Carta Aberta: Mulheres e Meninas na Ciência

O Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado em 11 de fevereiro, foi proclamado em 2015 pela Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU). É um compromisso para que a igualdade de gênero se torne uma realidade nas chamadas áreas STEM (Science, Tecnhnology, Engineering and Mathematics, em inglês), a partir da cooperação e investimento de governos, ONGs, setor privado, universidades e escolas.

Tanto a educação quanto a igualdade de gênero são partes integrantes da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, aprovada também em 2015 pela Assembleia da ONU. As ciências, a tecnologia e a inovação são fundamentais para que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) sejam alcançados, ao apontar as soluções para o impacto da mudança climática, a forma como aumentamos a segurança alimentar, protegemos a biodiversidade, entre outros. Em um dos momentos mais difíceis da história, com a pandemia da Covid-19 e suas graves consequências, tanto sanitárias quanto econômicas e políticas, é o conhecimento nessas áreas que nos traz a vacina, beneficiando toda a humanidade.

Os obstáculos que impedem uma participação mais efetiva das mulheres nesse contexto vão além do estereótipo. A falta de apoio no âmbito escolar, familiar e social frequentemente desencoraja brincadeiras infantis ligadas às ciências e à matemática, influenciando a tomada de decisão sobre qual área de aprendizagem será a escolhida. Mesmo sendo maioria em escolas e universidades, no Brasil, as mulheres abandonam as disciplinas de STEM em quantidades desproporcionais durante seus estudos, em sua transição para o mundo do trabalho e até mesmo durante a carreira profissional.

Houve progresso significativo nas últimas décadas a partir de uma maior conscientização sobre esse cenário, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Em todo o mundo, as mulheres representam apenas 35% de todos os estudantes matriculados nos campos de estudo relacionados às áreas STEM na educação superior. Também são observadas diferenças por disciplinas, com as matrículas de mulheres sendo mais baixas nos campos de engenharia, produção industrial e construção, ciências naturais, matemática, estatística e tecnologia. No Brasil, estima-se que a proporção de mulheres em carreiras de exatas está estagnada em 30%. As disparidades se acentuam quando elas deixam a sala de aula. Hoje, apenas 28% dos pesquisadores de todo o mundo são mulheres e apenas 17 mulheres receberam o Prêmio Nobel em física, química ou medicina desde Marie Curie, em 1903, em comparação a 572 homens.

Para que essa realidade seja transformada, é necessária a construção de pilares que envolvam estimular o interesse, o envolvimento e a dedicação de meninas e mulheres pelas áreas STEM. Ao se sentirem parte integrante desse mundo, é com naturalidade que a troca de experiências, a autoconfiança e o sentimento de pertencimento conseguirão manter a curiosidade intelectual em ambientes majoritariamente masculinos.

Com ações integradas entre os atores envolvidos no sistema educacional, no mercado de trabalho e na própria formulação de políticas sobre o tema, a igualdade de gênero pode ser acelerada. Há recomendações nesse sentido:

  • iniciar cedo o desenvolvimento da carreira em STEM, na escola primária, antes que as meninas percam o interesse e deixem de se envolver;
  • colaborar com as pessoas que exercem influência nas decisões das meninas para ingressarem ou não em STEM, como pais, irmãos, pares e docentes;
  • fornecer imagens diversificadas de profissionais de STEM, por exemplo, em pôsteres de profissões e em publicações e recursos on-line, de forma a neutralizar o estereótipo do “cientista homem”;
  • utilizar figuras exemplares e tutores para desenvolver programas internos nas escolas, para que as meninas tenham contato com profissionais mulheres que trabalham nas áreas de STEM;
  • promover experiências de trabalho e programas extracurriculares, como estágios e bolsas de estudo, além de debates, workshops e encontros que promovam reflexões sobre o assunto;
  • envolver pais e familiares, fornecendo a eles informações sobre as profissões de STEM;
  • definir grupos-alvo específicos, inclusive meninas com alto desempenho e meninas desfavorecidas;
  • defender a mudança em ambientes de trabalho dominados por homens, para que possam atrair mais mulheres;
  • promover o treinamento e apoio de docentes, inclusive para que passem a ter uma proporção maior de mulheres, em uma cadeia desde as universidades até as redes estaduais e municipais de ensino, passando por centros de pesquisa e estudos nas áreas STEM.

INICIATIVA PRIVADA / MERCADO DE TRABALHO

As áreas STEM são catalisadoras para o alcance da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, ao proporcionar soluções para os desafios atuais e emergentes. É fundamental que mulheres e meninas tenham oportunidades iguais para contribuir e se beneficiar dessas áreas. O mundo que queremos construir para as próximas gerações deve ter essa mensagem: que ninguém seja deixado para trás.

As empresas têm um papel importante no alcance dos objetivos da Agenda 2030 e devem olhar a questão específica de mais mulheres nas áreas de STEM. As recomendações de ações e compromissos a serem adotados pelas empresas são:

  • Assinar compromissos com a equidade de gênero, como os Princípios de Empoderamento das Mulheres, iniciativa da ONU Mulheres e Pacto Global - https://www.weps.org/;
  • Incorporar o olhar para mais mulheres nas carreiras de STEM no mais alto nível da empresa;
  • Implementar grupo de trabalho que olhe especialmente para a questão de mais mulheres nas áreas de tecnologia, áreas de pesquisas e desenvolvimento, manufatura, logística e outras áreas intensivas em formação de engenharia e ciências;
  • Incluir as mulheres da empresa e como clientes e beneficiadas no desenvolvimento de produtos, serviços e inovações;
  • Escutar as mulheres na empresa e na sociedade, para identificar oportunidades de inovação, novos serviços e produtos;
  • Avaliar o impacto da inovação sobre as mulheres, por meio de análise de dados;
  • Desenvolver produtos, serviços e inovações que atendam os desafios enfrentados pelas mulheres;
  • Promover atividades para apoiar que mais meninas estudantes e universitárias possam se interessar pelas carreiras de STEM, como conversas de suas profissionais com esse público, programas de mentoria e programas de formação;
  • Ajudar a dar visibilidade para as mulheres que fizeram ou estão fazendo a história nas carreiras de STEM, por meio de suas atividades de marketing e comunicação.
Nossos apoiadores

Pacto Global, UNESCO e Donas da Rua