Ponte para pedestres do Meifeng Park no distrito de Tong'an, na cidade de Xiamen
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Reimaginando os conselhos de administração: uma agenda estratégica e voltada para o futuro

Os conselhos de administração devem considerar a possibilidade de reimaginar a forma de exercer governança em um mundo definido por mudanças rápidas, complexidade crescente e expectativas cada vez maiores dos stakeholders.


Em resumo

  • Os conselheiros de algumas das maiores empresas do mundo descrevem um modelo de governança sob pressão.
  • A complexidade organizacional, o ambiente de negócios volátil e a orientação para o status quo ampliam os desafios de governança.
  • Com ações oportunas, os conselhos podem se tornar parceiros estratégicos ágeis e voltados para o futuro, ajudando a criar força organizacional e valor sustentado.

O modelo atual de governança está sob pressão, levantando a questão: é possível mantê-lo como está? Paralelamente, vem emergindo uma agenda de transformação a ser acionada. Foi o que constatamos em uma série de entrevistas aprofundadas com conselheiros de algumas das maiores empresas globais listadas em bolsa, como parte do estudo EY Board of the Future (pdf)

A maioria dos entrevistados relata estar sobrecarregada e lutando para manter uma visão ampla e abrangente de operações de grande magnitude e de vários mercados, ao mesmo tempo em que busca encontrar tempo suficiente para uma previsão estratégica essencial. Mesmo os mais otimistas reconhecem os crescentes desafios da governança.

Um ambiente de negócios cada vez mais não linear, acelerado, volátil e interconectado (NAVI) acaba contribuindo para esse desafio.

Com o modelo atual enraizado no status quo, os conselhos de administração têm tido dificuldade para acompanhar o ritmo estratégico e operacional dos negócios globais. Esses fatores ameaçam a eficácia e a sustentabilidade da supervisão e da administração da governança.

A agenda de mudanças "6E" para a governança do conselho

Neste estudo, os conselheiros ofereceram insights importantes sobre como lidar com os riscos e desafios atuais de governança corporativa, com ações tempestivas na sala do conselho e em colaboração com a administração. Essas percepções geraram um conjunto de seis áreas prioritárias para mudança. Chamamos isso de agenda "6E" para reimaginar a governança.

Cada etapa da agenda 6E apoia a seguinte, em um ciclo virtuoso. Assim como os desafios são multifacetados e interconectados, as ações também o são.



"Como podemos ter a intenção de olhar para a agenda [da reunião do conselho] e dizer que dedicaremos 20% do tempo ao que aconteceu no último trimestre e 80% ao que acontecerá nos próximos cinco anos?"

Conselheiro

E1. Elevar a eficiência: reduzir os encargos dos conselheiros e liberar tempo para que se concentrem nos tópicos mais importantes.

Os conselheiros apontam estar sobrecarregados pelo volume de informações e compromissos. O aumento da carga de trabalho e das demandas regulatórias enfrentadas pelos conselhos de administração de empresas de capital aberto gera a necessidade de mais eficiência para liberar capacidade e dedicar mais tempo ao foco estratégico.

 

Um conselheiro descreveu o volume de informações como "extremamente difícil de processar e realmente muito pesado. Diria que a quantidade de trabalho adicional e as expectativas depositadas sobre os conselhos são enormes e muito, muito difíceis de alcançar."

 

Como os conselheiros dedicam mais tempo ao cumprimento de normas, sua capacidade de previsão estratégica e de compreensão profunda sobre o operacional de toda a empresa diminui. Como resultado, o risco de falhas imprevistas aumenta, ampliando as preocupações com a responsabilidade.

 

A responsabilidade e a demanda constante por uma supervisão mais detalhada levantam uma preocupação relevante em relação à capacidade futura de atrair e reter talentos de alto nível para os cargos de conselho. "A era de ouro de ser um conselheiro já passou. A alegria sumiu de vista", observou um dos participantes do estudo.

 

Para se ajustar ao ambiente atual, a ênfase deve mudar do mero acréscimo de horas para uma reformulação fundamental de como, onde e por quem é realizado o trabalho de governança.




"As equipes de administração veem os conselhos como um mal necessário, e os conselhos não sentem que têm necessariamente a oportunidade de influenciar as operações e a estratégia da empresa de forma muito significativa."

Conselheiro

E2. Aumentar a eficácia: mudar as formas de trabalho para permitir que o conselho agregue valor total.

A dinâmica abaixo do ideal e a falta de confiança podem fazer com que as equipes executivas percam oportunidades de se beneficiar dos aconselhamentos com sabedoria e da direção estratégica de seus conselhos.

"As equipes da administração veem os conselhos como um mal necessário, e os conselhos não sentem que necessariamente têm a oportunidade de influenciar as operações e a estratégia da empresa de forma muito significativa", observou um dos conselheiros participantes do estudo.

A natureza dos fluxos de informações para o conselho reflete essa dinâmica. Os conselheiros geralmente recebem informações excessivamente filtradas que limitam o escopo do julgamento do conselho ou dados excessivamente volumosos que carecem de insights que possam ser convertidos em ações. "Eu saio das reuniões do conselho pensando o que eu realmente aprendi? Isso não é bom o suficiente", comentou um conselheiro.

Uma mistura de desconexões, seja por déficit de confiança, clareza de funções ou tensões de limites de atuação impede a eficácia do conselho. Soma-se a isso a dedicação geralmente em meio período dos conselheiros e a assimetria de informações, e o resultado é um ambiente de sala de reuniões que um membro do conselho descreve como "lutar contra a própria sombra".

Qualidade e eficácia do conselho
dos investidores institucionais estão focando a qualidade e a eficácia do conselho de administração para o envolvimento com as empresas em 2025, em comparação com apenas 13% em 2024.

Uma governança eficaz depende da identificação honesta de problemas e oportunidades por parte dos conselhos e das equipes de administração, e da definição conjunta do melhor caminho a seguir. Os conselheiros apontaram, de forma consistente, a confiança como o principal facilitador. "A compreensão e a confiança constituem, para mim, o cerne da supervisão eficaz", pontuou um dos conselheiros.



"Acredito que muitas pessoas se sentem mais confortáveis em olhar para os resultados do último trimestre do que tentar se perder na incerteza do próximo ano ou daqui a três anos."

Conselheiro

E3. Exercitar a previsão: engajar o ecossistema para melhorar a previsão e a percepção.

Os conselhos de administração sofrem com a falta de oportunidades para pensar no futuro, o acesso inadequado a novas perspectivas e mecanismos insuficientes para investidas estratégicas.

O modelo atual de conselho, muitas vezes excessivamente focado em dados retrospectivos e conformidade, não está preparado para um futuro que, segundo as previsões, será mais rápido, mais complexo e mais fragmentado. Essa falha sistêmica em priorizar o pensamento voltado para o futuro leva a uma governança reativa à medida que o ritmo das mudanças se acelera.

 "Você pode contar com todos os tipos de dados", observou um conselheiro, "mas se os dados da semana passada não forem mais relevantes, e daí?" Portanto, a meu ver, trata-se de tentar olhar ao redor, certificando-se de que você tenha pessoas na mesa que entendam como operar em um mundo cada vez mais complexo com flexibilidade e agilidade."

O lamento constante dos conselheiros sobre a falta de oportunidade de se envolver com o futuro aponta para um profundo déficit de previsão nas salas de reuniões:

  • Falta de tempo dedicado à estratégia e à previsão, o que prejudica a capacidade de o conselho de administração orientar a empresa de forma proativa, especialmente em meio a mudanças drásticas e riscos emergentes
  • Falta de perspectivas novas e diversificadas e acesso inadequado a conhecimentos especializados sobre tópicos emergentes, o que limita a capacidade do conselho de trazer abordagens criativas para novos desafios


"O papel do conselho não se resume a apenas ter lido os documentos e emitir uma opinião, mas também ser capaz de desafiar a forma de pensar."

Conselheiro

E4. Incentivar a independência: prevenir falhas de governança com curiosidade e questionamento crítico.

A eficácia do conselho de administração depende do pensamento independente, da curiosidade e do questionamento crítico, mas as pressões culturais internas e a busca de consenso muitas vezes sufocam o debate, dando margem a falhas de governança. Nas palavras de um membro de conselho: "o papel do conselheiro não se resume a apenas ter lido os documentos e emitir uma opinião, mas também ser capaz de desafiar a forma de pensar. E então, você é bom em desafiar a forma de pensar?".

Os conselhos de administração podem enfrentar pressões sociais e de tempo sutis, mas decisivas para levar à conformidade e ao pensamento de grupo. Por exemplo, a necessidade de obter uma votação unânime pode gerar uma penalidade cultural para a discordância.

A pressão pelo consenso geralmente carrega consigo a falta de criticidade, que pode levar à ignorância institucional e a pontos cegos éticos, aumentando de forma significativa o risco de fracassos corporativos. Os conselhos podem ser responsabilizados por algo que não estavam preparados para prever, porque não fizeram as perguntas certas ou não foram instruídos sobre um determinado número de tópicos.

Um conselheiro disse: "Você quase precisa sistematizar uma visão contrária, não necessariamente por ser uma "dissonância inveterada" o tempo todo - dessa forma não se consegue fazer nada - mas mais por forçar nossa forma de pensar."



"Com o aumento da complexidade, ter consistência e padronização em uma organização global realmente se revela importante, desde que você compreenda e avalie as limitações que isso eventualmente possa representar."

Conselheiro

E5. Simplificar a engenharia: proporcionar aos conselheiros maior confiança no papel que desempenham na governança global da empresa.

As estruturas complexas, as inúmeras subsidiárias e as diversas jurisdições das grandes empresas globais ensejam desafios de governança e dificultam saber, com real confiança, o que está acontecendo na organização como um todo.

E, é claro, quanto maior o número de peças móveis, maiores são as possíveis linhas e pontos de falha: 

  • Verticalmente, entre o conselho e o CEO ou a diretoria executiva; entre a matriz e os executivos regionais, entre as equipes executivas regionais e a gerência regional; e entre a gerência e os operadores. 
  • Horizontalmente, entre mercados e regiões geográficas.

Diversas "desconexões duais" podem ocorrer entre os seguintes eixos:

  • Detecção e interpretação de sinais (tendências, eventos, desempenho) e a consequente tomada de decisões
  • Entre a tomada de decisão e a ação resultante

Os desafios de se obter uma "linha de visão" confiável dos riscos, oportunidades e problemas de desempenho - em diferentes unidades de negócios, divisões operacionais e múltiplas geografias - criam um efeito de dissipação na governança. Essas falhas e possíveis desconexões tornam muito mais difícil para o conselho de administração ter a confiança necessária de que não será surpreendido negativamente.


Como resultado, muitos dos conselheiros entrevistados priorizam a simplificação e a racionalização dos mecanismos de governança. Eles veem valor na implementação de estruturas de governança fundamentadas em princípios que equilibram a consistência global em políticas, padrões, processos, mecanismos de controle organizacional e de governança com a necessária adaptação local.

"Com o aumento da complexidade, ter consistência e padronização em uma organização global é realmente importante, desde que você compreenda e avalie as limitações que isso eventualmente possa representar", aconselhou um dos participantes do estudo.



"Em minhas salas de reuniões, não há realmente acesso aos dados para perguntar "e se?". O uso de dados nas salas de reuniões é muito estático, não dinâmico."

Conselheiro

E6. Empregar IA: aumentar os recursos do conselho como parte de uma estratégia mais ampla de IA empresarial.

Apesar do potencial transformador da IA, os conselhos de administração reconhecem plenamente a subutilização da tecnologia em relação às questões empresariais e de governança.

Um participante do estudo ficou "impressionado com o pouco que os conselhos de administração realmente entendem sobre IA", apesar de seu potencial de "mudar absolutamente todos os tipos de trabalho do planeta". Apenas 14% dos conselhos discutem a IA em todas as reuniões, e quase metade (45%) não inclui o tópico em suas agendas.1

Essa lacuna de IA resulta na perda de oportunidades imediatas e de médio prazo para aumentar a eficiência e obter insights mais profundos sobre a governança e as operações da empresa. Os conselheiros também não estão preparados para supervisionar efetivamente os riscos e as oportunidades que a rápida evolução da IA apresenta em um ambiente de negócios NAVI. "Em minhas salas de reuniões, não há acesso aos dados para perguntar "e se?". O uso de dados na sala de reuniões é muito estático, não dinâmico", observou um conselheiro descrevendo a situação atual. Um conselheiro descreve sua inquietação e a oportunidade que vê para o aumento da IA: "Quando você efetivamente participa da reunião, as informações já estão obsoletas. Não é em tempo real, e isso honestamente me assusta. Há um enorme potencial para obter insights em tempo real e orientados por dados e realmente aprimorar nossa governança por meio da tecnologia."


Aumento do foco na governança da IA
A pesquisa da EY revela um foco crescente em como a IA é governada e nas capacidades dos conselheiros.


O uso da IA pelo conselho de administração e o estabelecimento de uma estrutura de IA responsável pela empresa não são elementos dissociados, mas sim partes integrantes. Os riscos bem documentados da IA - como confiabilidade, explicabilidade, conformidade, ética e transparência - existem tanto no conselho quanto na empresa como um todo.

Conclusão: aproveite a oportunidade de reimaginar

O sentimento predominante nas entrevistas revela uma advertência severa: o atual modelo de governança está sob pressão; sem adaptação e mudança, não é uma questão de se, mas sim de quando ele sucumbirá e como os conselhos de administração escolherão responder.

Como observou um conselheiro: "[O modelo] vai durar até que, como Roma, seja consumido pelo fogo. Isso vai durar até que ocorra um fracasso épico. E, de repente, haverá uma carga de profundidade e todos os peixes nadarão em outra direção."

Embora nem todos os conselheiros se sintam tão pressionados, o sentimento predominante entre os participantes do estudo é que os conselhos de administração devem reconhecer que "o que os trouxe até aqui não os levará até lá", parafraseando Marshall Goldsmith, coach e autor americano de liderança executiva.


Reconhecer os riscos e fazer algo em relação a esses riscos não é a mesma coisa. Sem um colapso ou uma catástrofe, geralmente há pouco ímpeto para a mudança. Cabe aos presidentes de conselho, e aos membros dispostos a desafiar o status quo, alertar sobre os perigos da inércia. Para isso, faz-se necessário adotar o autoexame e a adaptação contínuos antes que uma crise o exija.

Isso também requer a disposição de buscar um programa de governança plurianual e em fases que vá além das mudanças incrementais e considere uma reforma mais significativa, ou até mesmo uma transformação fundamental, quando necessário.

Ao reimaginar os mecanismos de governança e adotar as mudanças tecnológicas e culturais por meio do ciclo virtuoso da agenda 6E, os conselhos de administração podem se transformar de órgãos orientados para a supervisão, às vezes reativos, em parceiros estratégicos ágeis e voltados para o futuro, ajudando a criar força organizacional e a gerar valor sustentável em uma economia global dinâmica.

Agradecimentos especiais às seguintes pessoas que contribuíram significativamente para este relatório e pesquisa: Dr. Dean Blomson, pesquisador independente de governança e "alumus" da EY; e os pesquisadores da EY Sandeep Gupta e Swathi Sivaraman.


Sumário

A pesquisa EY Board of the Future explora a visão de 21 conselheiros de algumas das maiores empresas de capital aberto do mundo sobre a sustentabilidade do atual modelo de governança. O estudo destaca os riscos crescentes enfrentados pelos conselhos de administração de organizações globais complexas, em um ambiente de negócios cada vez mais não linear, acelerado, volátil e interconectado (NAVI). As principais conclusões se concentram em uma agenda de ação subdividida em seis partes, para reimaginar a governança e criar conselhos mais estratégicos, ágeis e focados no futuro.

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