Número de IPOs está em queda no Brasil e no mundo, mas isso não significa que as organizações devem ficar paradas, já que o foco deve ser adaptar a governança
O número de IPOs no primeiro trimestre deste ano (299 no total) caiu globalmente 8% em comparação com o mesmo período do ano passado (326). O cenário foi pior nos países da EMEIA (Europa, Oriente Médio, África e Índia), que registraram queda de 19% nos primeiros três meses de 2023. Esses números fazem parte do estudo da EY sobre o mercado global de IPOs. "O Brasil não registrou nenhum IPO nos últimos 15 meses", destaca Flavio Machado, sócio-líder de Financial & Accounting Consulting Services (FAAS) da EY na América Latina do Sul. "Há questões internas que contribuem para isso como juros altos provocados pelos cenários fiscal e administrativo, ainda que o Congresso Nacional esteja neste momento avaliando o arcabouço fiscal. A conjuntura internacional restritiva, com juros altos também em outros países, como nos EUA, é ainda mais relevante, tornando os investidores estrangeiros reticentes em relação à economia mundial. A bolsa brasileira depende muito do capital de fora".
Entre os motivos desse comportamento do investidor, segundo o estudo da EY, estão, além dos juros elevados, inflação alta persistente; políticas e regulações do governo; atividade econômica ainda em recuperação; e tensões e conflitos geopolíticos. Esse cenário não significa que as empresas interessadas em abrir capital no futuro devem ficar paradas. Isso porque o IPO deve ser visto como um processo de diferentes etapas, incluindo a que antecede a oferta pública.
"O momento é de se preparar para o IPO, que retomará conforme a economia melhore e os investidores se sintam mais confiantes. Faz parte dessa preparação organizar a casa para que a empresa fique realmente pronta para passar por esse processo de forma bem-sucedida", afirma Rafael Santos, sócio e especialista em IPO da EY. "Há empresas que crescem rápido e já fazem o IPO, sem essa etapa anterior a ele. Abrir o capital não significa somente uma forma de financiamento do negócio, mas a entrada em um contexto corporativo totalmente diferente, com regras e processos próprios que exigem prestação de contas aos acionistas", completa.
O primeiro passo, na avaliação dos especialistas da EY, é adotar processos adequados para uma companhia aberta. A governança precisa ser revista, com o estabelecimento de processos que sejam dominados pelos colaboradores e que sejam transparentes, contribuindo dessa forma para a elaboração de relatórios confiáveis e de credibilidade para o mercado. "A demonstração financeira conforme as exigências dos órgãos reguladores, como a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), é um exemplo, o que demanda todo esse trabalho anterior voltado para a conformidade”, diz Santos.
ESG e outras orientações
Ainda em relação à transparência, o reporte das ações da agenda ESG tem se mostrado cada vez mais relevante. Isso exige das organizações comprometimento com essa pauta, que precisa se tornar uma prioridade estratégica. Na sequência, é preciso reportar com qualidade as ações, prezando pela transparência e seriedade das informações. Os investidores estão atentos aos relatórios dessas atividades para decidir se aportam ou não seu capital. A conformidade com esse padrão ESG, o que inclui o reporte adequado e detalhado, demanda tempo e precisa já ser trabalhada antes mesmo da abertura de capital.
O estudo da EY traz, ainda, as seguintes orientações para essa etapa anterior ao IPO: priorizar aquilo que a empresa faz de melhor; apostar nas oportunidades de expandir a margem e otimizar o fluxo de caixa; e não deixar que os planos de IPO se percam, revisitando constantemente o cronograma e cada um dos marcos de preparação para a abertura de capital.