O cobre, que é a base da infraestrutura moderna e um dos principais motores da transição energética, está no cerne da jornada em direção a um futuro mais verde. Para atender às metas de eletrificação do mundo, será necessário extrair 115% mais cobre nos próximos 30 anos do que foi extraído ao longo da história. A importância estratégica do cobre também está crescendo com seu uso em centros de processamento de dados impulsionados por inteligência artificial e sistemas de defesa, o que gera uma demanda adicional pela commodity.
O mercado de cobre está apertado, com déficits que devem piorar após 2025 devido à escassez de nova produção. As empresas de metais e mineração de cobre estão ajustando suas estratégias, concentrando capital em áreas ricas deste minério, como a América Latina, e investindo em tecnologias como inteligência artificial e lixiviação de sulfetos para aumentar a produção. Apesar de os gastos com exploração terem atingido, em 2024, o maior nível em uma década, a indústria enfrenta problemas de fornecimento a longo prazo devido à falta de novas descobertas, tempos de desenvolvimento de projetos minerais mais longos, a diminuição da qualidade do minério e o custo médio de pesquisa, que é hoje quatro vezes maior do que há duas décadas.
As questões de sustentabilidade continuam a ser prioritárias nas agendas das mineradoras. Desde metas ambiciosas de descarbonização ao avanço na gestão hídrica, melhorias na segurança dos trabalhadores e promoção da diversidade, as mineradoras estão inovando para atender às expectativas, em constantes mudanças, das partes interessadas. Ao integrar princípios da economia circular e implantar tecnologias avançadas, as empresas visam impulsionar descobertas, melhorar as taxas de recuperação e otimizar a eficiência operacional.
Hoje (foco atual das mineradoras de cobre)
Os orçamentos para as atividades de pesquisa mineral e expansão relacionadas ao cobre atingem os níveis mais altos em mais de uma década, com foco em depósitos mais antigos e conhecidos
Os orçamentos para pesquisa mineral de cobre devem aumentar 2% ano a ano, alcançando US$ 3,2 bilhões em 2024, o maior desde 2013. A América Latina continua sendo a região dominante, representando 44% do orçamento global, liderada pelo Chile com 20%, apesar de uma queda de 6% em relação ao ano anterior. O orçamento da Argentina deve quase dobrar, chegando a US$ 200 milhões. Na América do Norte, o orçamento de pesquisa disparou, com o dos EUA mais que dobrando, para US$ 456 milhões, e o do Canadá triplicando para US$ 336 milhões na última década, evidenciando um forte impulso regional.
A pesquisa mineral representa 39% dos orçamentos globais de cobre, com atividades significativas no Canadá e no Chile. No entanto, os orçamentos para projetos greenfield de base caíram 9%, totalizando US$ 786 milhões, que representa agora apenas um quarto dos esforços globais de pesquisa de cobre. A drástica queda em relação à participação de 40% em 2015 marca uma mudança estratégica para reservas comprovadas, o que pode ameaçar o futuro da oferta de cobre.
Apesar do aumento dos investimentos, a indústria ainda enfrenta uma diminuição nas grandes descobertas, com apenas 4,2 milhões de toneladas de cobre encontradas em quatro grandes depósitos desde 2019, ressaltando a necessidade de inovações tecnológicas e processos de licenciamento mais ágeis para liberar novos recursos.
No Chile, abordar esses gargalos tornou-se uma prioridade fundamental. Após a introdução do projeto de lei sobre royalties, uma equipe de especialistas identificou as áreas com os maiores tempos de processamento de licenciamento e elaborou um plano para acelerar esses processos. O governo se comprometeu a reduzir os prazos de licenciamento em 30%, uma medida que visa promover um ambiente regulatório mais ágil e facilitar o desenvolvimento oportuno de projetos.
As transações de fusões e aquisições (M&A) continuam enquanto as empresas buscam garantir a produção de cobre
Em 2024, a indústria de cobre registrou um leve aumento no número de transações, subindo de 36 em 2023 para 38. No entanto, o valor total das transações caiu 34%, totalizando US$ 7,7 bilhões. Apesar disso, as fusões e aquisições (M&A) continuam a desempenhar um papel crucial na expansão das operações, especialmente nas regiões ricas em cobre, enquanto as empresas se esforçam para aumentar a capacidade de produção diante da falta de grandes novas descobertas, mesmo com orçamentos de exploração elevados.
As Américas, especialmente o Chile, o Peru e o Canadá, continuam a ser região atrativa para M&As de cobre, impulsionadas por depósitos minerais ricos e oportunidades estratégicas de crescimento. Recentemente, três grandes negócios, totalizando US$ 3,5 bilhões, foram assinados para fortalecer a produção de cobre, otimizar a infraestrutura compartilhada e gerar eficiências operacionais, promovendo economias de escala.
As mineradoras de cobre estão ajustando seus portfólios para focar em ativos principais e formando parcerias estratégicas. A venda de uma participação de 10% da Vale em sua divisão de Metais Básicos para a Manara Minerals destaca a mudança da indústria em priorizar projetos centrais de cobre para reinvestimento e crescimento a longo prazo.
A crescente incerteza regulatória e geopolítica está impactando a dinâmica de oferta e demanda e as relações comerciais
a) As mudanças regulatórias da Argentina visam apoiar a produção de cobre
A Argentina está se posicionando como uma importante participante no cenário do cobre por meio de reformas políticas e mudanças globais. O país levantou as restrições de exportação sobre sucata metálica e introduziu o programa Regime de Incentivos a Grandes Investimentos (RIGI), que oferece incentivos como créditos fiscais e redução de tarifas para atrair investimentos, visando um potencial de produção de 1,2 milhões de toneladas de cobre até 2030. O governo também está flexibilizando as regras ambientais para impulsionar o crescimento econômico e o comércio.
b) As recentes mudanças políticas nos EUA e no Canadá estão reformulando o comércio de cobre e as cadeias de suprimento
Nos EUA, o novo governo pretende expandir tarifas e reestruturar cadeias de suprimento essenciais e a produção manufatureira. As tarifas propostas sobre importações chinesas e uma tarifa de 25% sobre as importações de cobre do Canadá e do México podem impactar os fluxos comerciais, os preços e a disponibilidade de metais, potencialmente desencadeando tarifas recíprocas sobre as exportações dos EUA.
Os processos de licenciamento nos EUA, que envolvem várias agências, poderiam ser simplificados ao adotar práticas semelhantes às do Canadá e da Austrália. O novo governo deve decidir sobre a aprovação do projeto Resolution Copper no Arizona, que pode se tornar a maior mina de cobre da América do Norte, com uma produção anual estimada de 0,5 milhões de toneladas.
O Canadá recentemente impôs uma tarifa de 100% sobre veículos elétricos (VE) fabricados na China, com o objetivo de potencialmente aumentar a demanda por cobre de origem nacional, apoiando assim a produção de VE’s. No entanto, essas políticas também apresentam riscos, como flutuações nos preços do cobre e obstáculos a investimentos estrangeiros na mineração.
Próximos passos para as mineradoras conduzirem a transição
As empresas devem focar em iniciativas de ESG para garantir operações sustentáveis
a) Com a previsão de um déficit hídrico de 40% até 2030, as empresas estão liderando esforços em inovação e colaboração para garantir a gestão sustentável da água
A indústria de cobre no Chile está abordando proativamente a questão da escassez de água, uma vez que 93% de suas minas estão em regiões áridas e as fontes de água devem ser reduzidas pela metade até 2060.As empresas estão recorrendo à dessalinização, ao tratamento de águas residuais e a tecnologias de economia de água para diminuir a dependência de água doce. Esforços colaborativos também estão ganhando força, exemplificados pelo acordo de US$ 600 milhões da Antofagasta para terceirizar a infraestrutura hídrica para a expansão da mina Centinela.
Novas políticas estão condicionando os investimentos públicos à gestão responsável da água, exigindo relações transparentes com as comunidades indígenas. Associações indígenas chilenas estão criando uma unidade ambiental composta por hidro geólogos para avaliar e abordar legalmente os impactos da mineração nos recursos hídricos.
b) Os produtores de cobre estão promovendo a diversidade de gênero para impulsionar a excelência operacional e a sustentabilidade
As empresas de metais e minerais estão reconhecendo o valor da inclusão feminina em cargos de liderança e operacionais, associando essa inclusão a ganhos em produtividade, segurança e sustentabilidade. As empresas com mais mulheres em seus conselhos tendem a ter pontuações mais altas em métricas de ESG, reduzir emissões de forma eficaz, investir mais em energias renováveis e priorizar a gestão ambiental.
No entanto, com as mulheres ocupando apenas 11,2% das posições de liderança na indústria de metais e minerais da América Latina, há espaço para melhorias. Estratégias como a resolução de disparidades salariais, arranjos de trabalho flexíveis e incentivo à educação STEM (ciências, tecnologia, engenharia e matemática), como visto na meta da Antofagasta de 30% de participação feminina até 2025, visam reduzir essa lacuna. O próximo passo da indústria de cobre é integrar mulheres em todos os níveis, estabelecendo um padrão de inclusão e progresso.
c) A eletrificação das operações de mineração e as estratégias de redução de emissões dos fornecedores continuam a ser uma área de foco importante para as mineradoras de cobre
A indústria de cobre está adotando a eletrificação e estratégias de redução de emissões focadas nos fornecedores para alinhar-se às metas globais de descarbonização. O uso de diesel em frotas móveis contribui com mais de 90% das emissões de Escopo 1 em minas a céu aberto, o que levou a iniciativas como a implementação da primeira locomotiva movida a hidrogênio da América do Sul pela Antofagasta e a tecnologia de troca de baterias da Rio Tinto para caminhões elétricos na mina Oyu Tolgoi, na Mongólia. Essas inovações reduzem as emissões e melhoram a eficiência operacional.
d) A fiscalização mais criteriosa das práticas de segurança requer que as mineradoras de cobre adotem medidas proativas
A segurança operacional continua a ser um dos principais focos, com lesões e fatalidades relacionadas a correias transportadoras, destacando a necessidade de manutenção e monitoramento preventivos. A adoção de automação e tecnologias digitais está transformando as operações de mineração, aumentando a eficiência e a segurança. Por exemplo, o programa Mine of the Future, da Mopani Copper Mines, está utilizando rastreamento em tempo real e visualização em 3D para melhorar a resposta a emergências e a consciência espacial, a fim de reduzir acidentes no trabalho. Essas iniciativas são investimentos essenciais para reduzir riscos de segurança e otimizar a produtividade em operações de alto risco.
e) A nova versão da Avaliação de Prontidão para Risco do Copper Mark está impulsionando a adoção de práticas de produção responsáveis
O Copper Mark continua a desempenhar um papel fundamental na promoção da sustentabilidade na indústria de cobre, usando seu sistema de garantia para enfatizar práticas de produção responsáveis, medindo e relatando métricas de sustentabilidade e KPIs. Em 2024, os membros do Copper Mark implementaram uma nova versão da Avaliação de Prontidão para Risco, composta por 33 critérios para a produção, aquisição, processamento e reciclagem responsáveis de minerais.