Florida Keys, USA
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Como os investidores podem equilibrar as demandas de curto prazo com valor de longo prazo?

A Pesquisa da EY com Investidores Institucionais de 2024 destaca a existência de uma grande lacuna entre o que os investidores dizem e fazem em matéria de sustentabilidade. 


Em resumo
  • Embora 88% dos investidores pesquisados tenham usado mais as informações de ESG, 92% temem que as iniciativas relacionadas ao ESG prejudiquem o desempenho das empresas no curto prazo.
  • Apesar do aumento no número de relatórios de sustentabilidade, 66% dos investidores afirmam ser provável que sua instituição considere menos o ESG na tomada de decisões.
  • Cerca de 85% dos investidores afirmam que o greenwashing é um problema cada vez mais grave - no entanto, 93% parecem estar confiantes de que as empresas cumprirão suas metas de sustentabilidade.

Nos últimos 10 anos, as equipes da EY encomendaram pesquisas sobre o sentimento dos investidores em relação ao desempenho da sustentabilidade corporativa — conhecido por essa comunidade como desempenho ambiental, social e de governança, do inglês "Environmental, Social and Governance" (ESG) — e a tendência apontada por essas pesquisas tem sido um aumento contínuo: os investidores institucionais cada vez mais consideram e incluem o ESG em suas decisões. Apesar disso, os exemplos continuam a mostrar que há uma grande lacuna entre o que se diz e o que se faz. Neste ano, a EY encomendou a Pesquisa com Investidores Institucionais de 2024, que analisou mais de perto esse fenômeno e tem como base as opiniões de 350 profissionais responsáveis pela tomada de decisão sobre investimentos de instituições de todo o mundo, inclusive empresas de gestão de ativos e de patrimônio, seguradoras e fundos de pensão. 

A grande maioria dos entrevistados (88%) para o relatório afirma que sua instituição aumentou um pouco ou substancialmente o uso de informações de ESG no último ano. Isso reflete o crescimento dos relatórios de sustentabilidade corporativa, que fornecem aos investidores mais informações para orientar suas decisões. No entanto, apesar de ter essas informações em mãos, 92% dos investidores concordam que o risco para o desempenho de curto prazo supera os benefícios de longo prazo de muitos investimentos e iniciativas relacionados a ESG. 

Além disso, há poucos sinais de que os investidores pretendem priorizar os investimentos em ESG em suas estratégias de alocação de capital no futuro próximo. Na verdade, a pesquisa indica o contrário.

Apesar do agravamento da crise climática e da preocupação crescente com outras questões relacionadas à sustentabilidade,
dos investidores pesquisados acreditam que sua instituição provavelmente diminuirá a consideração de fatores ESG na tomada de decisão sobre investimentos.

Essas constatações mostram um quadro preocupante, dado o papel fundamental dos investidores na condução da transição para uma economia mais sustentável. Por exemplo, a Comissão de Transições Energéticas estima que, em média, será necessário um investimento de capital global total de US$ 3,5 trilhões por ano para realizar a transição energética que possibilitará uma economia com emissões líquidas zero até meados deste século.Além disso, o Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2024 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente adverte que, a menos que sejam tomadas medidas mais drásticas, o mundo está a caminho de um aumento na temperatura de 2,6°C a 3,1°C até o final deste século. Para que haja alguma esperança de atingir a meta desejada de 1,5°C do Acordo de Paris, será necessária uma redução de 42% nas emissões até 2030, em comparação com os níveis de 2019.2

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Capítulo 1

O dilema dos investidores

Pressões de curto prazo versus desempenho de longo prazo

Como o uso generalizado de informações de ESG indica, os investidores reconhecem a importância econômica e política da sustentabilidade. Eles também entendem que as empresas que fazem a transição para modelos de negócio mais sustentáveis geram valor de longo prazo. No entanto, as pressões macroeconômicas e geopolíticas imediatas significam que a tomada de decisão sobre investimentos ainda é voltada a objetivos de curto prazo.

Quase dois terços (63%) dos investidores pesquisados afirmam que as mudanças no ciclo de negócios — inclusive períodos de crescimento econômico mais lento e recessão — são o fator que afetará de forma mais profunda ou substancial a estratégia de investimento de sua instituição nos próximos dois anos. Em termos dos principais fatores macroeconômicos que podem afetar o desempenho econômico e o ciclo de negócios, é mais provável que os investidores monitorem as restrições e tarifas comerciais (62%), o custo do capital (53%) e o custo e a disponibilidade da mão de obra (50%).


No entanto, embora as questões econômicas pareçam ser seu foco principal, os investidores dizem que também estão priorizando a sustentabilidade. De fato, a maioria dos investidores pesquisados (55%) afirma que o impacto das mudanças climáticas afetará suas estratégias de investimento no curto prazo profunda ou substancialmente. Os investidores da Europa e da América do Norte são muito mais propensos a ver as mudanças climáticas como um promotor das estratégias de investimento do que seus pares de outras partes do mundo. Isso se correlaciona com a maturidade desses mercados em termos de regulamentação e políticas relacionadas às mudanças climáticas.  


Na prática, porém, nem sempre fica claro se os investidores colocam as mudanças climáticas próximo às questões econômicas em suas listas de prioridades. Muitos investidores ainda são motivados pelo desejo de proporcionar retornos de curto prazo a seus clientes. Há até mesmo alguns exemplos amplamente divulgados de empresas que estão sendo pressionadas por seus investidores a manter o status quo, em vez de buscar a transformação para modelos de negócio mais sustentáveis.  

 

Os investidores podem não fazer pressão por mudanças se acreditarem que suas carteiras estão suficientemente diversificadas em termos de riscos relacionados à sustentabilidade. Nesse caso, eles podem não estar particularmente preocupados com a diversificação de risco para cada empresa individualmente. Assim, eles incentivam determinadas investidas em setores expostos a se concentrarem na maximização do valor pelo maior tempo possível por meio de seus modelos de negócio atuais, em vez de fazerem a transição para novos modelos. 

 

Os investidores entrevistados também argumentam que há uma falta de correlação histórica entre os objetivos de sustentabilidade e o desempenho financeiro, o que dificulta a avaliação do desempenho do investimento sustentável. Isso se deve, em parte, à falta de divulgações e dados de alta qualidade, mas também à evolução das abordagens à sustentabilidade nos últimos 30 anos.  

 

A ligação entre a lacuna dizer/fazer e o foco dos investidores no desempenho de curto prazo já era evidente na Pesquisa Global da EY sobre Relatórios Corporativos e Investidores Institucionais de 2022 (pdf). O item mais relevante foi a afirmação por mais de três quartos (78%) dos investidores pesquisados de que as empresas devem fazer investimentos que abordem questões ESG relevantes para seus negócios, mesmo que isso reduza o lucro no curto prazo. No entanto, 53% das grandes empresas pesquisadas para o mesmo estudo revelaram que enfrentaram pressões dos investidores por ganhos de curto prazo, o que as impediu de fazer investimentos de longo prazo em sustentabilidade. Além disso, 20% descreveram os investidores como sendo "principalmente focados em ganhos trimestrais e indiferentes a investimentos de longo prazo, como em sustentabilidade".

Germany, North Rhine-Westphalia, Dusseldorf, Aerial view of traffic on edge of Rheinkniebrucke
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Capítulo 2

Preocupações com a greenwashing

Embora os investidores possam não confiar nas informações das empresas, eles ainda esperam que elas atinjam suas metas.

Juntamente com as pressões de curto prazo, outro fator que pode estar contribuindo para a lacuna entre o que se diz e o que se faz é que os investidores não confiam necessariamente nas informações repassadas pelas empresas. São, portanto, cautelosos quanto à alocação de capital para empresas que alegam ter credenciais de sustentabilidade.  

Mais de quatro em cada cinco investidores entrevistados para a pesquisa (85%) afirmam que o problema da lavagem verde e das declarações igualmente enganosas sobre o desempenho das empresas em sustentabilidade aumentou em comparação com cinco anos atrás. Essa é uma constatação preocupante, que nos leva a questionar se a confiança dos investidores nas informações sobre sustentabilidade corporativa aumentará à medida que mais jurisdições passarem a adotar divulgações obrigatórias e auditadas sobre sustentabilidade — e com a evolução contínua das normas de divulgação e sustentabilidade.

As preocupações atuais dos investidores com a lavagem verde parecem ser validadas pela Pesquisa Global da EY sobre Relatórios Corporativos de 2024, que constatou que as empresas têm dúvidas sobre a credibilidade de seus relatórios não financeiros. Mais da metade dos líderes financeiros pesquisados (55%) acredita que há o risco de os relatórios de sustentabilidade de seu setor serem vistos como relatórios que incluem elementos de lavagem verde.


Dada a falta de confiança nas informações de ESG divulgadas, é surpreendente que 93% dos investidores pesquisados para este relatório digam que estão confiantes de que as empresas cumprirão suas metas de sustentabilidade e descarbonização. Esse quebra-cabeça é acentuado pela pesquisa da EY que sugere que as empresas estão, de fato, tendo dificuldade para atingir suas metas. A Pesquisa Global da EY sobre Relatórios Corporativos de 2024 constatou que menos da metade (47%) dos líderes financeiros acha que é muito provável que sua organização cumpra suas principais prioridades de sustentabilidade e atinja as metas declaradas, como a de emissões líquidas zero no prazo. 

A desconexão entre a confiança dos investidores nas metas e o que as próprias empresas estão dizendo pode ser atribuída a um de vários fatores. Isso poderia sugerir uma ilusão por parte dos investidores ou que os investidores não estão acompanhando o progresso das empresas em relação às suas metas. É mais provável, no entanto, que os investidores estejam monitorando o que as empresas dizem sobre sustentabilidade, mas esperam que elas mudem para metas mais viáveis com o tempo. 

Para proteger seu capital e gerenciar os riscos de forma eficaz, os investidores devem incentivar as investidas a publicar um plano de transição e divulgar seu compromisso financeiro com atividades de transição. O Barômetro de Ação Climática da EY de 2024 constatou que apenas 41% das empresas haviam adotado um plano de transição para a mitigação das mudanças climáticas. Além disso, independentemente de terem ou não um plano de transição, apenas 17% divulgaram os gastos de capital (capex) em relação às iniciativas relacionadas ao clima e apenas 4% divulgaram as despesas operacionais (opex).

Votar pela mudança

Os investidores pesquisados afirmam que apoiam consistentemente as resoluções dos acionistas sobre ESG, com 86% confirmando que seu histórico recente de votação tem sido, em geral, favorável. A pressão política ou social sobre questões ESG é o fator com maior probabilidade de ter influenciado o voto dos investidores em resoluções de acionistas relacionadas a ESG e sustentabilidade (39% disseram que isso teve um impacto substancial). Esse resultado foi praticamente igual ao de iniciativas anteriores relacionadas a ESG e sustentabilidade (38%).

É interessante notar, no entanto, que os resultados da pesquisa não se alinham com dados mais amplos que apontam para níveis muito mais baixos de apoio dos investidores institucionais a resoluções de acionistas relacionadas a ESG. Esse pode ser outro exemplo da lacuna entre o que se diz e o que se faz. Por exemplo, dados dos Princípios para o Investimento Responsável (PRI) revelam que os níveis médios de apoio às resoluções dos acionistas caíram de 28,3% em 2023 para 21,6% neste ano. De acordo com o PRI, há alguns motivos para essa tendência de queda. O primeiro é que os acionistas acreditam que certas resoluções são excessivamente exigentes para serem implementadas pelas empresas, o que faz com que elas sejam retiradas. O segundo é o sentimento anti-ESG, que fez com que alguns acionistas apresentassem resoluções anti-ESG ou não apoiassem as resoluções pró-ESG.3

Além disso, a pesquisa indica certo ceticismo entre os investidores em relação ao potencial de as resoluções relacionadas a ESG e sustentabilidade terem um impacto de longo prazo sobre o valor para os acionistas. Apenas 26% afirmam que o potencial das resoluções para gerar valor de longo prazo influenciou substancialmente o voto de sua empresa. Um número ainda menor (10%) afirma que o voto de sua empresa foi motivado pela crença de que as resoluções afetariam a lucratividade no curto prazo.

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Capítulo 3

Avaliação do impacto das mudanças climáticas

O que os investidores estão monitorando?

Em geral, é provável que a estratégia dos investidores em relação ao investimento em sustentabilidade seja impulsionada por um ou mais dos seguintes fatores: 

  • Política e regulamentação do governo 
  • Sua própria meta de descarbonização ou de emissões líquidas zero 
  • Compromissos assumidos com os clientes em termos de fundo e investimento (mandato do fundo) 
  • Desempenho e risco da carteira, inclusive o risco de ativos irrecuperáveis ou riscos físicos 

Os investidores usam estruturas diferentes para avaliar seus investimentos, dependendo do grau de dependência em políticas, metas, mandatos ou riscos. Nos países nórdicos, por exemplo, alguns fundos de pensão pretendem fazer a transição de suas carteiras de investimento para emissões líquidas zero de gases de efeito estufa até 2050.4 Não são apenas as questões climáticas que os investidores estão monitorando. Cada vez mais, os investidores estão prestando muita atenção a uma ampla gama de outras questões sociais e ambientais, inclusive biodiversidade e natureza, governança e práticas de direitos humanos. 

 

Quando se trata de avaliar o impacto das mudanças climáticas, a pesquisa destacou que os investidores fazem um monitoramento contínuo do desempenho e o risco da carteira. Quase dois terços (64%) dos investidores pesquisados afirmam que há uma probabilidade maior de monitorarem de perto os prejuízos ou os ativos irrecuperáveis vinculados a eventos climáticos extremos ou anômalos. Isso reflete o impacto financeiro direto que essas ameaças podem ter em uma carteira. 

Pesquisas sugerem que os prêmios de seguro para riscos físicos e para proteção contra catástrofes naturais devem aumentar em 50% até 2030, a uma marca entre US$ 200 bilhões e US$ 250 bilhões globalmente.5  Outro relatório prevê que o custo global do desmantelamento de ativos irrecuperáveis do setor de energia pode chegar a US$ 8 trilhões.6

 

Em consonância com suas preocupações em relação a sinistros de seguros e ativos irrecuperáveis, 63% dos investidores também monitoram os relatórios regulares sobre o clima, inclusive os dados sobre o clima, temperaturas, degradação da camada de gelo e outros fatores de longo prazo. Além disso, os investidores estão interessados no que seus pares estão fazendo, sendo que 41% estão atentos às mudanças nas políticas relacionadas ao clima feitas por outros investidores.

Apenas 17% dos investidores pesquisados monitoram as mudanças nas políticas relacionadas ao clima por parte das empresas, o que implica que os relatórios corporativos, da forma como estão, podem não estar fornecendo aos investidores os insights de que precisam para embasar suas decisões mais importantes.

De modo geral, a pesquisa sugere que os investidores consideram as informações macro "externas" mais significativas do que as divulgações específicas sobre a empresa. Apenas 17% monitoram as mudanças nas políticas relacionadas ao clima por parte das empresas, o que implica que os relatórios corporativos, da forma como estão, podem não estar fornecendo aos investidores os insights de que precisam para embasar suas decisões mais importantes. 


Litigância climática

Os investidores também estão monitorando o risco de litigância climática. Houve um aumento nos casos movidos contra empresas e governos, geralmente por grupos de lobby e ativistas que contam com boa arrecadação de fundos. Alguns desses casos questionam as empresas e governos por não tomarem medidas suficientes em relação ao clima. Outros abordam a questão de um ângulo diferente — por exemplo, casos de retrocesso em ESG que desafiam a incorporação do risco climático na tomada de decisões financeiras. Há outros tipos de casos, como o "verde versus verde", que se concentra em possíveis compensações entre clima e biodiversidade ou outros objetivos ambientais. 

Mais que
casos de litígio relacionados a questões climáticas foram iniciados desde 2015 em todo o mundo, de acordo com o Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment da London School of Economics and Political Science.

A litigância climática não é apenas um risco porque é cara e demorada. Independentemente de ganhar ou perder em uma ação judicial, a empresa pode ter sua reputação prejudicada e potencialmente ver a sua imagem perante os clientes, órgãos reguladores e a sociedade em geral afetada, com implicações em todo o seu modelo de negócio. Isso, por sua vez, pode prejudicar o valor da participação dos investidores na empresa. 

Cientes dos riscos apresentados pela litigância climática, os investidores estão examinando cuidadosamente sua exposição. Quase metade (49%) dos pesquisados realiza análises estruturadas do risco de litígios relacionados ao clima movidos contra sua empresa por clientes ou stakeholders, enquanto 40% realizam uma análise pontual. Da mesma forma, 49% dos investidores afirmam que sua instituição realiza uma análise estruturada do risco de litígios relacionados ao clima contra as empresas em que investem, e 38% realizam uma análise pontual.


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Capítulo 4

Relatórios de sustentabilidade

Procura por informações úteis para a tomada de decisão

Os investidores têm acesso a uma grande quantidade de informações sobre sustentabilidade graças ao número significativo de iniciativas e estruturas lançadas desde o lançamento da Global Reporting Initiative em 1997. Informações adicionais serão disponibilizadas à medida que as empresas passarem a emitir relatórios de acordo com as normas do International Sustainability Standards Board (ISSB) e com as normas europeias para relatórios de sustentabilidade (European Sustainability Reporting Standards - ESRS), que fazem parte da diretiva para os relatórios de sustentabilidade de empresas (Corporate Sustainability Reporting Directive CSRD) da União Europeia. 

No entanto, apesar da expectativa de aumento no número de relatórios de sustentabilidade, aparentemente os investidores não estão recebendo informações úteis para a tomada de decisão. Mais de um terço dos entrevistados (36%) estão insatisfeitos com o progresso feito pelas entidades na divulgação de novos relatórios de desempenho não financeiro. Além disso, os investidores estão mais decepcionados com a materialidade, comparabilidade e precisão dos dados de sustentabilidade. Quatro em cada cinco investidores pesquisados (80%) acreditam que a materialidade e a comparabilidade dos relatórios de sustentabilidade precisam ser melhoradas, sendo que 62% dizem o mesmo em relação à precisão. 


Muitas das melhorias que os investidores estão buscando em termos de materialidade, comparabilidade e precisão seriam vistas se ambas as normas, ISSB e ESRS, forem implementadas na prática. No entanto, ainda é cedo para ambas. As Normas ISSB, que atendem especificamente às necessidades dos investidores, podem ser aplicadas para períodos a partir de janeiro de 2024 (observação: as Normas ISSB exigem a adoção pelas autoridades das jurisdições locais antes de serem obrigatórias), já as primeiras entidades a reportar de acordo com a CSRD farão a divulgação em 2025 com base em dados de 2024. À medida que os benefícios das Normas se tornarem mais claros para os investidores, estes terão mais confiança na qualidade dos relatórios de sustentabilidade das entidades , o que ajudará a fechar a lacuna entre o que se diz e o que se faz. 

Por enquanto, no entanto, os investidores ainda têm opiniões divergentes sobre a provável utilidade das Normas ESRS e ISSB. Eles acreditam que as normas ISSB são mais adequadas para investidores e entidades, o que provavelmente é um reflexo do foco em "informações relevantes que poderiam afetar as perspectivas da entidade". Além da materialidade financeira, as normas ESRS exigem a aplicação de uma lente de "materialidade de impacto". No entanto, há uma percepção de que, embora tanto as normas ISSB quanto as ESRS sejam adequadas para dar suporte à tomada de decisão sobre investimentos de longo prazo (para o qual foram criadas), não são adequadas para embasar a tomada de decisão sobre investimentos de curto prazo. Esse é um desafio para os investidores que entendem a importância de investir a longo prazo, mas cujo desempenho é medido a cada trimestre — uma situação que exacerba, motiva e até incentiva a lacuna entre o que se diz e o que se faz. Além disso, menos de um terço (29%) dos investidores acreditam que as normas ESRS são suficientemente detalhadas e completas para a tomada de decisão sobre investimentos, enquanto 22% dizem o mesmo sobre as normas ISSB. 

Em muitos casos, as informações divulgadas de acordo com as normas ESRS devem ser auditadas por um terceiro independente. Embora as Normas ISSB tenham o objetivo de gerar informações prontas para a auditoria, cabe às autoridades das jurisdições locais determinar elas precisam ser auditadas. Os investidores certamente veem a auditoria como um benefício em termos de melhoria da qualidade das informações fornecidas pelas entidades. Quase dois terços (64%) dos entrevistados concordam que os relatórios emitidos de acordo com as normas ISSB e ESRS devem ser auditados de forma independente.


Avaliação das informações de desempenho não financeiro

Em geral, os investidores confiam em sua capacidade de avaliar as divulgações relacionadas à sustentabilidade das empresas. Mais de dois terços (68%) dos investidores pesquisados se sentem confortáveis ou adequadamente informados para avaliar as informações relacionadas às práticas ESG das cadeias de suprimentos, enquanto 62% dizem o mesmo em relação às informações relacionadas ao clima. 

No entanto, os investidores sentem-se muito mais confiantes em relação à avaliação dos impactos de curto prazo do desempenho e das políticas ESG em comparação com os impactos de longo prazo. 

No entanto, os investidores sentem-se muito mais confiantes em relação à avaliação dos impactos de curto prazo do desempenho e das políticas ESG em comparação com os impactos de longo prazo. Isso provavelmente se deve às variáveis e incógnitas que podem dificultar a modelagem de riscos e resultados de longo prazo.


Aerial view above of wooden pier crossing Jubail Mangrove Park in Abu Dhabi, United Arab Emirates
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Capítulo 5

Perspectivas futuras

A lacuna entre o que se diz e o que se faz diminuirá no futuro?

A pesquisa não deixa claro se a lacuna entre o que os investidores dizem sobre a integração da sustentabilidade em suas decisões e o que eles fazem na prática poderá diminuir — ou aumentar ainda mais — no futuro próximo.  

Por um lado, os investidores mostram alguns sinais de "fadiga da sustentabilidade" e reconhecem as dificuldades envolvidas na quantificação e venda dos benefícios ESG, de criação de valor de longo prazo, quando o desempenho das empresas no curto prazo não for robusto. Por outro lado, eles continuam a focar na sustentabilidade de forma significativa. Eles também estão tentando entender melhor a sustentabilidade, tanto como um risco quanto como uma geradora de valor para suas carteiras, de modo que possam incluí-la em suas estratégias de investimento. 

A realidade é que, muitas vezes, os investidores estão em níveis diferentes de maturidade, dependendo do mercado em que investem. Alguns investidores, principalmente na Europa, estão exigindo que as empresas prestem contas sobre questões como metas e remuneração. Nos EUA, por outro lado, os investidores estão mais cautelosos. Eles enfrentaram uma reação anti-ESG que resultou em processos contra alguns fundos de pensão por violarem suas obrigações fiduciárias ao considerarem os riscos relacionados a ESG na tomada de decisão sobre investimentos. Além disso, há incertezas sobre os efeitos de uma mudança de governo em janeiro. No entanto, com base na experiência de 2016 a 2020, observamos que os investidores continuaram a se concentrar no ESG como um risco de investimento, apesar do ambiente político, e a previsão é que essa tendência deve persistir.

No entanto, a tendência global permanece inalterada; os maiores mercados do mundo ainda possuem metas ambiciosas de emissões líquidas zero. A China quer atingir a neutralidade de carbono antes de 2060, por exemplo, enquanto a UE e os EUA têm como meta a emissão líquida zero até 2050. O cumprimento dessas metas exigirá que os governos lancem grandes projetos de infraestrutura e que as empresas desenvolvam novos modelos de negócio voltados para a sustentabilidade. Por sua vez, o vínculo na economia real entre sustentabilidade e competitividade provavelmente começará a ser visto como uma estratégia de investimento positiva. As perdas financeiras associadas a eventos climáticos extremos — que provavelmente só aumentarão em frequência e intensidade — incentivarão os investidores a manter o foco na sustentabilidade, pelo menos no que diz respeito ao clima. É provável que o risco climático seja uma das maiores disrupções enfrentadas pelas empresas nos próximos 20 a 30 anos. 

É provável que o risco climático seja uma das maiores perturbações enfrentadas pelas empresas nos próximos 20 a 30 anos

Enquanto isso, a compreensão sobre os riscos econômicos associados à natureza está se tornando muito mais ampla, pressionando as empresas a agirem com rapidez. De fato, uma pesquisa da Universidade de Oxford previu que os choques na economia global relacionados à perda de biodiversidade e aos danos ao ecossistema poderiam custar mais de US$ 5 trilhões.7 Em vista desses desafios, faz sentido que um investidor entrevistado para o estudo tenha descrito o atual hiato por parte dos investidores como "um desvio temporário".

No futuro, uma estratégia de investimento sustentável exigirá que os investidores integrem a sustentabilidade de forma ampla em toda a sua carteira, em vez de limitar o investimento em sustentabilidade a um pequeno conjunto de características e empresas. Consequentemente, os investidores precisarão ter a capacidade de mensurar o risco do investimento com mais precisão e a mentalidade para buscar melhores oportunidades de investimento de forma proativa.

Além disso, a "Maior Transferência de Riqueza" 8 (a transferência intergeracional de riqueza) já começou. Com essa mudança, uma nova geração de proprietários de ativos mais motivados pela sustentabilidade provavelmente estará buscando resultados relacionados à sustentabilidade juntamente com os retornos financeiros. Os investidores que não estiverem preparados para essa transição, com estratégias de investimento e históricos adequados, devem ficar para trás.

Os gestores de ativos já reconhecem que seus clientes estão exigindo produtos de investimento sustentáveis e tentam atender a essa demanda. Mais de três quartos (77%) dos gestores de ativos pesquisados afirmam ter aumentado seu foco no desenvolvimento de produtos de investimento relacionados a ESG, inclusive fundos mútuos e fundos negociados em bolsa. Uma porcentagem semelhante (74%) observa que o interesse dos clientes em produtos de investimento relacionados a ESG aumentou substancialmente ou um pouco no último ano.


Evaporation Ponds at Cargil Industrial Plant
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Capítulo 6

Chamada à ação

Recomendações para investidores e empresas sobre como fechar a lacuna entre o que se diz e o que faz.

Espera-se que fechar a lacuna entre o que se diz e o que faz resulte na alocação de mais capital a organizações que fazem uma diferença positiva no longo prazo. Além disso, isso permitirá que a sustentabilidade seja reconhecida pelo que ela é — não apenas como um risco para a carteira, mas como uma importante geradora de valor para as estratégias de investimento.  

Como podemos fechar essa lacuna? Essas recomendações para investidores e empresas podem ajudar a aumentar a confiança na sustentabilidade como uma geradora de valor de longo prazo, dar suporte ao cumprimento das metas e acelerar a transição para uma economia de emissões líquidas zero:  

Os investidores devem

As empresas devem


Sumário

Os riscos e as oportunidades de investimento apresentados pelas mudanças climáticas e pela sustentabilidade têm implicações de longo alcance para as empresas e seus modelos de negócio. Consequentemente, os investidores devem considerá-los como parte integrante de sua estratégia de investimento, em vez de uma aplicação de nicho a um subconjunto de mandatos e produtos. Com essa abordagem, eles conseguirão equilibrar as demandas de curto prazo com o valor de longo prazo e fechar a lacuna entre o que se diz e o que se faz.

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