O que devemos esperar no futuro como evolução do reporte de sustentabilidade em instituições financeiras?
À medida que o setor financeiro aprofunda o entendimento e a integração de temas cruciais de sustentabilidade no negócio, as instituições financeiras veem-se à beira de uma transformação significativa em seus reportes de sustentabilidade. Os novos padrões do International Sustainability Standards Board (ISSB) - IFRS S1 e S2, os possíveis aprimoramentos na regulação nacional, como sugerem as consultas públicas do Banco Central do Brasil (BACEN) e da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), o trabalho em andamento sobre uma taxonomia sustentável brasileiro, os progressos da TNFD, entre outros fatores são forças que impulsionam um avanço relevante das práticas de sustentabilidade e que certamente exigirão a preparação das instituições para uma era de maior transparência e efetividade da comunicação de sustentabilidade.
Com a adoção obrigatória dos padrões do ISSB em companhias abertas no Brasil a partir de 2026 (afetando diretamente algumas IFs brasileiras), espera-se o espelhamento de tendências que se reflitam amplamente no mercado nacional, promovendo o alinhamento dos relatórios de sustentabilidade do setor com práticas internacionais, gerando maior comparabilidade e transparência, especialmente no que se refere à divulgação de impactos financeiros de sustentabilidade. Os padrões IFRS S1 e S2 focam na divulgação de informações sobre como questões de sustentabilidade afetam o desempenho financeiro das empresas. Isso significa que as instituições financeiras terão que reportar não apenas seus impactos sociais, ambientais e climáticos, mas também como esses impactos influenciam seus resultados e geração de valor.
Do ponto de vista da regulação, o setor bancário pode vir a ser impactado por maiores exigências em relação ao seu reporte no gerenciamento de riscos e oportunidades socioambientais (GRSAC). A consulta pública promovida pelo BACEN[1] pode resultar em aprimoramentos normativos em 2025, trazendo desafios importantes para o setor. Entre diversos aspectos, a consulta discute a possibilidade de incorporar diversas métricas qualitativas e quantitativas para risco climático (incluindo emissões financiadas e planos de transição), bem como adotar o padrão ISSB de forma obrigatória para o setor. Já a SUSEP[2] colocou em consulta pública a possibilidade de vir a estabelecer parâmetros para que produtos de seguro e de previdência complementar aberta possam ser considerados sustentáveis, contribuindo para uma padronização do mercado na classificação dos produtos, de forma a aumentar a transparência sobre os impactos do setor, bem como contribuir para direcionar a alocação de recursos do setor, de forma a alavancar o desenvolvimento econômico e social, sob o conceito de seguros sustentáveis, no âmbito da discussão sobre uma taxonomia sustentável nacional.
A taxonomia sustentável brasileira[3], iniciativa do Ministério da Fazenda, está em processo de desenvolvimento, devendo ser publicada até o final de 2024 e tornada obrigatória a partir de 2026, podendo se tornar referência para definição de setores e atividades econômicas sustentáveis no Brasil, o que tem potencial para influenciar métricas cruciais para o setor financeiro, como fatores ESG nas decisões de negócio e finanças sustentáveis, o que certamente será refletido nos relatórios de sustentabilidade.
A emergência da Taskforce on Nature-related Financial Disclosures (TNFD)[4], como uma iniciativa global que visa fornecer um framework para que as empresas e instituições financeiras possam reportar e agir sobre impactos e riscos relacionados à natureza em suas atividades, é um tema que pode impactar as práticas de negócios e influenciar os reportes de sustentabilidade. No Brasil, o processo de implementação da TNFD ainda está em estágios iniciais, com poucas instituições signatárias, entre elas duas instituições financeiras. No entanto, outras instituições financeiras brasileiras estão participando de fases piloto da TNFD, buscando entender melhor como integrar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos em suas análises de risco e tomada de decisão. As regulações de BACEN, SUSEP e CVM ainda não preveem a integração dos riscos de natureza à estrutura de gerenciamente de riscos das instituições, mas podem fazê-lo no futuro próximo, a exemplo do NGFS, que divulgou recentemente framework sobre o tema, delineando caminhos para supervisão bancária e integração desse tema nas instituições.
À despeito da relevância dos temas ambientais e climáticos, e da percepção de que estes temas têm obtido maior destaque nos reportes – tendência que inclusive pode aumentar, considerando os desdobramentos acima apresentados – as IFs serão desafiadas a desenvolver indicadores mais claros e relatórios mais detalhados sobre temas ligados ao pilar do Consumidor, como confiança e saúde financeira dos consumidores, integrando-os mais profundamente em suas estratégias de comunicação de sustentabilidade, sob risco de desequilíbrio entre os principais temas de reporte para geração de valor a longo prazo, com prejuízos para transparência e percepção da criação de valor junto aos stakeholders em um tema tão caro ao core business das instituições.
A expectativa é que essa pesquisa possa ser de grande valor para as instituições financeiras, investidores, reguladores e outras partes interessadas que buscam entender melhor como as práticas de sustentabilidade estão sendo integradas nas estratégias de negócios e comunicação de sustentabilidade nas IFs brasileiras, de modo que o setor financeiro brasileiro possa fortalecer suas alavancas para geração de valor e contribuir para o desenvolvimento sustentável.