A estrutura de finanças está em transformação para acomodar um ambiente complexo de negócios. Nesse cenário, como entregar mais com menos, mantendo diferenciais competitivos no longo prazo? Como equilibrar a gestão de riscos com uma agenda inovadora? E como contribuir para a saúde do negócio como um todo com as oportunidades da reforma tributária?
As respostas para estas perguntas passam pelo uso da tecnologia e de dados como habilitadores do conceito “touchless” (que dispensa o toque físico) para a área financeira. Trata-se de um novo patamar de entregas alavancadas pela hiper-automação, com processos inteligentes e fluídos com baixa intervenção manual.
O futuro que se desenha para a estrutura financeira vai aposentar o modelo do passado. Em vez de focar na proteção de valor por meio de mecanismos de controle e compliance, a tendência é impulsionar estratégias em toda a organização com a escalabilidade oferecida pela nuvem.
O objetivo da visão “touchless” é preencher a lacuna de soluções que não resolvem por completo problemas complexos, além da escassez e falta de dados de qualidade para tomar melhores decisões. Com a hiper-automação no centro, a estrutura financeira terá melhores condições de destravar valor para as empresas.
A estrutura do futuro das finanças
A nova área financeira nas empresas promove o alinhamento da tecnologia com as necessidades de negócios. Dessa união, surgem o redesenho dos processos de acordo com as capacidades de cada tecnologia e a construção de um mapa de ações adequado para a aplicação dos processos touchless.
Ao priorizar iniciativas que entregam benefícios tangíveis para a organização, a geração de valor parte de duas alavancas principais: a implementação de casos de uso de forma mais ágil e ganhos identificados rapidamente ao longo da jornada de transformação. Neste contexto, a reorganização da área financeira passa a contar com três engrenagens centrais:
1. Processos inteligentes e digitalizados (coleta de dados)
Ideais para reduzir custos, ajudar a criar insights baseados em valor e criar um ecossistema tecnológico conectado, com fluxo de informações. Alguns exemplos de processos que podem ser digitalizados são a gestão do ciclo de receita e o payroll.
2. Insights alimentados por inteligência artificial (design e governança)
Adoção de capacidade preditiva e agentes funcionais de IA para impactar usuários proativamente; relatórios e narrativas automatizadas para eliminação de tarefas redundantes, fornecimento de registro digital de auditoria e a promoção de conversas naturais semelhantes às humanas por meio da IA generativa.
3. Novas exigências de habilidades e competências
A democratização de ferramentas analíticas deve liberar tempo para a análise avançada do negócio e entregas mais qualificadas. Consequentemente, o Chief Financial Officer estará mais envolvido com tarefas estratégicas, como a relação com investidores, estratégias de M&A, gestão de liquidez e certificação e controles internos.
O redesenho da área financeira tendo como base as alavancas acima é capaz de gerar vantagens claras para o negócio, alinhado com as oportunidades da reforma tributária. Uma governança aprimorada, por exemplo, pode economizar até 40% dos custos, enquanto a melhora da eficiência dos processos é estimada em até 50%, seguida pela economia do tempo da ordem de 20% devido à automatização.
Com a consolidação de sistemas e ferramentas, o tempo gasto na resolução de problemas cai até 25% e o custo com fornecedores, até 50%. A partir da digitalização, a automação pode responder pela economia anual de até 20% dos custos e até 30% da melhora de produtividade.
Os ganhos são observados também em uma gestão de dados otimizada. A precisão das informações geradas sobe para quase 100%, com alto nível de acurácia na capacidade de análises e relatórios e maior agilidade no planejamento das ações.
O contexto da reforma tributária
Como um dos componentes da transformação da função financeira, a reforma tributária avança para simplificar e reduzir as obrigações tributárias, substituindo os cinco tributos sobre consumo atuais (PIS, Cofins, ICMS, IPI e ISS) por apenas dois principais: IBS e CBS, além do imposto seletivo. A nova regulamentação começa a entrar em vigor em janeiro de 2026 e passará a valer integralmente em 2033.
Tal simplificação é extremamente necessária, pois é sabido que o Brasil tem um dos sistemas tributários mais complexos do mundo. No entanto, essa mudança pode trazer impactos significativos nos negócios, visto que as empresas aprenderam a encontrar caminhos e fazer uso de alguns mecanismos dos tributos atuais (por exemplo, incentivos fiscais) para identificar ganhos que se revertem em diferenciais competitivos na lucratividade.
Ainda, do ponto de vista tecnológico, a mudança do sistema tributário traz a necessidade de estabelecer novas rotinas e processos, considerando a nova metodologia de cálculo (baseado no preço líquido de produtos e serviços). Assim, a análise profunda dos impactos nos sistemas ERPs e serviços satélites é fundamental.
Por todos esses motivos, não é exagero afirmar que a reforma tributária vai impactar as empresas estruturalmente, com reflexos em vários departamentos, como jurídico, marketing, procurement, manufatura e logística, para além da própria área de finanças. Será necessário, portanto, que todas as áreas dialoguem em busca de respostas conjuntas sobre como se adaptar.