Artigo: Brasil pode liderar transição para cadeias de suprimentos resilientes e sustentáveis

27 mar 2025

Por Thaís Fontanello, gerente sênior da EY e especialista em sustentabilidade e cadeias resilientes

As cadeias de suprimentos são mais do que uma engrenagem operacional: elas conectam empresas, consumidores e comunidades. No cenário atual, marcado por crises climáticas, pressões regulatórias e expectativas crescentes da sociedade, sua transformação não é apenas desejável, mas indispensável. Resiliência e sustentabilidade deixaram de ser diferenciais para se tornarem pré-requisitos estratégicos.

Durante a COP29, em Baku, o debate sobre financiamento climático e regulamentação global do mercado de carbono reforçou a interdependência entre inovação operacional e práticas ESG. No Brasil, a evolução do ambiente jurídico, exemplificada pela norma CVM 193 — que exige a integração de relatórios de sustentabilidade aos financeiros e foi baseada nas normas S1 e S2 da Fundação IFRS — e pela aprovação da lei de número 15.042 que cria um mercado regulado de carbono no Brasil, é uma oportunidade para liderar essas mudanças.

Além das mudanças climáticas, a natureza também ganhou relevância nos negócios quando o Marco Global da Biodiversidade de 2022 estabeleceu critérios para deter e reverter a perda de biodiversidade até 2030. Na COP16 em Cali, muito se discutiu sobre a dependência das operações empresariais com relação à biodiversidade, o que evidenciou a necessidade de iniciativas que integrem a natureza à estratégia dos negócios, como o EY Nature Hub.

Transformar cadeias de suprimentos em sistemas resilientes requer um repensar profundo — tanto nos processos internos quanto nas relações com fornecedores e comunidades. Tecnologias como blockchain e IoT estão revolucionando a rastreabilidade, permitindo monitorar insumos e validar práticas sustentáveis. Em um caso recente, desenvolvemos critérios ESG para homologação de fornecedores, transformando o processo de compras em um motor de impacto positivo. Essa iniciativa conectou pequenos e médios fornecedores a cadeias complexas, promovendo diversidade e impulsionando melhorias nas comunidades onde atuam.

Resiliência, no entanto, vai além da tecnologia ou eficiência. O sucesso na adaptabilidade em momentos de crise exige conhecimento dos possíveis cenários de acontecimentos e uma governança robusta que permita tomadas de decisão ágeis e informadas. Para atingir esse nível de maturidade de incorporação de aspectos ESG às práticas diárias, é necessário começar com um aspecto crucial e frequentemente negligenciado, o letramento interno. Empresas precisam investir na formação de seus colaboradores, e grupos de afinidade e trilhas de aprendizado, como os promovidos pela EY em parceria com a Universidade HULT, são exemplos de como criar lideranças alinhadas às demandas globais.

Outro exemplo de como organizações podem engajar colaboradores em projetos que combinam impacto social e práticas sustentáveis é o EY Ripples, que financia horas dos profissionais para iniciativas como o treinamento de mulheres em comunidades vulneráveis e projetos de apoio a pesquisas científicas em universidades, mostrando que incentivar o interesse das pessoas pela sustentabilidade gera engajamento e resultados concretos para as empresas. Porém, implementar essas transformações exige superar barreiras significativas. A fragmentação interna entre as áreas corporativas com o tema da sustentabilidade, com métricas e prioridades desconectadas, é um desafio recorrente. Harmonizar essas abordagens é essencial para criar processos escaláveis e confiáveis, que atendam às regulamentações e, mais importante, gerem transformações significativas nos negócios e construam valor, credibilidade e transparência junto aos stakeholders.

Países do sul global, cujas economias historicamente dependem da exploração de recursos naturais, enfrentam o desafio de implementar tecnologias mais limpas e de financiar inovações de adaptabilidade em suas operações. Para a COP30, as expectativas são altas, com foco na integração da bioeconomia e biodiversidade às discussões climáticas. O Brasil tem a chance de se posicionar como protagonista, valorizando os diversos ativos disponíveis e liderando a transição para cadeias de suprimentos resilientes e sustentáveis em escala global. Essa é a direção do futuro, e o momento de agir é agora.

*Leia outros artigos no e-book “Um olhar para o futuro: Práticas ESG redefinem estratégias em um cenário de economia verde”.

Termos de Uso

O material publicado pela Agência EY pode ser reproduzido de maneira gratuita desde que sejam colocados os créditos para a Agência EY e respeitados os termos de uso. Mais informações pelo e-mail ey@fsb.com.br.