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Os próximos desafios e oportunidades do Open Finance no Brasil

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Relatório OpenTalks 2025 traz dados e recomendações para todo o ecossistema.


A EY está fortemente envolvida com o Open Finance brasileiro desde sua origem, participando da primeira consulta pública, ajudando clientes a implementar o Open Finance, desenhando o primeiro conceito do Open Investment, o primeiro conceito do ITP e apoiando o mercado de seguros com a criação de todos os manuais do Open Insurance. Em 2023, a EY realizou sua primeira pesquisa sobre o Open Finance, ajudando o Banco Mundial a avaliar a maturidade da implementação do ecossistema no país.

Muita coisa mudou nos últimos dois anos e, agora, a EY lança o relatório OpenTalks 2025, pesquisa que contou com a participação de 50 instituições ligadas ao ecossistema. Hoje, o Open Finance brasileiro é referência mundial. Se fosse um país, já teria a 26a maior população do mundo e mais que o dobro da população da Austrália, outro país referência em dados abertos.

Inspirado no Open Banking lançado em 2018 no Reino Unido, o Open Finance brasileiro já é o maior ecossistema regulado de compartilhamento de dados financeiros do mundo, com mais de 55 milhões de usuários conectados em apenas 4 anos de operação, ou seja, quase 4 vezes o volume do Open Banking UK (14,6 mi). Só nos últimos 12 meses, nosso ecossistema cresceu quase 7 vezes mais rápido que o britânico, com 2 milhões de novos usuários ao mês.

Vale ainda destacar que a maior parte das buscas que envolvem o termo “Open Finance” no Google mostra o interesse do público em participar do ecossistema, e quase todas as reclamações sobre o Open Finance no Reclame Aqui demonstram claro conhecimento do propósito do Open Finance.

Esses números refletem uma estratégia regulatória desafiadora, que apostou em um modelo mais amplo e inclusivo que o do Reino Unido, cujo foco inicial era o setor bancário tradicional. O Open Finance brasileiro já nasceu com a missão de integrar uma gama mais diversa de produtos e instituições — incluindo pagamentos, crédito, investimentos, câmbio e outros que ainda estão por vir. Essa abordagem mais abrangente permitiu acelerar o impacto prático do ecossistema e ampliar seu escopo.

Apesar do avanço, quase dois terços dos bancos ainda não percebem retorno significativo, e menos de 15% dos investidores e 3% das empresas utilizam o Open Finance. Também há lacunas de inclusão: cerca de 8 milhões de brasileiros têm contas em bancos e fintechs fora do ecossistema, o que representa 220 milhões de relacionamentos financeiros “invisíveis”.

Casos de uso regulados, como a portabilidade de crédito, devem impulsionar uma fase mais promissora, mas desafios persistem: qualidade e monitoramento de dados, APIs pouco utilizadas (5 das 12 têm menos de 1% do tráfego), e concentração nas APIs de conta e cartão (50% do total). O foco, agora, deve ser gerar valor real para pessoas e instituições, com foco em:

  • Posicionar o Open Finance como ferramenta, não produto;
  • Oferecer compartilhamento de dados de forma clara e útil;
  • Garantir usabilidade e benefícios concretos;
  • Aumentar a adesão de PJs e clientes de alta e altíssima renda.

Ou seja, o ecossistema amadureceu em escala e conectividade, mas ainda precisa avançar em eficiência e valor percebido.

A nova fase: Resolução Conjunta nº 10

A Resolução Conjunta nº 10 do Banco Central, que entrou em vigor em 1º de julho de 2025, torna obrigatória a participação de instituições com mais de 5 milhões de clientes ativos, adicionando 220 milhões de relacionamentos financeiros e impactando cerca de 36 milhões de brasileiros, incluindo grandes bancos digitais.

Essa inclusão vem atender uma demanda reprimida: 29% das buscas no Google por “Open Finance” mencionam bancos ainda fora do ecossistema e 11% das manifestações no Reclame Aqui citam o incômodo pelo banco do reclamante não estar integrado.

Diferente de 2021, quando o Open Finance ainda era novidade, agora os novos participantes precisam chegar preparados, com estratégia e foco no cliente. No entanto, dados mostram que muitos ainda não estão prontos:

  • 57% não viam valor no Open Finance até agora;
  • 71% não têm uma estratégia definida para uso dos dados;
  • 43% veem o Open Finance apenas como exigência regulatória.

Por outro lado, 57% demonstram intenção de gerar valor ao cliente, o que é promissor, e contam com a vantagem de poderem aprender com os erros de quem veio antes.

No fim, o Open Finance só cumprirá seu papel se for percebido como útil, transparente e seguro. Integrar dados exige responsabilidade. Do contrário, o que deveria aproximar pode afastar.

 Além do financeiro: integração entre setores

A composição do Open Finance com ofertas cross-industry é um salto significativo na busca pela principalidade, ou seja, a capacidade de se posicionar como principal parceiro do cliente em tudo o que ele precisar.

Para isso, a integração entre dados que estão dentro e fora do ecossistema do Open Finance precisa ser muito bem-feita para que não prejudique a experiência do cliente e a reputação do ecossistema.

Hoje, quase 22% dos consentimentos vão para empresas não reguladas pelo Banco Central, por meio dos chamados ITPs puros — que não mantêm relação direta com o cliente, mas atuam como intermediárias na transação de dados ou pagamentos. Apesar do alto índice de sucesso nas chamadas de API (acima de 90%), essas empresas enfrentam desafios de integração, como dados desatualizados e dificuldades de compartilhamento.

Segundo análise da EY:

  • 30% das reclamações sobre Open Finance envolvem empresas não reguladas;
  • 32% mencionam dados desatualizados;
  • 20% relatam problemas no compartilhamento;
  • Em 30% dos casos, o cliente se sentiu forçado a compartilhar dados sem necessidade clara.

Essas falhas afetam a experiência do usuário e colocam em risco a confiança no ecossistema. Tanto que 54% dos bancos entrevistados dizem evitar parcerias com empresas não reguladas por receio de impacto negativo na segurança e reputação.

Apesar dos riscos, o potencial de integração entre setores é enorme. Para isso, será necessário:

  • Ampliar a regulação para todos os receptores de dados;
  • Universalizar requisitos de segurança, consentimento e governança;
  • Priorizar a confiança e a experiência do cliente.

No fim, o Open Finance só cumprirá seu papel se for percebido como útil, transparente e seguro. Integrar dados exige responsabilidade. Do contrário, o que deveria aproximar pode afastar.

 

Baixe o relatório completo e veja detalhes e recomendações.

Resumo

O Open Finance brasileiro se consolidou como referência global, com mais de 55 milhões de usuários e um ecossistema regulado robusto. Apesar do avanço, ainda enfrenta desafios de geração de valor, inclusão e engajamento de empresas e investidores. A entrada obrigatória de novos participantes em 2025 deve ampliar o alcance, mas exige preparo estratégico. Parcerias com setores não regulados trazem oportunidades, mas também riscos que demandam regulação e foco na experiência do cliente.

 

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