Quando a guerra entre Rússia e Ucrânia começou, em 2021, o proprietário de uma rede de padarias ligou o sinal de alerta e fez uma projeção do impacto econômico do confronto para a sua cadeia de suprimentos.
Importante polo de produção trigo, a Ucrânia poderia ter o comércio prejudicado a partir dos ataques russos. Tão logo compreendeu o cenário e as ameaças para o seu negócio, o empreendedor começou a pesquisar o uso da fécula de mandioca como alternativa à farinha de trigo.
O objetivo era não apenas aprender a usar o insumo, mas também mapear de onde comprar e quais novos parceiros adotar para a cadeia de suprimentos. Quando o preço do trigo subiu devido ao desencontro entre oferta e demanda, ele já estava preparado e saiu na frente dos rivais.
Este é um bom exemplo do impacto do cenário político na cadeia de valor das empresas. Em um mundo com guerras tarifárias, tensões políticas e incertezas econômicas, o melhor a fazer é avaliar cenários em busca de oportunidades e mitigar riscos.
Se a influência empresarial é limitada em disputas entre nações, por outro lado, todos os movimentos do tabuleiro global afetam a economia e podem representar ganhos que não podem ser desperdiçados.Como sabemos, em mercados hipercompetitivos e com margens apertadas, a vantagem na maratona dos negócios se dá em centímetros, e não em quilômetros.
A volatilidade marca o ano de 2025, estimulada em parte por “tarifaços” e sanções impostas pelo governo de Donald Trump. Sem previsibilidade na condução dos negócios com outros países, as empresas precisam mais do que nunca de instrumentos que permitam agir rápido frente a possíveis rupturas.
Mais importante do que tentar adivinhar os desfechos de eventos geopolíticos, é pressupor os efeitos sobre a empresa de acordo com suas vulnerabilidades e fortalezas. A adoção de indicadores para visualizar possibilidades e gerar respostas rápidas é um ponto de partida adequado, mas dá para ir além.
A nova cadeia de valor é resiliente
Até pouco tempo atrás, a cadeia de suprimentos era linear, previsível e baseada no custo como variável-chave para uma gestão sem sobressaltos. Mas, esta dinâmica está desatualizada para os desafios atuais diante da grande quantidade de variáveis incontroláveis e imprevisíveis.
Empresas que quiserem ser competitivas precisam considerar uma cadeia de valor resiliente e ampla com redundância e alternativas de produção. Há uma mudança de paradigma em curso, que sai de um ecossistema centralizado e vai para outro disperso e complexo, no qual os atores podem interagir entre si com fluidez.
Sendo assim, a nova cadeia de valor considera alternativas de resiliência e confiabilidade e prevê uma menor dependência de fornecedores pontuais, países ou regiões específicas. A vantagem a partir de agora estará na capacidade de reagir rápido mesmo com tantas incertezas no radar.
Exemplos da nova cadeia de valor
Imagine que uma indústria chinesa queira abrir uma planta de produção na América Central para atender aos Estados Unidos. Ainda que a primeira opção seja o México, a decisão teria que ser repensada a partir da imposição de tarifas contra aquele país pelo governo Trump.
O que seria uma decisão de longo prazo passa a considerar variáveis de curto prazo que podem ser aleatórias. Este é um exemplo de como os exercícios tradicionais da cadeia de suprimentos, como os cálculos de custos de centros de distribuição, origem e destino de mercadorias se tornam mais complexos e passam a coexistir com fatores de última hora.
Outro exemplo retrata um negócio cujo produto depende de insumos-chave vindos de apenas três regiões do mundo. Com estoque para três meses de operação, determinada empresa foi surpreendida com o atraso na distribuição causado por um tsunami no Japão.
Sabendo desta vulnerabilidade, a indústria ajustou sua estratégia de resiliência para absorver eventuais perdas dentro do período trimestral, sem exageros, mas também sem correr riscos desnecessários, promovendo uma reinvenção da cadeia de suprimentos.
Tecnologia contra surpresas de curto prazo
Diante da guerra tarifária em curso, a projeção de demanda das empresas pode cair repentinamente com a imposição repentina de impostos. Com isso, o planejamento de operações precisa se preparar para reduzir os impactos tanto na cadeia de valor quanto nos resultados financeiros.
No mundo acelerado em que vivemos, é inviável esperar três meses para tomar decisões de variação de demanda no curtíssimo prazo. Para não perder o passo, as soluções SAP, implementadas em parceria com a EY, habilitam a tomada de decisão rápida e precisa.
Ao incluir uma recente taxação de impostos em determinada operação, por exemplo, o dashboard calcula automaticamente o impacto daquela nova variável na operação em cenários variados: 10%, 25% ou 50% de tarifas.
Além de demonstrar o efeito das taxas na capacidade produtiva em tempo real, a tecnologia traça possíveis planos de ação para estancar perdas. Algumas soluções apresentadas seriam a revisão de investimentos na ampliação da capacidade produtiva, a redução da força de trabalho ou a adoção de férias coletivas.
IA para acertar na decisão
Felizmente, a adoção da inteligência artificial está em ritmo acelerado e permite a otimização de processos. Em parceria com a SAP, o assistente digital Joule, que atua como um agente com IA embarcada, é capaz de resolver uma série de problemas operacionais mais rápido e com mais precisão do que humanos.
Ao detectar um evento de risco que pode prejudicar a operação de um fornecedor, como um alagamento, o Joule emite a notificação de alerta, busca alternativas na região, faz cotações, indica o melhor negócio e até cria o pedido de compra.
O assistente digital da SAP pode ser utilizado também para facilitar o recebimento de carga. Basta que a pessoa encarregada da expedição tire uma foto dos documentos na portaria para que a IA “leia” as informações, faça as checagens em segundos e libere a operação.
Atuando como um copiloto no trabalho, o Joule pode ainda contribuir com o plano de vendas. Ao interpretar todos os dados ao redor, o agente de IA sugere a melhor rota, cria o plano de empilhamento de veículos pesados e inicia a entrega para o consumidor final. Trata-se da aplicação da IA fazendo a diferença no dia a dia do negócio.