Artigo: A revolução da IA na infraestrutura brasileira

14 mar 2025

Por Paulo Uebel, sócio de consultoria para governo e infraestrutura da EY Brasil

A inteligência artificial (IA) tem potencial para transformar o setor de infraestrutura, mas a adoção efetiva depende de aumento significativo no investimento e de mudança de mentalidade. A infraestrutura é crucial para o avanço dos países, mas o setor enfrenta desafios crescentes, como mudanças climáticas, expansão urbana, incertezas econômicas, escassez de mão de obra e interrupções na cadeia de suprimentos. Para mitigar esses problemas, são necessários investimentos massivos estimados em US$ 139 trilhões para alcançar o chamado net zero até 2050 e US$ 94 trilhões até 2040 para fechar lacunas existentes.

Para isso, a IA pode acelerar a entrega de projetos de forma mais econômica e sustentável. No momento, a adoção da IA no setor de infraestrutura ainda é lenta e limitada. As iniciativas existentes, embora promissoras, não conseguem promover uma transformação significativa. As empresas estão investindo de forma conservadora, com a maioria destinando, no máximo, 1% da receita para IA. Esse valor não é suficiente para termos mudanças estruturais.

Os principais impulsionadores da adoção da IA são startups e investimentos de capital de risco. Em 2022, o financiamento para startups de IA no ambiente de construção (built environment) superou o financiado para soluções fintech em termos de número de negócios. As tecnologias mais comuns incluem aprendizado de máquina (ML), visão computacional (CV) e processamento de linguagem natural (NLP). Contudo, essas tecnologias são focadas principalmente nas fases iniciais dos projetos, especialmente no design, nos quais a IA melhora a eficiência e precisão.

Entretanto, para uma mudança real, é necessário um investimento robusto e uma nova mentalidade. A adoção da inteligência artificial em todo o ciclo de vida dos ativos pode transformar a abordagem linear tradicional da infraestrutura em um modelo mais colaborativo e flexível. As tecnologias de IA são capazes de processar vastos conjuntos de dados, identificar padrões ocultos, prever problemas e otimizar recursos ao longo de todas as fases do projeto, promovendo uma melhor tomada de decisão e resultados mais sustentáveis.

Cinco princípios foram delineados para ajudar nessa adoção:

- Determinar o propósito: aumentar a certeza de que a infraestrutura atenderá ao seu propósito antes dos compromissos financeiros, priorizando as necessidades dos usuários finais e dos benefícios sociais.

- Planejar para a entrega de ponta a ponta: melhorar a qualidade e confiabilidade do planejamento e preparo dos projetos, integrando as tecnologias de IA desde o planejamento inicial até a operação e manutenção.

- Confirmar o modelo operacional: estabelecer governança e arranjos contratuais que apoiem os objetivos mais amplos e promovam flexibilidade.

- Integrar formas de trabalhar: assegurar que os sistemas e equipes corretos estejam em vigor para operar de maneira eficiente, capacitando a força de trabalho e promovendo parcerias educacionais.

- Operar ativos responsivos: garantir que as considerações operacionais estejam no centro das decisões durante todas as fases do projeto para otimizar o desempenho dos ativos e a manutenção.

Modelos de negócios como plataformas integradas, monetização de dados e incentivos contratuais são exemplos de oportunidades trazidas pela IA. Para sua implementação, os profissionais da indústria precisam adaptar sua mentalidade, realizar capacitação e adotar ferramentas, cultivando um ambiente aberto e colaborativo, seja para desenvolver habilidades específicas, seja para implementar instrumentos adequados.

No Brasil, os investimentos em infraestrutura atingiram cerca de R$ 197 bilhões em 2024, valor inferior ao inicialmente previsto. Apesar desse dado, os aportes representaram apenas 2,2% do PIB, abaixo dos 4,3% estimados como necessários. E as projeções para 2025 chegam a R$ 250 bilhões. Setores como logística, transporte, telecomunicações, energia e saneamento básico foram os que mais receberam investimentos. As aplicações da IA em cada uma dessas frentes podem gerar resultados substanciais.

Além disso, o setor de saneamento básico, por exemplo, lidera as intenções de investimento para os próximos três anos, seguido por energia elétrica e rodovias, segundo a edição mais recente do Barômetro da Infraestrutura, estudo feito pela EY junto com a ABDIB. E a previsão é que tenham mais de 20 leilões de saneamento, que podem gerar R$ 72 bilhões em novos investimentos, incluindo recursos para o uso de tecnologia, inovação e, consequentemente, inteligência artificial.

Dessa forma, a adoção da IA e a colaboração em todo o ecossistema podem ajudar a enfrentar os desafios imensos que o Brasil ainda possui, acelerando esses investimentos e melhorando as taxas de retorno. Essa transformação pode inaugurar uma nova era de inovação e eficiência no desenvolvimento e gestão da infraestrutura, garantindo que continue sendo a espinha dorsal da sociedade e apoiando a vida das pessoas em um mundo cada vez mais complexo. O Brasil, com suas particularidades e desafios, pode se beneficiar enormemente dessas lições, promovendo um futuro mais sustentável e eficiente para sua infraestrutura.

*Esta é uma versão adaptada do artigo publicado inicialmente na Época Negócios.

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