As mudanças climáticas, com atenção especial à agenda ESG, e a volatilidade geopolítica têm impulsionado a transformação do modelo de negócios das empresas de mineração e metais. O primeiro fator impacta as bases fundamentais dessa indústria, o acesso ao capital financeiro, a licença para operar e comercializar, o portfólio de produtos e a atratividade de talentos. Já o segundo aumenta a necessidade de as empresas repensarem onde encontrar o valor ótimo a ser capturado e, como consequência, organizarem seus negócios e suas cadeias de abastecimento. As constatações fazem parte de estudo da EY em parceria com o IBRAM (Instituto Brasileiro de Mineração), que entrevistou executivos da alta gestão das maiores empresas do setor com atuação no país.
O faturamento dessa indústria foi de R$ 250 bilhões no ano passado, uma redução de 26% em relação a 2021, causada principalmente pela queda nos volumes exportados e pela redução de cerca de 25% nos preços médios do minério de ferro. Essas atividades geraram uma arrecadação total de tributos de R$ 86,2 bilhões em 2022, recolhidos por quase metade do total de municípios, o que demonstra sua relevância para a economia brasileira como um todo.
“A agenda ESG está transformando o setor de forma significativa em três aspectos principais: acesso à terra e aos minerais, por meio da licença social para operar; forma mais eficaz de desenvolvimento dos minerais, atraindo os melhores profissionais para exercer esse trabalho; e acesso ao capital, com investidores considerando ESG o fator prioritário para tomada de decisão de alocação de capital”, resume Bruno Balbi, sócio de supply chain e operações da EY.
Ainda segundo o levantamento, a transformação dessa indústria tem se materializado por meio dos seguintes arranjos de negócio:
1) Transformação no portfólio
O foco em minérios críticos para a transição energética e a migração de fornecimento de minérios para a oferta de materiais e serviços alinhados às agendas de transição energética e socioambiental. As empresas pioneiras nesse movimento têm incorporado mais valor aos seus produtos e construído diferenciais competitivos que se traduzem em maior rentabilidade.
2) Integração horizontal
Em um contexto de maior volatilidade e ambiguidade, o investimento em processos adjacentes ao negócio principal, com foco na redução de riscos e na viabilização do desenvolvimento dos recursos minerais, tem ganhado força na agenda estratégica. São exemplos a geração de energia sustentável, o desenvolvimento de tecnologias para produção e a ampliação da logística integrada.
3) Integração vertical
As empresas do setor têm repensado o grau de verticalização (incorporação de etapas posteriores ou anteriores na cadeia de valor), realizando joint ventures, fusões e aquisições em atividades que complementam suas operações. O objetivo disso é reduzir o risco no abastecimento, garantir a origem sustentável dos materiais vendidos e ampliar a geração de valor por meio da integração da exploração, produção, beneficiamento e comercialização ao cliente final.
4) Economia circular
Os modelos de negócio circulares na mineração são circuitos fechados que minimizam a geração de rejeitos e emissões, transformando-os em subprodutos, procurando, ainda, ampliar a vida útil dos materiais vendidos. Romper o paradigma atual de cadeias lineares é um movimento em curso no setor, tendo como exemplos a utilização de sucata, a venda de subprodutos e a recirculação de rejeitos.
5) Soluções baseadas na natureza
A construção de soluções por meio do desenvolvimento de ecossistemas naturais ganha força como modelo de negócio no setor. Desafios como a reabilitação de minas e a preparação socioambiental para o fechamento da operação podem ser endereçados com soluções integradas à natureza e potencializadas pela biodiversidade.