade de “vencer o outro”. Esse comportamento mina a capacidade de resolução e enfraquece a empresa.
A solução passa por fortalecer a comunicação, estabelecer regras claras, alinhar valores e promover um ambiente de confiança, em que o objetivo coletivo esteja acima dos interesses individuais.