H2V pode auxiliar os países a agilizar seus esforços de redução da dependência dos combustíveis fósseis desde que regulação favoreça investimentos, incentivando a migração em escala dos setores econômicos para essa tecnologia
Entre 2011 e 2020, mais países registraram temperaturas recordes do que em qualquer outra década em um cenário de crescimento das emissões de gases de efeito estufa, de acordo com o relatório Estado do Clima, da ONU (Organização das Nações Unidas). Petteri Taalas, secretário-geral da OMM (Organização Meteorológica Mundial), ligada à ONU, disse que cada década desde 1990 foi mais quente do que a anterior e não há sinal de reversão disso. Nesse contexto, os países têm concentrado esforços em encontrar novas tecnologias que possam ajudar a promover a descarbonização. Entre elas está o hidrogênio verde, que é produzido a partir da eletrólise da água, processo de separação da molécula de água em hidrogênio e oxigênio.
O H2V, que pode ser transformado em combustível ou eletricidade, apresenta três vezes mais energia do que a gasolina e, ao contrário dela, é uma fonte limpa, que não gera poluentes. Pode ser usado pelo setor de transporte (carros, ônibus, caminhões e navios, por exemplo) e em processos industriais nos setores químico e siderúrgico, além de fabricação de fertilizantes. A indústria de cimento internacional, uma das mais poluentes e responsável por 7% das emissões totais de dióxido de carbono geradas pela atividade humana no mundo, deve ser transformada por meio do hidrogênio verde, que reduziria de forma significativa essas emissões. O hidrogênio tem alta densidade de energia, estabilidade, versatilidade e possibilidade de armazenamento, o que facilita sua viabilidade comercial, podendo substituir as baterias, que sempre tiveram como característica apresentar dificuldades logísticas.
"O hidrogênio verde começa a se tornar realidade com as discussões sobre sua regulamentação, o que pode estimular investimentos em toda a cadeia de produção", diz Ricardo Assumpção, CSO (Chief Sustainability Officer) da EY e líder de ESG e Sustentabilidade, que participa da COP28 como palestrante e moderador de painéis. "É preciso haver um planejamento de longo prazo para a descarbonização, envolvendo uma combinação do governo com a iniciativa privada. Para cumprir o objetivo de fazer com que o H2V auxilie na descarbonização, precisamos de incentivos diversos para a indústria como capital mais barato e regulação que incentive a migração em escala dos setores econômicos para essa tecnologia", completa.
Brasil tem enorme potencial
Por enquanto, sem essa regulação, os projetos brasileiros de H2V estão concentrados principalmente no Nordeste por causa da grande produção de energia eólica, solar e disponibilidade de água. O governo cearense, acionista majoritário do Complexo do Pecém, tem 24 Memorandos de Entendimento para a implantação de projetos de H2V. No fim de novembro, a União Europeia, como parte de um investimento global de 2 bilhões de euros na cadeia de hidrogênio no Brasil, anunciou a construção de uma usina para produção de H2V e amônia no litoral do Piauí, na Zona de Exportação de Parnaíba. Esse anúncio é resultado da expansão de projetos do Programa Nacional de Hidrogênio (PNH2), liderado pelo Ministério de Minas e Energia (MME). O Brasil, segundo o MEE, está entre os países mais competitivos no mundo no custo de produção de hidrogênio de baixa emissão de carbono, com potencial de produzir 5% de toda a demanda mundial na próxima década. Por isso, um dos objetivos é garantir a inserção do país na produção e uso do hidrogênio e nas cadeias industriais e tecnológicas associadas.
Na COP28, o Brasil assinou a declaração de intenções para a certificação e o comércio de hidrogênio de baixo carbono, com o objetivo de promover o diálogo entre países importadores e exportadores de hidrogênio. O documento propõe, ainda, o reconhecimento mútuo de sistemas de certificação dos países envolvidos. No total, 39 países assinaram o acordo, como Alemanha, EUA, Canadá, Austrália e África do Sul.