Entenda como você poderá converter dinheiro em tokens

5 minute read | 28 mar 2023


O real digital vai possibilitar à população transformar seu dinheiro depositado no banco em tokens para transações digitais, como investimento em títulos públicos federais

Ativos digitais, criptoativos ou ativos virtuais – chame como quiser – já fazem parte do nosso dia a dia e farão cada vez mais nos próximos anos. São considerados ativos digitais todos os recursos com algum valor que podem ser armazenados, gerenciados, transferidos ou negociados por meio eletrônico. A partir de hoje, a Agência EY fará a série de reportagens "Dos Criptoativos ao Real Digital: Os Novos Caminhos do Dinheiro", demonstrando as mudanças causadas no ambiente econômico por essas inovações, com destaque para os impactos gerados às empresas e aos consumidores.

No universo financeiro, os ativos digitais são ações, criptomoedas, investimentos e NFTs (em tradução livre: tokens não fungíveis), estes últimos criados para representar objeto real e, assim como as criptomoedas, baseados na tecnologia blockchain e em dados únicos e insubstituíveis.

Os tokens são divididos em fungíveis, podendo, assim como o dinheiro, ser substituídos por outros, e não fungíveis, o que significa que são únicos e exclusivos, não podendo ser reproduzidos – como é o caso das obras de arte. Por falar nelas, é possível, em questão de segundos, transformá-las em NFTs e, a partir daí, monetizá-las. O NFT, que representa a versão digital da obra de arte, passa a ser propriedade exclusiva de quem comprou e garante, tal qual um certificado de autenticidade, que aquele item é mesmo o original. Esse raciocínio se aplica, ainda, aos imóveis, cuja propriedade também pode ser convertida em tokens não fungíveis.

As criptomoedas e os NFTs estão entre os ativos digitais mais utilizados no momento, mas outros chegarão com força, como os depósitos tokenizados, que serão implementados pelas instituições financeiras e de pagamento autorizadas pelo Banco Central do Brasil. Muita coisa já pode ser tokenizada, ou seja, transformada em uma representação digital. Entre os objetivos dessa conversão está facilitar a negociação de um bem, que, como vimos, pode ser até mesmo um imóvel, ou de um produto financeiro. Esses tokens podem contemplar um ativo inteiro – 100% do imóvel, por exemplo, ou de determinado investimento – ou uma fração dele – vários donos de um mesmo imóvel, com tokens representando essas diferentes parcelas de propriedade.

Seus depósitos no banco poderão igualmente ser tokenizados. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o real digital permitirá depósitos tokenizados, podendo ser usados inicialmente para investir em títulos públicos federais, que passarão pelo mesmo processo. Está difícil de visualizar? Basta considerar que o saldo que você tem no banco poderá ser convertido em token para fazer transações no ambiente digital, começando pela possibilidade de investir nos títulos da dívida pública federal. Claro que toda essa dinâmica será controlada pelo BC para evitar riscos sistêmicos e consequente colapso do mercado financeiro, conforme o próprio órgão sinalizou.

Esses depósitos serão viabilizados por uma moeda própria: o real digital, que é uma CBDC (Central Bank Digital Currency). Diferentemente das criptomoedas, as CBDCs têm uma autoridade reguladora central, que, no Brasil, será o BC, garantindo assim segurança às transações.

Democratização do acesso a investimentos

Qualquer pessoa poderá entrar nessa plataforma de título público federal tokenizado para adquirir uma fração dele, por menor que seja, democratizando assim o acesso a esse investimento. “Será possível investir valores bem baixos, como cinco reais, sem, portanto, a exigência de aportes altos, já que, com a tokenização, o ativo pode ser fracionado em muitas partes, permitindo assim a participação de investidores de diferentes perfis de renda”, observa Thamilla Talarico, sócia-líder de blockchain e ativos digitais da EY Brasil.

Na prática, o Banco Central, com o real digital e a tokenização dos depósitos, está estimulando a competitividade no mercado, abrindo espaço para novos produtos e serviços que poderão ser oferecidos não somente pelas instituições financeiras tradicionais como por novos players. “É como se o BC estivesse convocando os agentes de mercado para testar esses sistemas inovadores, com a preocupação sempre presente de mitigar riscos, porque o papel do BC é regular, e não inovar”, esclarece Talarico. A expectativa é que o real digital esteja disponível em 2024.

Pagamento liberado somente entre instituições autorizadas

O real digital só vai transitar no atacado, ou seja, somente será manejado pelas instituições financeiras e de pagamento autorizadas. Funcionará ainda como um PIX em larga escala, que proporcionará transferências instantâneas de altos valores entre elas.

“Isso significa que o cidadão não vai encostar na CBDC brasileira, que só vai rodar entre pessoas jurídicas e eventuais reguladores”, destaca Talarico. “O que vai chegar à mão da população será o depósito tokenizado. Isso significa que o dinheiro depositado será convertido pelos bancos em tokens após solicitação do cliente interessado nessa conversão. Sendo assim, o cidadão usará indiretamente o real digital por meio de uma carteira virtual de banco ou de instituição de pagamento com os depósitos tokenizados para fazer determinados tipos de transação suportados por nossa moeda digital”.

Mercado bilionário

O mercado global de tokenização deve atingir mais de US$ 13 bilhões até 2030, um crescimento anual de 19,7% de 2023 a 2030, de acordo com relatório recente da empresa de inteligência americana Meticulous Research. O crescimento é atribuído principalmente à expansão dos métodos digitais de pagamento e ao aumento expressivo de fraudes no e-commerce, que resultam em enormes prejuízos para empresas e consumidores.

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