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Três formas de transformar a supervisão do conselho sobre riscos geoestratégicos

Os conselhos devem incorporar o risco geoestratégico nas discussões do colegiado como um todo e desenvolver competências para lidar com riscos e oportunidades geopolíticas.


Em resumo

  • Uma supervisão eficaz por parte do conselho pode exigir a integração do risco político entre os comitês e a busca por perspectivas externas e educação continuada.
  • Estruturas de governança robustas e bem elaboradas são necessárias para uma supervisão eficaz do risco geopolítico.

Quase duas décadas de turbulência financeira, uma pandemia global, ações militares por vezes inesperadas, reestruturação do comércio internacional e choques nas cadeias de suprimentos levaram muitos a desejar o retorno à normalidade — algo que agora parece improvável.

O desafio da supervisão do risco geoestratégico

O superciclo eleitoral global de 2024 deu lugar à formulação de políticas públicas, à medida que novas administrações ao redor do mundo buscam implementar suas agendas. Muitas dessas políticas desafiam normas estabelecidas há mais de oito décadas, como a presunção de estabilidade política e econômica, o apoio a organismos financeiros internacionais e coalizões de segurança, e a expansão do comércio global. Em um mundo menos previsível, torna-se mais difícil para empresas e cidadãos se prepararem para os impactos das mudanças geopolíticas. Conselhos e administração enfrentam o desafio de apoiar os esforços de suas empresas para navegar por essas águas turbulentas e identificar oportunidades estratégicas.

Para compreender melhor as mudanças que os membros dos conselhos devem adotar para enfrentar esse desafio, o EY Center for Board Matters e o EY-Parthenon Geostrategic Business Group entrevistaram conselheiros e executivos de empresas líderes, integrando essas percepções aos resultados de uma pesquisa com executivos globais.

Um dos achados iniciais é que, apesar de vários eventos significativos de risco nos últimos anos, o risco político e a geoestratégia ainda são temas pouco frequentes na agenda dos conselhos. Apenas cerca de um terço das empresas (32%) discute riscos geopolíticos mais de uma vez por ano.


Apesar disso, a natureza dessas discussões e o envolvimento dos conselhos com esses riscos parecem ter se tornado muito mais profundos nos últimos cinco anos. Segundo a pesquisa Geostrategy in Practice, a participação dos conselhos em atividades relevantes de supervisão de risco político cresceu significativamente — em alguns casos, mais que triplicando.

Em 2021, apenas 26% dos conselhos atuavam, em média, em sete áreas relacionadas à geoestratégia. Em 2025, esse percentual saltou para 76%. As duas principais áreas de atuação regular nos conselhos atualmente são: avaliação do impacto do risco político na estratégia da empresa (84%) e recebimento regular de informes sobre risco político por parte de áreas como assuntos públicos ou gestão de riscos (82%).


No entanto, por mais profundo que seja, esse foco continua sendo periódico e deixa muitos conselhos de administração e empresas despreparados para enfrentar os desafios atuais ou aproveitar as oportunidades. O ritmo acelerado de mudanças no ambiente político e regulatório significa que as suposições fundamentais sobre as condições globais de negócios que sustentam a estratégia corporativa podem ser rapidamente revertidas. Para entender como a administração e os conselhos podem responder da melhor forma, realizamos conversas com vários membros de conselhos para identificar as melhores e mais bem-sucedidas práticas.

Os conselhos líderes buscam integrar a geoestratégia nas discussões, avaliando o impacto dos eventos políticos globais no sucesso estratégico da empresa. Para fazer isso, muitos conselhos envolvem todos os membros nas discussões geoestratégicas, participam de conversas sobre risco político e geoestratégia em comitês e no conselho como um todo ao longo do ano, e supervisionam como a administração coleta e interpreta os riscos globais e políticos.

A seguir, estão três mudanças-chave que os conselhos líderes estão fazendo para transformar a maneira como supervisionam o risco geoestratégico.

Mudanças que os conselhos líderes estão fazendo para supervisionar o risco político e global hoje

De

Para

Habilidades e conhecimento

Confiar em alguns especialistas com profundo conhecimento.

Aplicar as habilidades empresariais e o conhecimento global de todos os conselheiros sobre riscos globais e políticos.

Estrutura do conselho

Identificar um comitê responsável pelo risco político e global.

Identificar onde o risco político e global está presente no trabalho de cada comitê.

Engajamento com a administração

Receber relatórios de risco político da administração.

Supervisionar ativamente como a administração está estruturada para identificar e mitigar riscos globais e políticos

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Capítulo 1

Aprimorar habilidades e conhecimentos dos conselheiros

Mudança: de receber relatórios de risco político para supervisionar ativamente como a administração identifica e mitiga os riscos globais e políticos.

Em vez de buscar expertise geopolítica específica em um ou dois conselheiros, os conselhos líderes procuram aplicar uma combinação do conhecimento e das habilidades empresariais de todos os membros para supervisionar efetivamente essa nova complexidade. A boa notícia é que o sucesso pode vir da aplicação das habilidades já presentes na sala de reuniões.

Habilidades tradicionais dos conselheiros, como estratégia, finanças e gestão de riscos, muitas vezes existem em abundância. O mesmo ocorre com uma compreensão sólida da indústria e das regulamentações relevantes. O conhecimento sobre mudanças nos regimes regulatórios ao redor do mundo ou expertise em países específicos pode ser mais raro. Os riscos políticos podem surgir de maneiras que atravessam essas habilidades e conjuntos de conhecimento.

Por exemplo, uma nova política industrial de um governo pode impactar o ambiente regulatório em um mercado chave, afetando a estratégia corporativa e os esforços de mitigação de riscos de longa data. Além disso, essas questões podem se apresentar como partes de outras discussões na agenda do conselho, como a revisão das finanças trimestrais, inventários de suprimentos ou infraestrutura de tecnologia e dados. Um conselho bem preparado será capaz de aplicar muitas habilidades de longa data a situações novas que podem desafiar suposições bem estabelecidas.

Em um ambiente operacional global caótico e de rápidas mudanças, os conselhos líderes estão considerando maneiras de se manterem atualizados sobre os desenvolvimentos geopolíticos relevantes e aprofundar sua própria expertise. Algumas maneiras pelas quais os conselhos líderes fazem isso incluem:

  • Desenvolver um currículo personalizado para preencher lacunas de conhecimento dos conselheiros em geopolítica.
  • Receber briefings de especialistas internos sobre riscos globais ou políticos específicos, com discussões abertas.
  • Convidar especialistas externos para dar instruções e liderar simulações de mesa redonda para exercitar as habilidades necessárias para supervisionar o risco geoestratégico e responder a um evento de risco.
  • Criar um conselho consultivo externo de especialistas geoestratégicos que possa ser utilizado para preencher lacunas de conhecimento e testar as estratégias de mitigação de riscos.
  • Incluir habilidades para supervisão de riscos geoestratégicos no planejamento de sucessão do conselho.

O engajamento mais profundo de todos os membros do conselho sobre o risco geoestratégico traz uma série de benefícios claros que os conselhos líderes apontam. Os tópicos de risco geoestratégico estão mais profundamente incorporados nas discussões do conselho ao longo do ano, em diferentes comitês, à medida que os tópicos relevantes surgem, em vez de aparecer na agenda apenas uma vez por ano. Além disso, o engajamento de todos os membros do conselho leva a uma diversidade de pontos de vista e perspectivas sobre uma questão, o que pode ser útil para um conselho que busca garantir que ações bem fundamentadas sejam tomadas com as melhores informações disponíveis.

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Capítulo 2

Incorporar o risco geoestratégico nas atividades do conselho e dos comitês

Mudança: de identificar um comitê responsável pelo risco geoestratégico para identificar onde os riscos estão presentes no trabalho de cada comitê.

Em vez de limitar a discussão sobre risco político e global a uma vez por ano, conselhos líderes devem buscar oportunidades para ter discussões geoestratégicas relevantes à medida que o tópico surgir em discussões de comitê e do conselho como um todo. Como em muitos tópicos, um item de agenda regular e focado no conselho completo sobre risco político pode ajudar a agregar discussões e criar a ocasião para refletir sobre o processo da empresa para supervisionar o risco político.

O risco geopolítico raramente é mencionado nas descrições de comitês, com apenas 2% das empresas do S&P 500 abordando-o explicitamente nas descrições de seus formulários de referência. Muitas vezes, é supervisionado como parte de um portfólio maior de riscos e incluído em discussões periódicas do conselho como um todo sobre riscos estratégicos e/ou de nível empresarial.

Há também uma boa razão para os líderes do conselho e os presidentes de comitês considerarem onde, em seus portfólios, o risco político e global surge naturalmente. A partir disso, eles podem trabalhar para incorporar mais explicitamente discussões relevantes em toda a agenda do conselho.

Baixe o relatório completo (em inglês) para ver como as responsabilidades do conselho e dos comitês para a supervisão do risco geopolítico podem ser distribuídas.

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Capítulo 3

Revisar a estrutura de gestão de risco geoestratégico da empresa

Mudança: de receber relatórios de risco político para supervisionar ativamente como a administração identifica e mitiga os riscos globais e políticos.

Dada a incerteza no ambiente operacional global, as equipes de administração estão se reunindo em salas de guerra, aumentando o planejamento de cenários e trabalhando por contingências para lidar com mudanças geopolíticas rápidas. Os conselhos podem ajudar a administração a desviar o foco de suas operações trimestrais e passar a uma perspectiva de longo prazo sobre o impacto dessas mudanças. Conectar as necessidades imediatas à estratégia de longo prazo e suas implicações é uma capacidade única que os conselhos possuem.

O engajamento tradicional com a administração muitas vezes resulta em relatórios e painéis que destacam os principais riscos geoestratégicos e seu impacto potencial na empresa, planos de mitigação desses riscos e planejamento de cenários. No entanto, os conselhos líderes podem se aprofundar mais para ajudar a administração a identificar as melhores maneiras de organizar a empresa para supervisionar esses riscos ao longo de um horizonte de tempo mais longo.

Através da supervisão dos riscos geoestratégicos, os conselhos podem ajudar as equipes de gestão a entender o apetite da empresa para o risco político e testar o processo para identificar, monitorar e mitigar eventos de risco. Crucial para isso é uma estrutura de governança eficaz que possa coordenar atividades em toda a organização. O conselho está em uma posição única para ficar fora da administração e fornecer uma perspectiva mais objetiva para ajudar a determinar se a maneira como o risco econômico e político global está sendo gerido continua adequada, não apenas para o trimestre atual ou até o ano atual, mas para a direção estratégica de longo prazo da empresa.

Os membros e os conselhos podem perguntar à administração sobre a estrutura para identificação e mitigação de risco político para ajudar a entender por que foi escolhida e se continua adequada. Isso também pode ser uma tática útil para garantir que os relatórios da gestão ao conselho sobre considerações geoestratégicas continuem a ser oportunos e úteis para o papel do conselho na supervisão do risco geoestratégico.

Baixe o PDF (em inglês) para ver três modelos comuns que o Geostrategic Business Group da EY-Parthenon observou as equipes de gestão usarem para governar o risco geopolítico.

Esta é uma tradução de conteúdo da EY US. A versão original, em inglês, está disponível em: Three ways to transform board oversight of geostrategic risk.

Resumo

Hoje, empresas e conselhos enfrentam novos desafios em um ambiente volátil, moldado por choques econômicos e políticos internacionais sem precedentes. Apesar da importância, muitos conselhos carecem de foco regular no risco geopolítico, deixando-os despreparados. Os conselhos líderes navegam por esses riscos incorporando a geoestratégia nas discussões, desenvolvendo um entendimento amplo entre todos os membros do conselho e incentivando a administração a focar no longo prazo, mesmo enquanto lidam com os desafios do dia a dia. A supervisão eficaz exige integrar o risco geopolítico nos comitês, alavancar expertise interna e externa, e promover educação contínua. Os conselhos devem articular o apetite ao risco, coordenar suas atividades e manter estruturas de governança robustas para supervisionar eficazmente o risco econômico e político global.

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