A reforma tributária do consumo, que começa a ser implementada gradualmente a partir do próximo ano, trará grandes impactos para as empresas em demanda/preço; custo/fornecedores; e caixa/capital de giro. “Como são transformações muito relevantes, essa reforma deve ser considerada de negócio, e não somente da área tributária, com a necessidade de uma reavaliação profunda de diversos aspectos ligados à operação e à estratégia de mercado”, diz Lucianna Costa, conselheira fiscal da Itaúsa e ex-CFO da Diageo, que participou do "CFO Fórum: O Impacto da Reforma Tributária na Agenda de Estratégia, Supply Chain e Finanças", realizado pela EY no seu escritório em São Paulo. “No estudo que fizemos, a estimativa é que 53% dos processos das áreas de marketing, trade, RGM, sales e customer service sejam impactados de forma significativa pela reforma tributária, devendo, portanto, ser repensados pelas empresas para garantir competitividade e rentabilidade”, completa Natália Sperati, sócia de consumer products e business transformation da EY-Parthenon, que também esteve no evento.
Ainda segundo Lucianna, como parte do impacto que será gerado na demanda/preço, as empresas precisarão entender onde realmente está seu consumidor. “Com a tributação passando a ser no destino e com as alíquotas de IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) variando por estado, a prática de otimizar rotas para obter benefícios fiscais se torna obsoleta. Nesse contexto, o que passa a importar para a empresa, a fim de precificar da melhor forma, é onde está seu consumidor, motivo pelo qual é recomendada uma análise detalhada da demanda”, observa. “Essa, aliás, é uma oportunidade de explorar novos mercados consumidores em regiões onde a empresa não atua e que contarão com alíquotas de IBS menores”, pontua.
Na avaliação de Elcio Ito, CFO do Grupo Casas Bahia, que também palestrou no encontro, um dos principais pontos positivos da reforma é justamente esse de objetivar uma operação simples e direta para entregar os produtos, sem interferência do incentivo fiscal como fator de escolha. “Isso é especialmente relevante em uma operação como a nossa, que é formada por mais de mil lojas e 25 centros de distribuição. Haverá um rearranjo concorrencial no mercado, principalmente no varejo de eletroeletrônico”, diz.
Avaliação criteriosa dos fornecedores
Já em relação ao impacto no custo/fornecedores, o novo modelo, de acordo com Lucianna, exige redesenho ou revisão da malha logística para otimização de custos e ganho de competitividade, que não leva mais em consideração os benefícios fiscais para escolher o local da fábrica ou do centro de distribuição, já que serão extintos. “Além disso, será imprescindível a avaliação criteriosa dos fornecedores. O motivo para isso é que, com a reforma tributária, as empresas só poderão se beneficiar do crédito tributário quando o imposto for efetivamente pago na cadeia. Caso o fornecedor não pague, a empresa não poderá se creditar a não ser que ela mesma arque com o débito”, destaca. É por isso, ainda segundo a executiva, que fornecedores com boa reputação fiscal vão ganhar relevância competitiva. “Há até mesmo exigência de monitoramento do fornecedor por cinco anos, pois, no caso de ele se tornar inadimplente, a empresa terá seu crédito glosado”, ressalta.
O impacto no caixa/capital de giro está ligado à avaliação dos fornecedores, já que o negócio só vai poder usar o crédito a partir do momento que for efetivamente pago. Se o fornecedor não pagar ou demorar para pagar, a empresa ficará desfalcada dessa fonte de caixa. “A seleção de fornecedores deve ser reavaliada para priorizar parceiros que permitam a constituição integral dos créditos, ainda que a empresa precise pagar um pouco mais pelo serviço contratado ou produto adquirido”, explica.
Para Alexandre Sandoval, diretor financeiro LATAM da Novo Nordisk, que também palestrou no CFO Fórum, a necessidade de analisar como está sendo o pagamento do tributo em toda a cadeia traz complexidade. “O México tem um modelo parecido que funciona bem há muitos anos. Para tomar crédito do IVA deles, é preciso verificar se o imposto foi efetivamente pago na cadeia, o que passa por contar com uma governança com quem a empresa está trabalhando, sabendo ao certo quem são seus fornecedores e seu comportamento tributário”, afirma.
Por fim, Waine Peron, sócio-líder de impostos da EY Brasil, ressalta que o governo está com o pé no acelerador em relação à reforma tributária, não havendo qualquer expectativa de postergação da sua entrada em vigor. “As empresas já deveriam ter começado a conformidade com a reforma, avaliando todos esses aspectos de negócio comentados. Perguntas como se continuará fazendo sentido importar por Itajaí ou pelo corredor de importação de Minas Gerais devem ser feitas desde agora”, finaliza.