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Como os Conselhos podem impulsionar a estratégia climática em um ambiente complexo

Os Conselhos devem tomar medidas-chave para ajudar a obter valor a longo prazo a partir da estratégia climática da empresa e aumentar a confiança dos stakeholders.


Em resumo

  • Um estudo de 2023 da EY sugere que as empresas mais ativas em iniciativas climáticas têm maior probabilidade de relatar um valor financeiro maior do que o esperado.
  • As empresas devem abordar as muitas complexidades que acompanham a navegação pelo cenário da sustentabilidade.
  • Os Conselhos devem considerar ações-chave, como melhorar o alinhamento dos relatórios financeiros às IFRS S1 e IFRS S2 e se concentrar mais na melhoria da qualidade dos dados.

Singapura está comprometida em impulsionar a ação climática, acelerando sua transição por meio do Plano Verde de Singapura. Esse compromisso foi reforçado pelas iniciativas revistas do Plano Verde, reveladas na COP28 (a 28ª reunião anual das Nações Unidas sobre o clima), e no Orçamento de Singapura para 2024. As normas regulatórias de sustentabilidade do país progrediram ao longo do tempo, com um forte foco no avanço dos relatórios climáticos nos últimos anos.

  • Singapura exigirá que todos os emissores listados façam divulgações relacionadas ao clima a partir do AF2025, seguidos por grandes empresas não listadas a partir do AF2027. Essas divulgações devem estar alinhadas com as normas estabelecidas pelo Conselho Internacional de Padrões de Sustentabilidade (ISSB).

    Em fevereiro de 2024, a Autoridade Reguladora Contábil e Corporativa (ACRA) e o Regulamento da Bolsa de Singapura finalizaram os requisitos obrigatórios de relatórios climáticos para emissores listados e empresas não listadas em Singapura.

    As empresas devem observar vários pontos-chave: 

    1. A verificação externa pode ser realizada por empresas de auditoria registradas na ACRA ou por empresas de teste, inspeção e certificação credenciadas pelo Conselho de Credenciamento de Singapura.

    2. A garantia deve ser conduzida com base no equivalente, na norma de Singapura, da Norma Internacional sobre Garantia de Sustentabilidade 5000 (que deverá ser finalizada antes do final de 2024) e SS ISO 14064-3: 2021 (especificação com orientação para a verificação e validação de declarações de gases de efeito estufa).

    3. Uma grande empresa não listada pode ser isenta em qualquer uma das seguintes situações:

    • Sua empresa matriz relata divulgações relacionadas ao clima (CRDs) usando normas de relatórios locais alinhadas ao ISSB ou normas equivalentes (por exemplo, Normas Europeias de Relatórios de Sustentabilidade), sendo as atividades incluídas no relatório dessa empresa matriz e disponíveis para uso público.
    • Sua empresa matriz relata CRDs usando outras normas e estruturas internacionais de AF 2027 a AF 2029 (incluindo ambos os anos).

As divulgações climáticas obrigatórias aumentam a transparência do mercado e motivam as empresas a gerenciar seus esforços de sustentabilidade de forma mais ativa. Essa transparência permite que consumidores, investidores e financiadores tomem decisões mais informadas sobre seus gastos e investimentos, canalizando capital para empresas que exibem credenciais robustas de sustentabilidade.

Investir em ação climática também é uma medida financeiramente inteligente. De acordo com o Estudo de Valor Sustentável da EY de 2023, as empresas que tomam mais medidas para lidar com as mudanças climáticas têm 1,8 vezes mais chances de relatar um valor financeiro maior do que o esperado de suas iniciativas climáticas, em comparação com aquelas que tomam menos medidas. Além disso, as empresas que canalizam diligentemente os esforços para abordar os fatores ambientais, sociais e de governança (ESG) mais relevantes para sua indústria desfrutam de um alfa mais alto do que seus pares que não o fazem.

Ventos contrários na jornada das mudanças climáticas

Ainda assim, a navegação no cenário da sustentabilidade é repleta de complexidades, pois as preocupações de ESG exigem tomadas de decisão ponderadas, que às vezes resultam em compensações intangíveis. A ausência de procedimentos e métricas internas bem definidas para a avaliação de componentes de ESG não financeiros pode ser um desafio para impulsionar a agenda de ESG. A necessidade de manter agilmente a conformidade com o ambiente regulatório dinâmico de ESG e de atender às crescentes demandas dos stakeholders adiciona uma camada a mais de complexidade.

Demonstrar uma ligação entre as atividades de ESG e o desempenho financeiro pode representar um desafio significativo. Embora a correlação positiva entre práticas sólidas de ESG e lucratividade de longo prazo seja geralmente reconhecida, a quantificação desses benefícios pode ser complicada, tornando mais complexas as decisões de investimentos estratégicos em iniciativas de ESG. Alinhar as expectativas dos stakeholders com os investimentos de longo prazo necessários para resultados significativos de ESG continua sendo uma tarefa desafiadora para muitas empresas.

Embora as empresas geralmente reconheçam a correlação positiva entre práticas sólidas de ESG e lucratividade de longo prazo, tomar decisões estratégicas de investimentos em ESG pode ser um desafio devido à possível complexidade de quantificar os benefícios associados.

Incorporar considerações de ESG à estratégia organizacional envolve não apenas a adaptação de processos internos, mas também a reorientação da cultura corporativa e o desenvolvimento de estruturas de governança que priorizem a responsabilidade e o crescimento sustentável.

Ação urgente necessária

Com relatórios climáticos obrigatórios no horizonte, as empresas que adotarem essa prática poderão demonstrar seu compromisso com a sustentabilidade, inspirar confiança nos stakeholders e obter uma vantagem competitiva para o sucesso a longo prazo. Os Conselhos devem considerar várias ações-chave.

Buscando maior alinhamento com os relatórios financeiros

À medida que a IFRS S1 e a IFRS S2 entram em vigor, os Conselhos devem tomar medidas decisivas para que haja um maior alinhamento com os relatórios financeiros, dada a ligação intrínseca entre a sustentabilidade e o desempenho financeiro. O relatório Barômetro Global de Riscos Climáticos de 2023 da EY indica que apenas 26% das empresas incluem os impactos quantitativos dos riscos relacionados ao clima em suas demonstrações financeiras. Isso sugere lacunas entre a estratégia climática, a gestão de riscos e os relatórios corporativos.

Para atender às IFRS S1 e IFRS S2, os Conselhos devem aprimorar sua supervisão sobre como as questões de ESG são identificadas, medidas e relatadas em termos financeiros. Eles precisam avaliar quais questões de ESG são financeiramente relevantes (ou seja, com probabilidade de influenciar as decisões econômicas dos usuários de relatórios financeiros) e garantir que elas sejam adequadamente refletidas nas demonstrações financeiras e divulgações da empresa.

Um aspecto crucial das novas normas é a ênfase no alinhamento dos limites dos relatórios financeiros e de sustentabilidade. Isso significa que os Conselhos devem exigir que as informações de ESG sejam refletidas de forma consistente e coerente junto com as métricas financeiras tradicionais.

Para preencher essa lacuna, a nomeação de um(a) diretor(a) de sustentabilidade (CSO, chief sustainability officer) pode ser uma medida estratégica. O(a) CSO pode atuar como o elo central, conectando as iniciativas de sustentabilidade com os resultados financeiros, traduzindo dados não financeiros em insights que atendam ao rigor das normas de relatórios financeiros. A contratação de profissionais de sustentabilidade com experiência nas normas do ISSB também pode ajudar na realização de análises de lacunas, incluindo coleta de dados, execução de procedimentos, mecanismos de controle e estruturas de relatórios, para cumprir integralmente as novas normas.

Dando maior ênfase à qualidade dos dados

O aprimoramento da qualidade dos dados é imperativo para as empresas que buscam melhorar a tomada de decisões, especialmente na gestão de riscos relacionados ao clima e na adoção de oportunidades de sustentabilidade. Dados ambientais precisos e granulares capacitam as empresas com os insights necessários para avaliar sua pegada de carbono de forma abrangente e entender o impacto ambiental mais amplo em suas cadeias de suprimentos.

As empresas podem implementar vários controles e processos-chave para o gerenciamento de dados de ESG. É fundamental estabelecer procedimentos padronizados para coleta, validação e armazenamento de dados. Isso ajuda a manter dados consistentes e confiáveis em diferentes unidades de negócios e localizações geográficas, permitindo uma visão holística do desempenho ambiental da empresa.

A adoção de sistemas automatizados de coleta de dados também ajudará a simplificar o acompanhamento do desempenho e reduzirá os erros manuais, permitindo a coleta consistente e em tempo real de dados relevantes. Posteriormente, a definição de metas ambientais claras e o estabelecimento de métricas de monitoramento bem definidas forneceriam uma estrutura para medir o progresso em relação a essas metas.

O papel da garantia é fundamental para isso. A verificação externa e a garantia dos dados de ESG ajudam a aumentar a confiança dos stakeholders nos relatórios climáticos da empresa. Ao supervisionar a implementação desses controles robustos, os Conselhos podem promover um regime em que os relatórios climáticos não sejam apenas metódicos e confiáveis, mas também transparentes e responsáveis.

Impulsionando a estratégia de descarbonização em toda a organização

Globalmente, as promessas de net zero agora cobrem 88% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) e 92% do produto interno bruto global em paridade de poder de compra per capita.1 Para as empresas com investidores institucionais, o esforço para atingir o net zero está se tornando cada vez mais inegociável, já que os investidores buscam ativamente alinhar seus portfólios com a transição para uma economia de baixo carbono.

Os Conselhos devem considerar o desenvolvimento de estratégias abrangentes de descarbonização que se alinhem com as normas globais e os compromissos nacionais para reduzir as emissões de GEE. Essas estratégias devem articular claramente as metas de descarbonização alinhadas com os caminhos científicos, como os delineados no Acordo de Paris. Com os requisitos aprimorados de divulgação relacionados ao clima e às emissões de GEE, as empresas têm uma responsabilidade maior de integrar essas metas em sua estratégia geral, com estruturas e cronogramas claros de responsabilidade.

Os Conselhos também precisam priorizar a definição de metas baseadas na ciência para a redução de emissões, investir em soluções sustentáveis e comunicar regularmente o progresso em direção à obtenção do net zero para ajudar a manter a confiança e o apoio dos investidores.

A integração desses métodos forma uma base sólida que apoia um processo de relatórios de ESG transparente e confiável. Ela coloca as empresas em posição de cumprir com eficácia as estruturas emergentes, como a IFRS S1 e a IFRS S2, e atende às demandas dos investidores institucionais por considerações de investimento sustentável.

Em última análise, os dados de ESG de alta qualidade não se referem apenas ao cumprimento dos requisitos de relatórios. Trata-se também de equipar o Conselho e a Administração com insights acionáveis necessários para fazer a transição para operações de baixo carbono e alinhar-se quanto a um caminho para o net zero, reforçando seu compromisso com a criação de valor a longo prazo.

Este artigo foi publicado pela primeira vez na edição do 3º trimestre de 2024 do SID Directors Bulletin do Singapore Institute of Directors.

    1. “Data explorer”, site do Net Zero Tracker, zerotracker.net, acessado em 19 de julho de 2024.

Esta é a tradução de um conteúdo da EY Singapura. A versão original, em inglês, está disponível em: How to drive climate strategy in a complex environment.

Resumo

O Estudo de Valor Sustentável da EY de 2023 sugere que as empresas que tomam mais medidas para lidar com as mudanças climáticas têm maior probabilidade de relatar um valor financeiro maior do que o esperado de tais iniciativas. As empresas precisam abordar as muitas complexidades sobre navegar no cenário da sustentabilidade. Os Conselhos devem considerar a possibilidade de buscar um maior alinhamento dos relatórios financeiros às IFRS S1 e IFRS S2, concentrando-se mais na melhoria da qualidade dos dados e no desenvolvimento de estratégias abrangentes de descarbonização que se alinhem às normas globais relevantes e aos compromissos nacionais.

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