A ascensão das mulheres nas empresas a posições de liderança, incluindo as do Conselho de Administração, depende do envolvimento dos homens, que precisam se engajar nessa questão, agindo como aliados de seus pares femininos. Essa é a conclusão do estudo “Além dos números: os caminhos para acelerar a diversidade de gênero nos Conselhos de Administração do Brasil”, produzido pela EY-Parthenon, em parceria com o EY Professional Women’s Network (PWN) e o EY Center for Board Matters. A pesquisa, que entrevistou 25 conselheiros, headhunters e investidores de instituições relevantes, identificou os cinco principais stakeholders que podem contribuir para o crescimento da participação feminina em Conselhos: líderes empresariais; organizações de governança e networking; governo e órgãos reguladores; investidores; e membros de conselho.
“Apesar das evidências de que a diversidade gera melhores resultados financeiros para as empresas, o estudo revela que o ritmo de inclusão das mulheres nos Conselhos permanece aquém do esperado no país”, diz Julia Forte, diretora-executiva da EY-Parthenon. “Um Conselho de Administração diverso representa vantagem competitiva que se traduz em inovação, que é uma condição indispensável para se destacar no mercado", completa. Ela observa ainda que a diversidade no Conselho não apenas fortalece a capacidade de tomada de decisão, mas também melhora a conexão com os desafios do negócio, o mercado consumidor e de trabalho, além de favorecer uma abordagem mais eficaz em questões éticas e de resolução de conflitos.
Roberta Tedesco, sócia da EY-Parthenon, alerta que esse desafio da inclusão demanda uma revisão da cultura organizacional. "Vencer as barreiras de entrada e permanência em Conselhos requer um esforço coletivo, contínuo e planejado, especialmente por parte dos cinco stakeholders apontados pelo estudo”, explica. Para ela, é fundamental promover uma mudança estrutural não apenas nos Conselhos, mas em todo o ambiente corporativo, permitindo que mulheres ascendam a posições de liderança, desde gerências até alta governança. “Isso só vai ocorrer, conforme aponta a pesquisa, se as mulheres contarem com os homens como aliados”, diz.
A representatividade das mulheres em Conselhos de empresas do Índice Bovespa aumentou entre 2021 e 2024, saindo de 15,2% para 19,8%. No entanto, está ainda distante dos líderes globais, como a França, cuja participação feminina nessas cadeiras é de 45,5%. No ano passado, as companhias de capital aberto no Brasil evoluíram na adoção das práticas relacionadas ao Conselho de Administração. Entre os avanços está a preocupação com a aprovação de uma política de indicação de membros do Conselho, tendo em vista, entre outros fatores, o quesito de diversidade. Esse resultado consta no estudo recente da EY em parceria com o IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) e com o Tozzini Freire, que mensura o nível de aderência das companhias de capital aberto às boas práticas de governança corporativa.
O papel de cada stakeholder
Os cinco stakeholders apontados pela pesquisa da EY-Parthenon precisam trabalhar conjuntamente em suas esferas de atuação.
Os líderes empresariais devem atuar como edificadores da cultura de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I). “As estratégias sugeridas pelo estudo incluem a revisão de políticas de maternidade e paternidade, garantia de equidade salarial e criação de oportunidades de networking. Além disso, é crucial implementar sistemas de monitoramento e relatórios para avaliar o progresso das metas”, diz Tedesco.
Já os investidores e acionistas, por terem alto poder de influência, devem exigir transparência e metas claras de diversidade como pré-requisitos para a realização do investimento, exercendo a função de patrocinadores da transformação. Órgãos reguladores e governo podem atuar como catalisadores por meio de normas regulatórias temporárias para superar barreiras históricas. A recomendação da pesquisa inclui analisar legislações de outros países e estabelecer metas claras fundamentadas em DE&I. Organizações de governança, como o IBGC, têm o papel de dar visibilidade a talentos femininos, premiar boas práticas e evidenciar Conselhos que necessitam de maior comprometimento em diversidade, equidade e inclusão.
Por fim, em relação aos membros do Conselho de Administração, considerando um ambiente predominantemente masculino, há necessidade, como já mencionado, de participação ativa dos homens no combate a microagressões e na valorização das opiniões das conselheiras, possibilitando assim um ambiente de confiança e segurança.