Incorporar considerações de ESG à estratégia organizacional envolve não apenas a adaptação de processos internos, mas também a reorientação da cultura corporativa e o desenvolvimento de estruturas de governança que priorizem a responsabilidade e o crescimento sustentável.
Ação urgente necessária
Com relatórios climáticos obrigatórios no horizonte, as empresas que adotarem essa prática poderão demonstrar seu compromisso com a sustentabilidade, inspirar confiança nos stakeholders e obter uma vantagem competitiva para o sucesso a longo prazo. Os Conselhos devem considerar várias ações-chave.
Buscando maior alinhamento com os relatórios financeiros
À medida que a IFRS S1 e a IFRS S2 entram em vigor, os Conselhos devem tomar medidas decisivas para que haja um maior alinhamento com os relatórios financeiros, dada a ligação intrínseca entre a sustentabilidade e o desempenho financeiro. O relatório Barômetro Global de Riscos Climáticos de 2023 da EY indica que apenas 26% das empresas incluem os impactos quantitativos dos riscos relacionados ao clima em suas demonstrações financeiras. Isso sugere lacunas entre a estratégia climática, a gestão de riscos e os relatórios corporativos.
Para atender às IFRS S1 e IFRS S2, os Conselhos devem aprimorar sua supervisão sobre como as questões de ESG são identificadas, medidas e relatadas em termos financeiros. Eles precisam avaliar quais questões de ESG são financeiramente relevantes (ou seja, com probabilidade de influenciar as decisões econômicas dos usuários de relatórios financeiros) e garantir que elas sejam adequadamente refletidas nas demonstrações financeiras e divulgações da empresa.
Um aspecto crucial das novas normas é a ênfase no alinhamento dos limites dos relatórios financeiros e de sustentabilidade. Isso significa que os Conselhos devem exigir que as informações de ESG sejam refletidas de forma consistente e coerente junto com as métricas financeiras tradicionais.
Para preencher essa lacuna, a nomeação de um(a) diretor(a) de sustentabilidade (CSO, chief sustainability officer) pode ser uma medida estratégica. O(a) CSO pode atuar como o elo central, conectando as iniciativas de sustentabilidade com os resultados financeiros, traduzindo dados não financeiros em insights que atendam ao rigor das normas de relatórios financeiros. A contratação de profissionais de sustentabilidade com experiência nas normas do ISSB também pode ajudar na realização de análises de lacunas, incluindo coleta de dados, execução de procedimentos, mecanismos de controle e estruturas de relatórios, para cumprir integralmente as novas normas.
Dando maior ênfase à qualidade dos dados
O aprimoramento da qualidade dos dados é imperativo para as empresas que buscam melhorar a tomada de decisões, especialmente na gestão de riscos relacionados ao clima e na adoção de oportunidades de sustentabilidade. Dados ambientais precisos e granulares capacitam as empresas com os insights necessários para avaliar sua pegada de carbono de forma abrangente e entender o impacto ambiental mais amplo em suas cadeias de suprimentos.
As empresas podem implementar vários controles e processos-chave para o gerenciamento de dados de ESG. É fundamental estabelecer procedimentos padronizados para coleta, validação e armazenamento de dados. Isso ajuda a manter dados consistentes e confiáveis em diferentes unidades de negócios e localizações geográficas, permitindo uma visão holística do desempenho ambiental da empresa.
A adoção de sistemas automatizados de coleta de dados também ajudará a simplificar o acompanhamento do desempenho e reduzirá os erros manuais, permitindo a coleta consistente e em tempo real de dados relevantes. Posteriormente, a definição de metas ambientais claras e o estabelecimento de métricas de monitoramento bem definidas forneceriam uma estrutura para medir o progresso em relação a essas metas.
O papel da garantia é fundamental para isso. A verificação externa e a garantia dos dados de ESG ajudam a aumentar a confiança dos stakeholders nos relatórios climáticos da empresa. Ao supervisionar a implementação desses controles robustos, os Conselhos podem promover um regime em que os relatórios climáticos não sejam apenas metódicos e confiáveis, mas também transparentes e responsáveis.
Impulsionando a estratégia de descarbonização em toda a organização
Globalmente, as promessas de net zero agora cobrem 88% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) e 92% do produto interno bruto global em paridade de poder de compra per capita.1 Para as empresas com investidores institucionais, o esforço para atingir o net zero está se tornando cada vez mais inegociável, já que os investidores buscam ativamente alinhar seus portfólios com a transição para uma economia de baixo carbono.
Os Conselhos devem considerar o desenvolvimento de estratégias abrangentes de descarbonização que se alinhem com as normas globais e os compromissos nacionais para reduzir as emissões de GEE. Essas estratégias devem articular claramente as metas de descarbonização alinhadas com os caminhos científicos, como os delineados no Acordo de Paris. Com os requisitos aprimorados de divulgação relacionados ao clima e às emissões de GEE, as empresas têm uma responsabilidade maior de integrar essas metas em sua estratégia geral, com estruturas e cronogramas claros de responsabilidade.
Os Conselhos também precisam priorizar a definição de metas baseadas na ciência para a redução de emissões, investir em soluções sustentáveis e comunicar regularmente o progresso em direção à obtenção do net zero para ajudar a manter a confiança e o apoio dos investidores.
A integração desses métodos forma uma base sólida que apoia um processo de relatórios de ESG transparente e confiável. Ela coloca as empresas em posição de cumprir com eficácia as estruturas emergentes, como a IFRS S1 e a IFRS S2, e atende às demandas dos investidores institucionais por considerações de investimento sustentável.
Em última análise, os dados de ESG de alta qualidade não se referem apenas ao cumprimento dos requisitos de relatórios. Trata-se também de equipar o Conselho e a Administração com insights acionáveis necessários para fazer a transição para operações de baixo carbono e alinhar-se quanto a um caminho para o net zero, reforçando seu compromisso com a criação de valor a longo prazo.
Este artigo foi publicado pela primeira vez na edição do 3º trimestre de 2024 do SID Directors Bulletin do Singapore Institute of Directors.