NRF 2023: empresas reformulam suas cadeias de suprimentos como resposta a um mundo em constante crise

4 Minutos de leitura 27 jan 2023
Por Agência EY

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“As pressões inflacionárias mundiais somadas a incertezas geopolíticas e consumidores cada vez mais sensíveis à sustentabilidade vão gerar pressões cada vez maiores nas cadeias de suprimentos. Nesse contexto, será necessário repensar as cadeias de valor para que sejam mais eficientes, resilientes e sustentáveis, contando com redes de suprimento menos suscetíveis a riscos. Nos últimos tempos, com a sequência de crises que vivemos, ficou claro que cadeias muito longas estão defasadas”, diz Fabiano Negrão, diretor-executivo de operações inteligentes da EY, que participou da NRF 2023, maior feira de varejo do mundo que ocorreu em Nova York.

Na segunda entrevista da série sobre a participação dos sócios e diretores da EY no evento, conversamos com Fabiano e Levon Kalaydjian, diretor-executivo de estratégia de supply chain, que compartilharam suas impressões.

Quais são as principais tendências que vocês identificaram na NRF 2023?

FABIANO E LEVON: A cadeia de suprimentos ou supply chain tem atualmente como desafio entregar mais eficiência e resiliência, por meio de uma estratégia orientada à otimização de valor que considere não somente quem está vendendo seus produtos ou serviços, mas também um conjunto de stakeholders formado por sociedade, meio ambiente, fornecedores e parceiros, funcionários da própria empresa e, claro, cliente. Esse consumidor está cada vez mais atento e engajado com a agenda ESG, exigindo que as empresas apresentem ações nessa direção sob pena de perderem negócios – as gerações mais novas não apenas tomam decisões de compra com base no ESG como boicotam as empresas que ignoram essa pauta.

Outra tendência é a completa integração do online com o físico no varejo, setor em que as lojas físicas ganham papel de destaque na jornada do consumidor. Em edições anteriores da NRF, havia dúvida sobre o papel das lojas físicas no varejo e a possível ameaça representada pelo online. No entanto, ficou claro nesta edição que, na realidade, um potencializa o outro, e os varejistas que estão integrando o online e o físico na jornada completa e experiência do consumidor ocupam posição de destaque e de liderança no mercado.

Uma característica comum identificada nos consumidores é a preocupação com o orçamento, que tem sido pressionado pela alta da inflação no mundo inteiro. Na NRF 2023, percebemos que o americano está muito preocupado com a situação inédita ou pouco vista de inflação elevada. Há também um cenário de crises constantes, com pandemia e instabilidade geopolítica, mantendo o consumidor global em estado permanente de tensão. Essa realidade, que significa o fim da chamada “era da abundância”, deve ser considerada pelas marcas, o que inclui a etapa de desenvolvimento do produto em uma lógica própria da economia circular para que ele possa durar mais, com geração de valor por mais tempo – inclusive na cadeia posterior de reutilização. Nesse contexto, o conceito de reselling, que é o estabelecimento de novas cadeias nas quais o consumidor vende seu produto usado e usa o valor obtido para novas compras, vem ganhando força no mercado americano, com marcas e varejistas criando ecossistema de engajamento e posicionamento diferenciado.

Além disso, nos últimos tempos, com a sequência de crises que vivemos, cenário descrito no evento como “policrises”, ficou evidenciado que cadeias muito longas têm desafios estruturantes de difícil superação. Esse cenário faz com que as organizações recorram a práticas de "nearshoring" (operações levadas para mais perto da sede da empresa: países vizinhos geralmente) e "reshoring" (operações levadas de volta para o país em que a empresa está sediada), que reduzem a exposição a riscos e habilitam alternativas em caso de ocorrências relevantes.

Quais dessas tendências têm aderência com o mercado brasileiro?

FABIANO E LEVON: O mercado brasileiro está bem alinhado com esse cenário internacional e busca explorar essas oportunidades. Algumas de suas particularidades, no entanto, como câmbio e aspectos tributários, acabam por encarecer a adoção de determinadas tecnologias por parte das empresas, por mais que elas queiram apostar nessas tendências. Percebemos nos Estados Unidos, por exemplo, uma larga utilização da tecnologia RFID pelo varejo, que traz facilidades para o consumidor, como ausência de filas nas lojas no momento do checkout. O modelo de identificação por RFID ou radiofrequência permite rastrear qualquer objeto sem a utilização de fios e a necessidade de escaneamento de cada um dos itens. O mercado brasileiro já está seguindo esse caminho, com a produção local de etiquetas (tags) de RFID para viabilizar sua implantação em escala no país, mas ainda está bem atrás do nível de adoção observado no mercado americano.

Também estamos atrasados no uso de tecnologias de visibilidade ponta a ponta da cadeia, que indicam onde está o estoque em tempo real, e de plataformas de reação rápida, que, dotadas dessa informação sobre o estoque e de dados do consumo online, usam algoritmos de Inteligência Artificial para sugerir rebalanceamentos de estoque ao longo da cadeia de suprimentos com o mínimo de interação humana.

Como essas tendências podem ser aplicadas no dia a dia das empresas?

FABIANO E LEVON: Uma provocação interessante feita na NRF 2023 foi que se a empresa ainda tem áreas diferentes para cuidar do online e do offline, ou usa nomes para diferenciá-las internamente, como omnichannel, isso significa que há oportunidade de maior integração digital, com o tratamento da jornada do cliente como algo único e integrado em todos os canais.

Do ponto de vista de supply chain, considerando o contexto instável atual, nossa primeira sugestão é desenvolver estratégias que incorporem robustez na arquitetura das cadeias de suprimentos para torná-las cada vez mais resilientes e sustentáveis. Para isso, é necessário avaliar os pontos de exposição a risco, bem como desenvolver alternativas para que as cadeias estejam prontas para reagir se algum desses riscos se materializar. O que faço, por exemplo, se houver uma greve de caminhoneiros? Posso buscar uma posição mais estratégica do meu ponto de armazenamento de estoque, mais próxima de entroncamentos com vias alternativas, e também avaliar distribuição alternativa do estoque ao longo da minha cadeia. O que faço se a demanda for maior que a planejada? Quais são as alternativas de suprimento de insumos, manufatura e fornecimento para evitar uma ruptura e impactos em receita e imagem? É preciso ter respostas para essas perguntas considerando cada risco de exposição das operações.

Como essas tendências podem melhorar os resultados de negócio?

FABIANO E LEVON: Uma boa estratégia de cadeia de suprimentos, sustentável e resiliente, permite encontrar os melhores lugares para instalar as fábricas e pontos de venda que otimizam o custo de colocar um produto na gôndola e o nível de emissões para fazer isso. A implementação de ferramentas que permitam maior integração ponta a ponta da cadeia – dos fornecedores até os pontos de venda – também se mostra importante para a redução de ineficiências e aumento do nível de serviço, especialmente quando amparadas por algoritmos de Inteligência Artificial capazes de avaliar muitas variáveis simultaneamente e utilizar métodos de otimização para sugerir ações corretivas. Outro elemento importante é um olhar orientado para como podemos ampliar aspectos de sustentabilidade ao longo do ciclo de vida do produto, de sua criação até seu pós-uso. E por fim, mas não menos importante, nada disso funciona se não formos capazes de dar visibilidade ponta a ponta nas cadeias, o que somente é possível com uma boa dose tecnologia nas operações.

A EY ajuda cada cliente a entender toda essa jornada da cadeia de suprimentos, montando uma arquitetura de solução com processos e tecnologias adequados. Isso significa olhar para o cliente, entender as plataformas que ele já tem, alavancar em cima delas e trazer outros elementos que tenham sinergia com o negócio para gerar inovação. Como comentamos anteriormente, o desafio hoje é contar com uma cadeia de suprimentos resiliente e sustentável, com custos otimizados, possibilitando atendimento personalizado e livre de qualquer fricção para o consumidor ao longo de todo o ciclo de compra, consumo e retorno de seus produtos. 

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