Pessoas reunidas numa mesa

Startups: sobre avaliações e outras questões relevantes

Tópicos relacionados

Coautores: Juan Warley, Gerente, e Alvaro Soares, Consultor Sênior, da área de Strategy and Transactions.


Informação, tempo e dinheiro são recursos essenciais no ecossistema empreendedor. Seus benefícios para a economia são evidentes, tanto de forma direta (com a criação de soluções, produtos e empregos) quanto indireta (inspirando novos empreendedores a dar o salto para o próprio negócio).

Nesse cenário, os empreendedores fazem a diferença. Eles não apenas têm ideias inovadoras, mas se dedicam à execução, transformando-as em realidade. Com visão estratégica e trabalho árduo, contribuem para o desenvolvimento intelectual, cultural e econômico, impulsionando mudanças positivas por meio de novos serviços, produtos e soluções.

Há um consenso de que o empreendedorismo é uma das principais alavancas do crescimento econômico. Porém, para que esse setor se sustente no longo prazo, é essencial a existência de capital disposto a assumir riscos.

No Brasil, o ecossistema de startups é caracterizado por um alto grau de inovação e, nos últimos anos, tem se fortalecido com a entrada de novos atores que oferecem suporte. Atualmente, grande parte dos projetos em busca de investidores está no setor de tecnologia, mas seu impacto se estende a áreas como saúde, finanças e agronegócio.

Captação de investimentos e estágios das startups

O processo de captação de recursos segue diferentes etapas. Inicialmente, os empreendedores costumam recorrer ao próprio capital ou ao apoio de familiares e amigos. Em fases posteriores, tanto o setor privado quanto, em alguns casos, o público, oferecem suporte financeiro e outros recursos essenciais, como mentorias, capacitação, networking e assistência técnica.

Esse suporte é viabilizado por diferentes atores do ecossistema, como universidades, incubadoras, aceleradoras, redes de investidores-anjo, fundos de venture capital, ONGs e grandes empresas.

Para que o crescimento de uma startup ocorra de maneira sustentável, é fundamental que os empreendedores saibam criar e proteger o valor de seu negócio. Isso exige uma avaliação periódica, seja para fins transacionais (como uma rodada de investimentos) ou para uso interno.

O papel do valuation no crescimento das startups

Entender o valor do próprio negócio traz diversas vantagens. Para os empreendedores, permite avaliar se estão realmente gerando valor e identificar oportunidades e riscos. Já para os investidores, auxilia na análise dos retornos esperados e no monitoramento do valor de mercado do portfólio.

Em rodadas de financiamento, a avaliação do negócio deve ser mutuamente aceita tanto pelos fundadores quanto pelos investidores. Esse processo envolve um estudo detalhado das fontes de criação e destruição de valor. Muitas vezes, por meio desse processo de análise e reflexão, os empreendedores descobrem oportunidades estratégicas antes não consideradas ou identificam decisões operacionais que podem estar comprometendo o crescimento da empresa.

A avaliação de uma startup não é apenas uma questão numérica — é um instrumento para direcionar o crescimento e maximizar o potencial do negócio.

Fatores que influenciam a avaliação e exemplos de sucesso

O valuation de uma startup depende de fatores internos e externos que podem impactar sua percepção de valor. Um exemplo emblemático é o iFood, que se tornou um unicórnio em 2018 após sete rodadas de captação, totalizando mais de US$ 2,1 bilhões. Seu sucesso foi impulsionado por fatores como pioneirismo no setor, capacidade de execução e a ascensão do mercado de delivery.

Outro caso relevante é o Nubank. A fintech soube explorar uma lacuna no setor bancário, atendendo um público sub-servido e utilizando tecnologia para reduzir custos e engajar clientes. Essa estratégia o tornou o banco mais valioso da América Latina.

Empresas como Airbnb, Uber e SpaceX também são exemplos de startups que conseguiram transformar ideias inovadoras em negócios de alto valor.

Métodos de avaliação e escolha do modelo ideal

O termo valuation engloba diferentes metodologias para estimar o valor de uma empresa. A escolha do método mais adequado depende de fatores como mercado de atuação, estágio de crescimento e disponibilidade de dados financeiros.

Os principais métodos incluem:

  • Fluxo de Caixa Descontado (FCD) – Estima o valor do negócio com base nos fluxos de caixa futuros, trazidos a valor presente.
  • Múltiplos de Mercado – Compara a startup a empresas similares, utilizando indicadores como receita, EBITDA e número de clientes.
  • Método do Investidor (VC Method) – Projetado para startups, foca na expectativa de retorno do investidor e na taxa de desconto.

A escolha do método ideal leva em conta a maturidade da empresa, a qualidade das informações financeiras disponíveis e a dinâmica do mercado.

Além disso, o valor de mercado de uma startup nem sempre reflete o preço real de uma transação. O conceito de valor Pre-Money e Post-Money também é crucial: o primeiro se refere ao valuation antes da captação de novos investimentos, enquanto o segundo reflete o valor após a injeção de capital.

Devido ao estágio inicial de muitas startups, algumas delas ainda não geram receita, tornando desafiadora a aplicação de métodos tradicionais de valuation. Contudo, diversas empresas conseguem estruturar planos de negócios robustos o suficiente para atrair investidores, demonstrando o potencial de crescimento e retorno do investimento.

Impacto da tecnologia no valuation e tendências do mercado

A tecnologia desempenha um papel cada vez mais relevante na avaliação das startups. Mudanças estruturais, como a ascensão da inteligência artificial (IA), têm redefinido modelos de negócios e estratégias de mercado.

Um exemplo é a NVIDIA, cujas ações valorizaram mais de 2.000% nos últimos cinco anos devido à sua posição estratégica no fornecimento de tecnologia para IA. Já a DeepSeek surge como uma alternativa mais acessível para o desenvolvimento de modelos de linguagem, impactando gigantes como OpenAI e Google.

Diante desse cenário dinâmico, as startups precisam avaliar constantemente como a tecnologia influencia seu mercado e seu modelo de negócio.

Negociação entre empreendedores e investidores

Durante o processo de captação, a comunicação entre empreendedores e investidores deve ser clara e estratégica. É essencial demonstrar:

  • As capacidades da startup e sua proposta de valor;
  • A necessidade e o destino do investimento solicitado;
  • Os possíveis cenários futuros e seus impactos financeiros.

Além disso, os empreendedores devem estar atentos aos aspectos contratuais envolvidos nas transações, como cláusulas antidiluição, opções de ações e instrumentos de dívida conversíveis.

A entrada de investidores é um evento transformador para qualquer startup. O capital captado pode impulsionar novos produtos, mercados e melhorias operacionais, exigindo que os fundadores estejam preparados para liderar essas mudanças e gerar valor para todas as partes envolvidas.

Por fim, a gestão do valor de uma startup não deve ocorrer apenas no momento de uma negociação, mas de forma contínua. Cada etapa do crescimento e acesso ao capital deve estar alinhada à criação e proteção do valor do negócio, sempre considerando os riscos e retornos esperados.

Resumo

O valuation de startups atrai investidores e impulsiona o crescimento. Métodos como Fluxo de Caixa Descontado e Múltiplos de Mercado estimam o valor. A gestão desse valor deve ser contínua, alinhando crescimento e acesso a capital. Investidores avaliam riscos e retornos, e a tecnologia tem papel crescente.