9 Minutos de leitura 4 mai 2020
 A man in a lab

Por que o CFO é fundamental para uma abertura de capital (IPO) bem-sucedida

Por EY Reporting

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  • Why the CFO is integral to a successful IPO (pdf)

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Dois CFOs compartilham seus conhecimentos adquiridos com a experiência de abrir o capital de empresas de capital fechado.

Atarefa de preparar uma empresa de capital fechado para a abertura de capital (IPO) inevitavelmente recai principalmente nos ombros do CFO, e isso pode ser um desafio intimidador para uma pessoa sem experiência prévia nesse tipo de processo complexo.

Uma das principais razões para que empresas abram o capital é o acesso a capital líquido de investidores públicos em bolsas de valores. Um IPO também pode melhorar a percepção da organização, tanto interna quanto externamente, fortalecer a governança corporativa e ajudar a oferecer uma saída para os investidores privados e membros da diretoria que estejam se aposentando.

Mas, muitas vezes, os CFOs encontram dificuldade em atender aos maiores padrões regulatórios, de divulgação, governança e de auditoria exigidos de empresas de capital aberto. Eles também têm a difícil – mas instigante – tarefa de trabalhar com o CEO para vender a ideia do IPO para os investidores.

A EY Reporting conversou com CFOs em duas empresas que abriram o capital nos últimos anos, para saber como eles abordaram o IPO, os altos e baixos por que passaram, e as lições que aprenderam durante o processo.

  • Perfil: Patrick Moore

    Patrick Moore, atualmente morando em Atlanta, é CFO da National Vision desde 2014. Ele tem mais de 25 anos de experiência liderando equipes em vários setores, tendo atuado em funções de CFO de divisão e de grupo na Fiserv, First Data e Fluor. Ele começou sua carreira na BellSouth (agora AT&T) em engenharia, operações, finanças, relações com investidores e integração de fusões.

  • Perfil: Emmanuel Thomassin

    Emmanuel Thomassin ingressou na Delivery Hero em janeiro de 2014 como CFO e é responsável por todas as atividades financeiras do Grupo. Antes disso, em 2012, ele se juntou à Team Europe, a "incubadora" com sede em Berlim e investidora da Delivery Hero. Anteriormente, ele havia sido o CFO e membro da administração da agência líder de branding MetaDesign em Berlim, depois de vários anos trabalhando para o grupo REGIOCAST, uma rede de radiodifusão alemã.

Razões e motivos para o IPO

Emmanuel Thomassin é o CFO da Delivery Hero, uma empresa de entrega de alimentos baseada em Berlim. Quando ele ingressou na empresa, em 2014, seu objetivo era prepará-la para o IPO, a fim de acessar mercados de financiamento público e reassegurar investidores de que a empresa estava desenvolvendo uma sólida estrutura societária.

Quando a Delivery Hero estava pronta para abrir o capital, no verão de 2017, ela havia crescido rapidamente por meio de aquisições. Mas Thomassin explica que um motivo específico foi o fato de um concorrente abrir o capital, permitindo que tivesse acesso a mais financiamentos do que Delivery Hero conseguiria como uma empresa de capital fechado.

Patrick Moore também preparou sua empresa para o IPO em 2017. Ele é o CFO do grupo de varejo ótico National Vision, baseado em Duluth, Geórgia, nos EUA. A principal motivação da firma para abrir o capital foi diferente, no sentido de que essa era uma das alternativas de estratégia de saída para seus investidores de private equity.

Como Thomassin, Moore não havia aberto o capital de uma empresa antes, mas sabia, desde que havia ingressado na organização, que o IPO era uma prioridade. “Como uma empresa do tipo sponsor-owned, é claro logo de cara que uma saída dessas é uma possibilidade. Por isso, decidimos começar a nos preparar com bastante antecedência”, ele afirma. “Felizmente, eles entenderam e apoiaram o processo de preparação e nunca nos forçaram a fazer nada antes que estivéssemos prontos. A principal consideração era, portanto, saber quanto tempo levaria até que a empresa estivesse pronta para abrir o capital.”

Novas exigências

Empresas de capital aberto geralmente estão sujeitas a legislações mais rígidas referentes à divulgações e supervisão. Portanto, aqueles que desejam abrir o capital precisam se preparar para isso, desenvolvendo suas estruturas de relatório e governança com antecedência.

Thomassin começou preparando a base para o IPO, identificando de quais tipos de conhecimento e funções a Delivery Hero precisaria. “Tivemos de nos preparar para as muitas exigências regulatórias e relativas a divulgações”, ele explica, “e trabalhamos com vários bancos, para entender quais os riscos envolvidos, quais relatórios tínhamos de preparar e como poderíamos ter certeza a respeito dos dados que fornecemos. Assim, tivemos de acrescentar departamentos, como auditoria interna, governança, e controle e riscos.”

Moore diz que, como uma empresa de capital fechado, a National Vision anteriormente havia priorizado sua estratégia de crescimento em vez de desenvolver alguns dos processos e controles detalhados esperados de uma empresa de capital aberto. “A função financeira era boa para uma empresa de capital fechado, mas carecia de conhecimentos mais sólidos de contabilidade técnica e da experiência necessária para uma empresa de capital aberto”, ele reconhece. “Por isso, tínhamos de nos focar em áreas como contabilidade técnica, divulgações externas e auditoria interna. Também acrescentamos especialistas nas áreas de relações com investidores e aconselhamento jurídico relativo a valores mobiliários nos meses que antecederam a abertura de capital.”

Montagem da equipe financeira

Os meses antes de um IPO são repletos de atividades para um CFO. Haverá problemas ou obstáculos não planejados. Por isso, eles precisam montar uma equipe que consiga apoiá-los e gerenciar os estresses durante o processo. Por exemplo, nove meses antes de sua data-alvo para o IPO, a Delivery Hero adquiriu a Foodpanda, outra empresa de grande porte da área de entrega de alimentos. Lidar com isso e com o processo de IPO coloca uma enorme pressão numa equipe financeira já sobrecarregada.

“Certifique-se de que você tenha as pessoas certas, com a atitude e o espírito certos, ao seu lado, externa e internamente”, aconselha Thomassin. “Todos temos momentos de fraqueza, e você precisa de pessoas que possam encorajá-lo.

“Também digo aos CFOs: conversem com suas famílias, para que elas entendam que não o verão durante vários meses, já que você estará totalmente ocupado com o trabalho”, ele continua. “E se proteja. Cuidei da saúde e mantive a boa forma porque sabia que seria um período muito difícil.”

Esse período anterior ao IPO é de intensas atividades, emoções e problemas. Por isso, calcule o número de pessoas que você acha que precisará e, em seguida, acrescente mais duas ou três.
Patrick Moore
CFO, National Vision

Thomassin teve de dobrar o tamanho de sua equipe, para atender aos requisitos do mercado de capitais. Contudo, ele afirma que anunciar um IPO pode ajudá-lo a descobrir os talentos de que precisa, já que torna a função atraente para aqueles com a experiência certa.

Moore também recrutou uma equipe forte antes do IPO. “Reforçamos as equipes de contabilidade, impostos, auditoria interna e de divulgações da SEC”, ele diz, “e tivemos excelente apoio de advogados externos altamente gabaritados e do grupo de mercado de capitais do nosso principal patrocinador. Recrutamos os melhores talentos, já que os riscos eram elevados.”

Trabalhar com o CEO

O trabalho do CFO é entender por que a empresa está abrindo o capital, para onde ela está se encaminhando e os próximos passos, para que ele saiba explicar isso aos investidores (normalmente, numa série de roadshows nas semanas que antecedem o IPO). Ele, então, precisa adicionar cores e detalhes, além de alinhar essa mensagem financeira com a narrativa que o CEO quiser utilizar.

Moore diz: “O CEO e eu temos uma ótima parceria – nós nos comunicamos e nos entendemos bem. Nas reuniões com investidores, ele era o visionário, com alta energia e otimista; ao passo que eu levava um equilíbrio complementar de confiança firme e ponderada. Os investidores precisam ver que a diretoria é estável e opera em alto nível.”

Thomassin concorda, acrescentando: “Se você e o CEO não estiverem com a história alinhada, as pessoas perceberão e perderão a confiança e a crença de que a empresa listada será sólida e profissional. A nossa história é que a Delivery Hero estava ingressando em mercados emergentes mais cedo, com elevado potencial de crescimento.”

Qual era a sensação depois da abertura de capital?

O IPO da Delivery Hero foi o maior da Alemanha naquele ano. Thomassin diz que foi uma aventura fascinante e que aprendeu muito sobre ele mesmo e a empresa. Mas a sensação predominante no IPO foi de alívio: “Foi a recompensa por anos de trabalho duro, mas fizemos isso pelos funcionários e os investidores”, ele diz.

Seu conselho é aproveitar as semanas do roadshow, já que talvez você jamais volte a experimentar sensações como essa novamente. “Essas três semanas foram de pura alegria para mim”, ele diz.

Para Moore, esse foi um período intenso e de muita pressão. “Havia uma aposta muito grande nessa transformação, e senti uma enorme responsabilidade de conseguir acertar para todas as partes interessadas. É verdade que consegui tirar proveito de algumas das minhas experiências passadas, mas, da mesma forma, tive de me esforçar para preencher as lacunas. Em última análise, foi reconfortante olhar ao redor da mesa e ver toda a força e qualidade da equipe do projeto.”

Valeu a pena, já que o preço da ação disparou no dia da abertura de capital. Nessa noite, a National Vision comemorou em Nova York. “Foi uma noite superespecial para os administradores, os parceiros externos e os convidados”,  Moore se recorda. “Estávamos muito felizes por termos realizado um IPO bem-sucedido, mas sabia que isso era apenas um marco. O trabalho que você faz no primeiro ano após a abertura de capital é ainda mais duro. Havia uma mistura de emoções para mim naquela noite – celebração, alívio e perceber que aquilo era apenas o começo da jornada de uma empresa de capital aberto.”

Diferenças entre empresas de capital aberto

Os CFOs em empresas de capital aberto passam mais tempo ocupados com responsabilidades do conselho de administração e relações com investidores externos quando comparado com aqueles em empresas de capital fechado. Thomassin diz que, desde que abriu o capital, ele vai a roadshows e fala com investidores com muito mais regularidade.

“Os investidores querem ver o CFO várias vezes ao ano, e o trabalho está muito mais ligado a ter certeza de que eles entendem o desenvolvimento da empresa”, ele explica. “Gosto disso, mas, se você não gosta de viajar ou de se reunir com pessoas, ele pode ser um pesadelo.

“Além disso, há mais estresse regulatório, para não mencionar um elemento de responsabilidade pessoal para membros do conselho de administração de empresas na Alemanha. Mas, se tiver o pessoal certo ao seu redor, você consegue administrar isso.”

Achei que podia esperar até que a história do IPO estivesse mais sólida antes de recrutar a minha equipe. Mas, se fosse fazer isso de novo, começaria mais cedo
Emmanuel Thomassin
CFO, Delivery Hero SE

Do lado positivo, os padrões de governança são maiores agora, e as percepções internas e externas sobre a Delivery Hero são ainda mais positivas, diz Thomassin.

Segundo Moore, as maiores diferenças – e áreas de foco – depois da abertura de capital giravam em torno da necessidade de se certificar de que as divulgações externas fossem oportunas, precisas, transparentes e úteis para os investidores. “Como uma empresa de capital fechado, a preparação de relatórios era menos onerosa”, ele explica. “Com a mudança criada pela abertura de capital, os relatórios passaram a ser bem mais controlados (por regulações) e importantes, com consequências significativas advindas de erros. Abrir o capital é como pular do ensino fundamental para o mestrado.” Quanto ao aspecto positivo de se abrir o capital, ele diz que a National Vision agora é uma empresa mais forte, com controles aprimorados e pacotes de remuneração equilibrados, para ajudar a atrair e reter os talentos necessários para um sucesso contínuo.

Lições aprendidas pelos CFOs

Ambos, Thomassin e Moore, dizem que a maior lição aprendida foi realizar o mais cedo possível o planejamento e a preparação para o IPO.

“Achei que podia esperar até que a história do IPO estivesse mais sólida antes de recrutar a minha equipe e novos departamentos”, explica Thomassin, “mas, se fizesse isso novamente, começaria fazendo tudo mais cedo. Também priorizaria a minha agenda e ficaria mais tempo na empresa, em vez de trabalhar para os bancos na apresentação do IPO.”

De maneira similar, Moore diz que, olhando para trás, ele teria começado ainda mais cedo seus esforços para fortalecer a equipe da National Vision. “Esse período de seis a nove meses antes do IPO é de intensas atividades, emoções e problemas pelos quais você tem de passar”, ele explica. Por isso, calcule o número de pessoas que você acha que precisará e, em seguida, acrescente mais duas ou três. É bem provável que você precise desses recursos adicionais depois de abrir o capital.”

Como Thomassin, Moore diz que o segredo é montar uma equipe sólida e solidária o mais cedo possível. Isso, acima de tudo, ajudará na hora de superar qualquer um desses obstáculos e o impulsionará para um IPO bem-sucedido.

Resumo

Os CFOs Patrick Moore, da National Vision, e Emmanuel Thomassin, da Delivery Hero, ingressaram em suas respectivas empresas com um mandato para preparar um IPO. Eles encararam o desafio de construir as estruturas de governança e de divulgações de suas empresas, o que significou expandir as equipes existentes e contratar novos funcionários. A necessidade do CFO de ser apoiado por uma equipe sólida e solidária é o principal aprendizado que ambos os executivos obtiveram da experiência de abertura de capital.

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