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O que os Conselhos de Administração precisam saber sobre a temporada de assembleias gerais de 2024

Fornecemos uma prévia da temporada de assembleias gerais de 2024 nos Estados Unidos e destacamos as prioridades de investidores em relação à gestão de talentos, responsabilização de conselheiros(as), ESG e muito mais.


Em resumo

  • Investidores querem que as empresas priorizem a estratégia de gestão de talentos e a transformação dos negócios em função do clima, visando a criação de resiliência em um ambiente de negócios dinâmico.
  • Investidores buscam maior responsabilização de conselheiros e querem saber como os Conselhos supervisionam os riscos materiais e se mantêm atualizados sobre questões que afetam os negócios.
  • A inteligência artificial (IA) responsável é um tópico que vem gerando bastante interesse, e investidores continuam focados nos riscos materiais de sustentabilidade e oportunidades para os modelos de negócios da empresa.

Amedida que as empresas se preparam para a temporada de assembleias gerais de 2024, o EY Center for Board Matters identificou as principais áreas de foco de investidores e as mudanças que podem afetar os resultados dos votos por procuração e moldar o engajamento este ano. Essas descobertas são baseadas em conversas com especialistas em governança de investidores institucionais que representam US$ 50 trilhões em ativos sob gestão.

Com base em nossas conversas com investidores de longo, estes são os desenvolvimentos observados na temporada de assembleias gerais de 2024 nos Estados Unidos:

  • A resiliência do modelo de negócios e a modernização operacional, incluindo novas estratégias de força de trabalho, são áreas que investidores esperam que líderes de empresas priorizem, à medida que as mudanças na dinâmica do trabalho, as tecnologias emergentes, as alterações climáticas e a transição energética remodelam o ambiente de negócios.
  • A qualidade e a eficácia do Conselho permanecem em foco. Investidores podem estar mais dispostos a votar contra conselheiros para sinalizar suas preocupações em um cenário de propostas de acionistas cada vez mais complexo.
  • A barreira para investidores ativistas que buscam mudanças no boardroom pode estar ficando mais baixa, à medida que eles se acostumam com as universal proxies.
  • Os investidores querem entender como os Conselhos estão desenvolvendo conhecimentos e governando tópicos importantes, como riscos e oportunidades relacionados ao clima, questões estratégicas da força de trabalho e o uso de inteligência artificial (IA).
  • Os riscos e oportunidades materiais relacionados à sustentabilidade continuam entre as principais prioridades de investidores de longo prazo, mesmo que as questões ambientais, sociais e de governança (ESG) tenham se misturado aos debates culturais e políticos. Investidores buscam esclarecer seu foco na materialidade financeira.

Os investidores com quem conversamos incluem: gestores de ativos (50% de todos os participantes), fundos públicos (23%), gestores de investimentos socialmente responsáveis (13%), fundos trabalhistas (6%), investidores religiosos (6%) e consultores de investidores (2%).

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Capítulo

Investidores priorizam a estratégia de gestão de talentos e a resiliência climática

De acordo com os investidores, o desenvolvimento da força de trabalho e a resiliência do modelo de negócios devem ser áreas críticas de foco da empresa.

Eles acreditam que a retenção e o desenvolvimento da força de trabalho, além da transformação dos negócios em função do clima, são extremamente importantes para a resiliência de longo prazo. Também reconhecem que, neste ano, as empresas enfrentam desafios urgentes de curto prazo relacionados à incerteza econômica, disponibilidade de capital, tensões geopolíticas e muito mais, mas esperam que elas mantenham o foco nas prioridades de longo prazo enquanto atendem a essas questões mais imediatas. Notavelmente, os tópicos que os investidores querem que as empresas priorizem em 2024 diferem dos tópicos que os Conselhos priorizarão neste ano.

O que os investidores querem que as empresas priorizem em 2024

Investidores querem entender como as empresas atraem, retêm e adaptam sua força de trabalho

Quase dois terços dos investidores disseram que querem que as empresas priorizem a agenda de gestão de talentos neste ano. Esses investidores estão particularmente interessados em como as empresas atraem e retêm funcionários, e inclusive como usam a remuneração, a flexibilidade, o treinamento e o desenvolvimento.

Alguns desses investidores citaram as recentes greves e os esforços de negociação coletiva em vários setores como um sinal de que o paradigma de maximizar os lucros em detrimento da satisfação do trabalhador está sendo significativamente desafiado. Eles acreditam que esses acontecimentos estão criando riscos maiores para as empresas em um mercado de trabalho acirrado e em um ambiente de inflação mais alta, e ressaltam a importância dos líderes das empresas estarem em sintonia com a percepção dos funcionários. Alguns investidores também questionaram se as empresas têm as pessoas certas com as habilidades e o treinamento adequados para executar os investimentos que estão fazendo em transformação digital e inovação, inclusive em IA.

Investidores querem que as empresas aproveitem a oportunidade estratégica na transição energética e se descarbonizem

A maioria (56%) dos investidores afirmou querer que as empresas priorizem os tópicos relativos às mudanças climáticas e à gestão ambiental neste ano. Embora isso possa surpreender os que supõem uma desaceleração no interesse dos investidores nessa questão em meio a um ambiente econômico volátil, os representantes dos investidores com quem conversamos deixaram claro que continuam observando com atenção o alinhamento desse tópico ao crescimento de longo prazo das empresas impactadas pelo clima. Quase metade desses investidores disseram que estão mais focados em como as empresas estão inovando e adaptando seus negócios para uma transição para a energia limpa. Eles querem entender os gastos de capital por trás desses esforços e como as empresas estão desenvolvendo novos produtos, serviços ou modelos de negócios que as ajudarão a prosperar em uma economia de baixo carbono.

Investidores também estão focados nas reduções de emissões que, segundo eles, mitigarão o risco sistêmico que ameaça a economia global e as perspectivas de longo prazo das participações dos investidores. Além disso, querem saber como as empresas estão gerenciando os riscos físicos das mudanças climáticas (por exemplo, indústrias críticas com concentrações geográficas em áreas de alto risco climático, como fabricantes de semicondutores em áreas com estresse hídrico).

Investidores e membros de Conselhos têm visões diferentes sobre os temas prioritários para 2024

Com base em nossa pesquisa com mais de 350 membros de Conselhos de Administração nas Américas, os Conselhos darão maior ênfase às condições econômicas, à alocação de capital e à segurança cibernética e privacidade de dados em 2024. Esses tópicos ficaram em primeiro lugar de importância entre conselheiros, enquanto a agenda de talentos e as mudanças climáticas e a gestão ambiental – as principais áreas que investidores querem que as empresas priorizem – ficaram em quinto e último lugar, respectivamente.

Essa diferença na priorização pode ser explicada de várias maneiras. Por exemplo, conselheiros podem estar ponderando sobre a alocação de tempo do Conselho versus atividades comerciais reais ou priorizando áreas de curto prazo. Podem ainda considerar que a empresa está progredindo em suas metas de impacto climático, reduzindo a necessidade de um foco tão intenso do Conselho neste momento. Além disso, nossas conversas com gestores de ativos foram com indivíduos de equipes de investidores institucionais de longo prazo, que podem ter perspectivas diferentes sobre tópicos prioritários em relação aos gestores de portfólio. Enquanto os gestores de portfólio tomam decisões de investimento, os gestores de investimentos de longo prazo decidem ou aconselham sobre as decisões de voto por procuração nas assembleias gerais, e se envolvem regularmente com as empresas do portfólio como parte de seu papel fiduciário. Esses diálogos de engajamento tendem a ter um foco de longo prazo, e essa perspectiva moldou sua abordagem a essa questão.

É importante ressaltar que os investidores enfatizaram o desafio de escolher prioridades aplicáveis às milhares de empresas mantidas em seus portfólios e enfatizaram que suas respostas variariam significativamente, dependendo da empresa e do que é mais relevante a ela. Por fim, esses tópicos estão inter-relacionados, portanto, pode haver pontos em comum, apesar das diferentes prioridades. Ainda assim, os Conselhos devem entender que, mesmo que as mudanças climáticas e a gestão ambiental ocupem uma posição baixa em sua lista de prioridades para 2024, esse pode não ser o caso para seus acionistas.

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Capítulo

Conselheiros sob escrutínio à medida que o ativismo dos acionistas evolui

Os investidores estão focados na eficácia do Conselho e nas qualificações dos conselheiros.

Desenvolvimentos recentes no ativismo dos acionistas e no cenário de procurações apontam para uma crescente disposição de investidores em exigir maior responsabilização de conselheiros. Três itens se destacam. Primeiro, houve uma diminuição significativa no apoio à reeleição de certos líderes de Conselhos e Comitês nos últimos anos. Em segundo lugar, os grupos de investidores começaram a sinalizar oposição a determinados votos de conselheiros e de outros membros da Administração.¹ Finalmente, o impacto das regras de  universal proxy continua a se desenvolver, e vimos o lançamento da primeira luta por procurações por parte de investidores que historicamente usavam propostas de acionistas para pressionar por mudanças.² O que ouvimos dos investidores ressalta a necessidade de preparação para um aumento do escrutínio sobre a eficácia do Conselho e sobre as qualificações dos conselheiros e, potencialmente, para uma disposição cada vez maior de votos contra os conselheiros.

Investidores sinalizam maior disposição para votar contra conselheiros

As discussões com investidores indicaram diferentes abordagens para fazer valer seus pontos de vista. Um terço (33%) dos investidores afirmou que, no ambiente atual, se todos os outros fatores forem iguais, eles são mais propensos a votar contra conselheiros específicos do que a votar em uma proposta de acionista relacionada, caso tenham preocupações sobre a supervisão dos riscos e oportunidades relevantes por parte do Conselho. Esses investidores caracterizaram os votos dos conselheiros como sinais mais eficazes de preocupação quando combinados com a comunicação direta à empresa explicando a intenção por trás do voto. Eles indicaram que votar na oposição de um conselheiro específico também transmite a seriedade com que estão abordando a questão e lhes dá mais agência e flexibilidade para expressar suas expectativas específicas em um cronograma que julgarem apropriado.

Alguns investidores também observaram que, para endossar uma proposta de acionista, esta deve estar completamente alinhada com sua posição e a motivação por trás dela deve ser percebida como confiável, algo que, segundo eles, é menos comum no atual cenário.

No entanto, 29% dos investidores disseram que, se tiverem preocupações sobre a supervisão do Conselho sobre riscos e oportunidades materiais, é mais provável que apoiem uma proposta relacionada dos acionistas e considerem um voto contra os conselheiros, como tática de escalada se a empresa não for responsiva. Por fim, muitos investidores (38%) se recusaram a escolher uma opção em detrimento da outra, explicando que usam ambas as alavancas em conjunto ou de maneiras diferentes (por exemplo, apoiando uma proposta de acionista relacionada a tópicos emergentes e usando o voto do conselheiro em expectativas bem estabelecidas) ou preferem se concentrar no engajamento para comunicar as preocupações.

É importante ressaltar que os investidores observaram que as soluções binárias, como votar a favor ou contra uma proposta de acionista ou um conselheiro, são difíceis, dada a nuance e a complexidade em torno dessas decisões. Isso torna o engajamento fundamental para entender as preocupações, expectativas e táticas precisas dos acionistas.

A barreira pode estar ficando mais baixa para ativistas que defendem mudanças

Cerca de três quartos (73%) dos investidores nos disseram que, ao avaliar como votar nas eleições de conselheiros contestadas, inicialmente determinam se há uma justificativa estratégica para uma mudança na empresa, e consideram apoiar os indicados dissidentes somente quando essa resposta for afirmativa. Isso se alinha com o que ouvimos dos investidores no ano passado.

No entanto, a novidade neste ano é que um subconjunto desses investidores (29%) disse que, se for apresentada a oportunidade certa, eles podem estar dispostos a apoiar candidatos dissidentes excepcionais na ausência de um argumento estratégico para a mudança. Em outras palavras, eles podem considerar a necessidade de renovação do Conselho como um argumento suficiente para a mudança. Essa é uma mudança notável em relação ao ano passado, quando mais investidores foram inflexíveis ao dizer que resistiriam a apoiar mudanças mínimas.

Os investidores afirmaram que as condições que poderiam contribuir para tal decisão incluem: um Conselho com tempo de mandato excessivamente longo, que não tenha diversidade ou especialização estrategicamente relevante; desempenho medíocre da empresa em relação a seus pares; falta de capacidade de reação do investidor; ou o investidor já ter planejado votar contra alguns dos indicados da empresa com base em suas políticas de voto.

Além disso, outros 17% dos investidores disseram que, em primeiro lugar, consideram as qualificações e a experiência de cada candidato em uma eleição contestada e entendem o argumento de mudança como um dado adquirido. A conclusão para os Conselhos é que, por meio das regras de universal proxy, os investidores têm mais flexibilidade e escolha em uma eleição contestada. Como resultado, a barreira para a empresa defender seus argumentos pode estar ficando mais alta, e a barreira para os ativistas garantirem apoio pode estar ficando mais baixa.

Como os Conselhos devem demonstrar sua experiência em áreas como segurança cibernética e clima?

A divulgação de informações sobre os treinamentos e as práticas relacionadas à supervisão do Conselho podem demonstrar sua experiência

À medida que os investidores avaliam como os Conselhos estão se mantendo aptos, divulgações aprimoradas sobre a capacitação do Conselho e sobre como ele tem sido supervisionado podem ser valiosas para as empresas. Oitenta e um por cento dos investidores nos disseram que os Conselhos deveriam divulgar dados sobre treinamento e formação dos conselheiros, para demonstrar sua experiência em áreas como tecnologia emergente, segurança cibernética e clima, em comparação a 48% que disseram que os Conselhos deveriam adicionar um conselheiro com experiência específica. Isso se compara a 79% e 63% dos investidores, respectivamente, em relação à mesma pergunta no ano passado, o que reflete um declínio acentuado no apoio dos investidores a membros do Conselho especializados ou focados em um único assunto.

Embora a adição de um conselheiro com experiência específica possa fazer sentido para algumas empresas, os investidores desconfiam das consequências não intencionais dos Conselhos preencherem os assentos com especialistas em assuntos específicos e perderem generalistas com mais experiência operacional. Eles também priorizam a qualificação e capacitação do Conselho e valorizam a objetividade e as perspectivas que um especialista externo pode trazer para ajudar na formação do Conselho.

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Capítulo

Áreas de foco de investidores de longo prazo se expandem

A IA responsável é uma nova prioridade de engajamento para os investidores.

As abordagens dos investidores de longo prazo variam. Alguns investidores adotam uma abordagem temática e estabelecem tópicos de foco para o ano, muitas vezes mais alinhados com questões de longo prazo, e outros adotam uma abordagem ascendente mais específica da empresa. A natureza dessas discussões também varia, com os investidores pedindo às empresas que tomem medidas específicas em alguns casos e adotando uma abordagem menos prescritiva em outros. Destacamos aqui as áreas de foco que mais surgiram em nossas conversas com investidores.

Temas que os investidores priorizarão em seus engajamentos com as empresas em 2024

Os investidores estão fundamentalmente focados em como o Conselho está executando a supervisão

Um tema-chave é consistente em todas as prioridades de engajamento do investidor – os investidores querem entender como o Conselho está governando tópicos materiais e executando suas responsabilidades de supervisão. Consequentemente, os investidores farão perguntas como:

Como os Conselhos estão desenvolvendo a competência necessária para supervisionar efetivamente esse assunto?

Como os Conselhos estão acompanhando os desenvolvimentos em rápida evolução relacionados a esse tópico?

Quem o Conselho está ouvindo sobre esse tópico? A Administração, os consultores e os especialistas externos estão incluídos?

Com que frequência o Conselho discute esse tópico?

Como as responsabilidades de supervisão para esse tópico são atribuídas no nível do Comitê?

Os investidores estão focados em cinco tópicos de engajamento

Nossas conversas revelaram onde os investidores planejam concentrar seu engajamento em 2024. Embora alguns tópicos tenham sido levantados por uma porcentagem relativamente pequena de investidores, em muitos casos, ainda foram o foco das propostas dos acionistas apoiados pela maioria no ano passado. Isso incluiu a liberdade de associação dos funcionários, a segurança e o bem-estar da força de trabalho, os esforços da empresa para evitar assédio e discriminação e o lobby climático.

1. Riscos e oportunidades relacionados ao clima, particularmente para empresas de alta emissão

Os riscos e oportunidades relacionados ao clima foram a prioridade de engajamento dos investidores mais citada no ano passado e permanecem assim neste ano, com dois terços dos investidores citando-a como foco de engajamento em 2024. Muitos investidores (31%) especificaram que desejam que as empresas adotem metas baseadas na ciência, que sejam validadas pela iniciativa Science Based Targets e forneçam um caminho definido para reduzir as emissões de gases de efeito estufa de acordo com a ciência climática mais recente. Onde as metas estão em vigor, esses investidores buscam planos de transição climática que forneçam clareza sobre as estratégias de redução de emissões das empresas. Alguns investidores (8%) sugeriram que buscarão divulgação sobre como os esforços políticos e de lobby das empresas se alinham aos seus compromissos climáticos.

Os investidores estão particularmente focados em como as empresas cumprirão as metas de curto prazo de redução de emissões e alguns sugeriram que, na ausência de explicações robustas e específicas da empresa, eles responsabilizarão as empresas pelo não cumprimento dessas metas. Eles entendem que os ambientes operacionais mudam e que é necessário algum espaço para a evolução, mas afirmam que há um número limitado de vezes que as empresas podem mudar ou não atingir as metas sem perder a credibilidade. Os investidores querem evidências de que os compromissos são confiáveis e críveis, e a percepção de complacência pode gerar preocupação.

2. Diversidade da força de trabalho e do Conselho

Trinta e oito por cento dos investidores disseram que planejam engajar as empresas para que haja diversidade da força de trabalho ou do Conselho em 2024, tornando este o segundo tópico de engajamento mais citado neste ano, assim como no ano passado. Em relação à diversidade da força de trabalho, 19% dos investidores sugeriram que continuarão incentivando mais empresas a divulgar dados e informações da EEO-1 sobre a eficácia dos esforços de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI). As auditorias de equidade racial, que buscam uma análise independente dos impactos raciais das políticas, práticas, produtos e serviços da empresa também permanecem na agenda, com 8% dos investidores compartilhando que solicitarão tais auditorias ou que estão atualmente avaliando os resultados das auditorias. Alguns investidores (2%) sugeriram que perguntarão às empresas sobre seus esforços para evitar assédio e discriminação e sobre o uso de acordos de arbitragem e confidencialidade no contexto de alegações como estas.

Em termos de diversidade dos Conselhos, 13% dos investidores sugeriram que aumentarão a pressão sobre os Conselhos não diversos em gênero, raça ou etnia. Observe que, independentemente dos investidores terem ou não mencionado a diversidade do Conselho como uma prioridade de engajamento, muitas diretrizes de votação por procuração mantêm inerentemente a pressão sobre sua diversificação: nossa análise das diretrizes de votação por procuração publicamente disponíveis dos 20 maiores gestores de ativos do mundo (com base em um estudo de classificação externa³) constatou que as considerações sobre a diversidade do Conselho são levadas em conta em 88% das políticas de votação dos conselheiros desses gestores.

3. Questões estratégicas para além da diversidade da força de trabalho

Trinta e cinco por cento dos investidores citaram outros tópicos de gestão de capital humano como prioridade de engajamento, assim como no ano passado. Após uma onda de greves trabalhistas em diferentes setores, há um crescente foco dos investidores em como as empresas estão protegendo os direitos dos funcionários de se organizarem e negociarem coletivamente e como elas estão garantindo o cumprimento das leis trabalhistas federais. Dez por cento dos investidores sugeriram que colocarão o tema como uma de suas prioridades de engajamento para este ano, concentrando-se em empresas com alegações de violações de direitos trabalhistas.

O planejamento de sucessão do CEO e da Administração é outra área que está recebendo maior atenção neste ano. Juntamente com muitos casos de empresas que enfrentam dificuldades na sucessão de CEOs, os investidores observaram uma significativa rotatividade da alta Administração recentemente (o que complica o planejamento da sucessão de CEOs, uma vez que o canal interno de talentos é interrompido). Os investidores que levantaram este tópico (6%) compartilharam que querem ter certeza de que as empresas estão planejando sucessões de CEO no longo prazo e em emergências, e que os Conselhos estão planejando mudanças relacionadas às lideranças dos mesmos. Alguns investidores levantaram fortes preocupações sobre a permanência de ex-CEOs no Conselho para além de um período de transição temporário. 

Os investidores, em geral, disseram que querem saber como as empresas estão atraindo os talentos de tecnologia de que precisam e como estão aprimorando e desenvolvendo a força de trabalho que possuem (especialmente em relação aos desenvolvimentos em IA), e alguns levantaram preocupações em relação aos impactos da transformação da força de trabalho na comunidade. Além disso, 15% deles sugeriram que continuarão a engajar as empresas nas questões sobre políticas e práticas específicas relacionadas a salários dignos, licença médica remunerada, segurança e bem-estar dos funcionários.

4. Riscos à natureza e biodiversidade

Cerca de um quarto dos investidores (27%) citou riscos e oportunidades relacionados aos impactos da perda da natureza e da biodiversidade (ou seja, a diversidade dentro e entre as espécies, e dos ecossistemas) como foco de engajamento, em comparação a 18% em 2023. Esses investidores querem que as empresas em setores de alto impacto avaliem suas dependências vinculadas à natureza como uma etapa para que se aborde os riscos materiais relacionados aos negócios (por exemplo, a dependência de uma empresa de bebidas em relação à água doce ou a dependência de uma empresa farmacêutica em relação a uma matéria-prima específica para um produto importante). Embora vários desenvolvimentos estejam catalisando ações neste âmbito (por exemplo, a finalização da estrutura da Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas à Natureza), os riscos e oportunidades de negócios relacionados à natureza continuam a ser uma questão emergente. Alguns investidores podem ter solicitações e expectativas específicas⁴, mas outros sugeriram que se empenharão em ouvir e ter conversas introdutórias.

5. IA responsável

A IA responsável surgiu como uma prioridade de engajamento pela primeira vez neste ano. Enquanto 19% dos investidores disseram que a IA, e particularmente a IA generativa, será um foco de engajamento neste ano, a maioria dos investidores disse que não será nesta fase inicial. Ainda assim, mesmo os investidores que não planejam ter a IA como foco de engajamento disseram que ainda esperam que a IA seja um assunto de discussão e estão considerando questões relacionadas, como perguntar às empresas como estão usando a IA em suas operações; como estão gerenciando os impactos relacionados ao trabalho e à força de trabalho; identificando e mitigando riscos, inclusive relacionados aos direitos humanos; aderindo a diretrizes para uma IA responsável; e alocando capital para iniciativas de IA. Muitos investidores sugeriram que abordariam as discussões relacionadas à IA com perguntas de alto nível e uma mentalidade de aprendizagem, não com expectativas definidas. De longe, o tópico de interesse mais citado em relação à IA (42% dos investidores) foi a governança e o papel do Conselho na supervisão de riscos e oportunidades de IA. Os investidores enfatizaram um interesse particular no treinamento e educação relacionados ao Conselho, inclusive de especialistas externos, para desenvolver a competência de seus membros.

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Capítulo

Investidores esclarecem o foco nos riscos e oportunidades materiais

À medida que o ESG amadurece, os investidores ressaltam a importância da materialidade financeira.

Os investidores sugerem que o retrocesso político contra as políticas ambientais, sociais e de governança (ESG), incluindo a introdução de legislação federal e estadual contra o ESG, esclareceu, e não dissuadiu, o interesse dos investidores em como as empresas estão administrando e como os Conselhos estão supervisionando os riscos ambientais e sociais relevantes, bem como os geradores de valor em seus modelos de negócios.

Quase todos os investidores se mantêm firmes em relação aos riscos materiais com uma dimensão ambiental ou social.

Noventa e oito por cento dos investidores de longo prazo disseram que sua gestão em 2024 se concentrará tanto ou mais em questões ambientais e sociais relevantes do que no ano passado. Eles disseram que abordam esses assuntos como qualquer outro risco ou oportunidade relevante e não podem se dar ao luxo de ignorar riscos materiais.

Alguns investidores comentaram que um desafio na narrativa atual é que houve menor apoio às propostas de acionistas com foco ambiental e social em 2023, o que alguns observadores citaram como evidência de que os investidores estão recuando em relação ao ESG. Eles, por sua vez, disseram que o que se perde no ruído é que há diversas variáveis na análise dessas propostas, e a mesma proposta votada sob a mesma política de investidores por dois anos seguidos pode obter um resultado diferente, porque a empresa progrediu durante esse período. Continuaram afirmando que permanecem focados nos riscos materiais para o desempenho e valor de longo prazo das empresas de seu portfólio e não estão elevando ou diminuindo as expectativas de como as equipes de Administração e os Conselhos lidam com esses riscos. Mais discussões e análises estão disponíveis no relatório do ano passado: What directors need to know about the 2023 proxy season | EY - US.

Perspectivas dos investidores sobre como a gestão de ESG está evoluindo

Alguns investidores estão evitando a sigla ESG em favor de uma linguagem mais específica

Cerca de um terço deles disseram que estão evitando usar a sigla ESG. Na maioria dos casos, esses investidores disseram que querem usar uma linguagem mais específica e ter mais rigor e precisão em suas comunicações (por exemplo, riscos e oportunidades materiais de sustentabilidade no modelo de negócios de uma empresa). Eles acham que "ESG" é muito amplo, mal definido e compreendido. Cerca de dois terços dos investidores disseram que não estão evitando ativamente a sigla, mas muitos indicaram que também estão tentando ser mais específicos e precisos em suas comunicações para evitar interpretações erradas. 

Os investidores manifestaram preocupação com o fato de que a politização do ESG cria más interpretações dos riscos materiais dos negócios

Quando questionados se a resistência contra o ESG trouxe equilíbrio, cerca de dois terços dos investidores disseram que não, afirmando que as campanhas contra o ESG são muitas vezes mal-informadas, politicamente motivadas, polarizadoras e desviam a atenção dos riscos comerciais subjacentes. Esses investidores disseram que a retórica ignora as realidades econômicas e fiduciárias e cria riscos para suas participações.

No entanto, cerca de um terço disse que a resistência ao ESG trouxe um equilíbrio útil em alguns aspectos. Os sentimentos positivos mais comuns compartilhados foram que o movimento contra o ESG expôs o greenwashing, levou investidores e empresas a serem mais claros em suas comunicações e forçou um foco mais próximo na materialidade financeira. Alguns investidores caracterizaram o movimento contra o ESG como parte de ciclos conceituais típicos, com o pêndulo do sentimento público oscilando do hiper entusiasmo sobre as ideias inovadoras de volta para a direção oposta, antes que um novo equilíbrio seja alcançado.

Alguns investidores disseram que alguns argumentos legítimos foram levantados, incluindo o que questiona se o alcance de objetivos de ESG seja sempre um “win-win” para os negócios e para o meio ambiente. Afirmam que pode haver compensações difíceis e consequências não intencionais envolvidas na condução de decisões de negócios e investimentos relacionados ao ESG – algumas das quais estão vindo à tona à medida que as metas de redução de emissões para 2030 se aproximam. Esses investidores disseram que algumas boas questões também foram levantadas sobre se a abordagem de práticas sociais e ambientais corporativas pertence à esfera do investimento ou se os formuladores de políticas precisam abordar essas questões. Para eles, um debate saudável sobre esses pontos é algo positivo.

Daqui para frente: mantenha-se apto e garanta a confiança dos investidores

Tanto o contexto dos negócios quanto o cenário de assembleias gerais e procurações continuam dinâmicos, e os investidores esperam que os Conselhos se adaptem de acordo. Isso inclui a revisão do modelo de negócios, a supervisão da estratégia da força de trabalho e dos riscos materiais, além de oportunidades para criar resiliência a longo prazo. Também inclui a atualização proativa e o treinamento contínuo do Conselho alinhados às necessidades de supervisão da empresa em evolução. Para ajudar a garantir a confiança dos investidores, os Conselhos podem abordar proativamente a forma como estão executando a supervisão dos riscos materiais, buscar educação sobre tópicos prioritários para os negócios, avaliar rigorosamente a eficácia e o planejamento de sucessão do Conselho e incentivar divulgações aprimoradas em torno desses esforços. Por fim, o engajamento tanto dos principais investidores de longo prazo quanto dos gestores de portfólio é fundamental para garantir uma visão equilibrada das prioridades dos investidores.

Perguntas para consideração do Conselho

  • Como a empresa está adaptando seu modelo de negócios e operações para prosperar a longo prazo? Como o Conselho está supervisionando e como a empresa está comunicando esses esforços?
  • Como a estratégia de gestão de talentos da empresa está apoiando a estratégia geral e posicionando-a para ser um empregador preferencial para a próxima geração de talentos? Os líderes da empresa têm um forte pulso sobre a percepção dos funcionários em todos os níveis da organização? Como o Conselho está obtendo insights precisos sobre a experiência dos funcionários em todos os níveis?
  • Como a empresa está se saindo em relação às suas metas climáticas de curto prazo? Como ela está comunicando de forma transparente esse desempenho e quaisquer desafios relacionados aos stakeholders? A empresa está demonstrando credibilidade em relação aos seus compromissos climáticos?
  • Como o Conselho está obtendo insights sobre os tópicos com os quais seus investidores se preocupam? O Conselho entende como essas visões podem impactar os votos dos investidores nas eleições de conselheiros? Algum conselheiro está ouvindo diretamente os principais acionistas sobre suas perspectivas em relação à governança da empresa?
  • Como as comunicações da empresa abordam as áreas de foco dos investidores? Essas comunicações abordam efetivamente a forma como o Conselho está desenvolvendo suas próprias competências sobre essas áreas e executando a supervisão das mesmas? O engajamento do Conselho nessas áreas é bem comunicado e esse engajamento envolve obter perspectivas externas para além da Administração?
  • Quão bem a composição do Conselho se alinha à estratégia da empresa e as principais prioridades de mitigação de riscos? As divulgações por procuração deixam claro como as qualificações individuais dos conselheiros correspondem às necessidades específicas de supervisão da empresa e como o Conselho está se capacitando para acompanhar os tópicos em rápida evolução, que são relevantes para os negócios?

Resumo

Investidores querem entender como as empresas priorizam suas pessoas e adaptam seus modelos de negócios para o sucesso a longo prazo, à medida que se deparam com tecnologias emergentes, mudanças climáticas e várias outras mudanças estruturais. A responsabilização de conselheiros(as) de administração é essencial, pois os investidores buscam a confiança de que os Conselhos estão efetivamente supervisionando os principais riscos e mantendo-se capacitados e atualizados sobre as necessidades de supervisão que evoluem rapidamente.

Sobre este artigo