6 jun 2023

A nova geração de conectividade abre grandes oportunidades e cria caminhos para solucionar os principais desafios do setor de M&M

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5G: Rumo à mineração do Futuro

Autores
José Ronaldo Rocha

Sócio da EY e Líder de consultoria para Tecnologia, Mídia & Entretenimento e Telecomunicações (TMT) para LAS

Sócio da EY e Líder de consultoria para Tecnologia, Mídia & Entretenimento e Telecomunicações (TMT). Atua em projetos estruturantes na América Latina.

João Brito

Líder de Value Chain Integration para Mineração & Metais na EY

Consultor experiente em cadeias de valor nos setores de Energia e Mineração e Metais.

Bruno Balbi

Líder de Supply Chain & Operations para Mineração & Metais na EY

Líder em transformações de Supply Chain e Operações e Executivo de Automação Industrial. Hiperfoco do cliente. Apaixonado pela indústria de mineração. Pessoas no centro de tudo.

6 jun 2023
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A nova geração de conectividade abre grandes oportunidades e cria caminhos para solucionar os principais desafios do setor de M&M

Aimplementação da tecnologia 5G no mercado brasileiro traz novos recursos e soluções tecnológicas e viabiliza inúmeras possibilidades de evolução dos negócios. Na área de Mineração & Metais (M&M), por exemplo, tem o potencial de incrementar as iniciativas ESG das empresas, reinventar processos operacionais e garantir mais segurança e desenvolvimento.

Diferente das gerações anteriores de conectividade, que foram desenvolvidas para atender usuários com mobilidade em suas necessidades de comunicação, para o 5G também foram desenvolvidas soluções específicas para a comunicação entre dispositivos, seja com aplicação de sensores em larga escala mMTC (massive Machine Type Communications) seja com dispositivos que operem com baixa latência e alta confiabilidade (URLLC – Ultra Reliable Low Latency Communication).

O núcleo de controle para as redes 5G também teve grande evolução, com recursos de controle descentralizados viabilizando a menor latência das comunicações. A incorporação de novas tecnologias, como SDN (Software Defined Network), NFV (Network Function Virtualization) e Rede em Camadas (Slicing Network), oferecem muito mais flexibilidade no desenvolvimento e gestão de aplicações, e no desenvolvimento de redes privativas especializadas.

Esses desenvolvimentos garantem uma grande evolução, que pode ser considerada uma disrupção para o setor, pois irá viabilizar sensores em larga escala em todo o ambiente de M&M. Dispositivos de baixa latência e alta confiabilidade serão utilizados para suportar aplicações críticas, aplicações customizadas e redes privativas, desenhadas especificamente para atender aos exigentes requisitos em ambientes específicos de M&M.

Ao contrário do que acontece na maioria dos setores da economia, em que é possível construir a infraestrutura em localidades próximas do mercado consumidor, em M&M toda a conectividade precisa ser levada para o local de extração da matéria-prima. E, normalmente, as minas estão em lugares remotos – seja aqui no Brasil, no Canadá, na Austrália ou na China – com logística e conectividade bem menos evoluídas.

Essa característica de contar com operações em regiões onde não há desenvolvimento humano e social, e sim em localidades remotas, faz com que a iniciativa privada tenha um papel essencial: o de levar modernização e crescimento a lugares distantes, com grande impacto ecológico e social. Com os recursos tecnológicos 5G, essa ação ganhará uma importância muito maior no desenvolvimento regional.

No que diz respeito à infraestrutura de comunicação, a necessidade de levar esses recursos a localidades muito distantes dos grandes centros faz com que a iniciativa privada tenha assumido, nas últimas décadas, o papel de construir redes com alto grau de confiabilidade e performance, para que a operação da mina seja viabilizada.

A tecnologia 5G coloca a questão da conectividade sob um novo olhar. Expandindo-se em aplicações de rede corporativa, permite criar um ecossistema de dispositivos para impulsionar os negócios. A comunicação 5G traz um delay mais baixo, com confiabilidade ultra-alta em redes privativas construídas pelas empresas de M&M e que evoluem conforme a oportunidade de adotar novas aplicações e aumentar a segurança das operações.

Tradicionalmente desenvolvidas de forma descentralizada, pelo imperativo geográfico de contar com operações espalhadas em regiões com acessibilidade restrita, as operações das minas poderão, a partir de agora, mudar essa lógica. Assim, o 5G faz com que o setor de M&M passe a atuar com operações remotas e/ou autônomas, que utilizam redes de alta performance, aplicações massivas e soluções de ultraconfiabilidade e baixa latência para missões críticas.

 

5G e riscos de negócios

Há 13 anos, a EY desenvolve um estudo global sobre riscos e oportunidades de negócios no setor de Mineração e Metais. O estudo de 2021 foi elaborado a partir de entrevistas com mais de 250 executivos do setor, em sua maioria C-level, e a análise dos principais pontos identificados mostra que a conectividade 5G tem um grande potencial para minimizar riscos e destacar oportunidades para as empresas do setor.

Em um momento no qual o escrutínio sobre os aspectos ESG do setor de M&M é maior do que nunca, a conectividade 5G oferece muitos ganhos para as empresas e seus stakeholders. Em primeiro lugar, o uso de redes de alta velocidade e dispositivos de baixa latência permite a operação remota da mina. Nesse modelo, uma base de operação pode ser implementada em uma região mais acessível para controlar uma ou várias minas.

A operação remota traz a vantagem de diminuir a quantidade de colaboradores em condições de alto risco e evitar a circulação de pessoas em ambientes com potencial de acidentes ou liberação de substâncias tóxicas. A segurança dos colaboradores, dos processos operacionais e da comunidade também faz com que a tecnologia 5G viabilize, por exemplo, o uso de equipamentos anticolisão para prevenção de acidentes.

Em minas subterrâneas, onde a operação remota de equipamentos é limitada, a conectividade 5G permite monitorar individualmente não somente a localização de cada colaborador, mas também seu estado de saúde. Dessa forma, diminui a possibilidade de ocorrências de acidentes nas minas, controlando e elevando a eficiência de toda a operação.

Acrescente a esses pontos o aumento da capacidade de monitoramento da estrutura física das minas e a conectividade 5G se torna um elemento importante para dirimir o principal risco identificado no estudo: a concessão e manutenção de licenças de operação. As comunidades locais têm expectativas cada vez mais elevadas sobre o respeito aos direitos indígenas e de nativos, enquanto cresce o debate sobre o papel do setor de M&M para a economia e aumenta a pressão para entregar a propriedade dos ativos às comunidades locais. O conjunto de aplicações potencializado pelas tecnologias 5G aumenta o controle das empresas e da sociedade sobre a exploração dos recursos naturais e pode funcionar como um fator pacificador nessa relação, trazendo eficiência e controle às operações, assim como segurança para todos os envolvidos – gestores de M&M, comunidades e poder público.

O segundo maior risco identificado são os riscos de alto impacto, identificados como eventos raros para os quais as empresas, colaboradores e comunidades estão pouco preparados. O aspecto mais relevante é o fato de que, como a pandemia deixou claro, respostas imediatas a situações de crise têm consequências significativas sobre a empresa e a imagem da marca. As tecnologias 5G viabilizam a aceleração da comunicação entre os stakeholders, aumentam a transparência dos processos e ampliam a velocidade da inovação. Com isso, as empresas de M&M se tornam mais ágeis e flexíveis, aumentando sua velocidade de reação a eventos de impacto.

A conectividade 5G também tem um impacto significativo sobre a produtividade e o aumento dos custos, vistos no estudo da EY como o terceiro fator de risco mais importante para o setor de M&M. Afinal, durante a pandemia, muitas minas permaneceram operacionais, mesmo que com restrições e, a partir de um aumento de custos trazido por despesas operacionais com novos protocolos, testes e apoio à força de trabalho; adiamento de manutenções não essenciais; e atrasos na cadeia de suprimentos elevando custos.

A tecnologia 5G contribui para reverter esse aumento de custos, seja reduzindo custos operacionais, permitindo o monitoramento remoto de equipes, automatizando processos, garantindo segurança, identificando equipamentos que exigem manutenção e aumentando a integração da cadeia por meio da melhoria de conectividade introduzida. Com operações mais integradas e a coleta de uma quantidade exponencialmente maior de dados, as empresas de mineração e metais têm a oportunidade de aumentar o uso de machine learning para tomar decisões melhores e mais confiáveis em tempo hábil e converter desafios em oportunidades.

 

Desafios para 5G em Mineração & Metais

Embora o potencial seja claro, a implementação da conectividade 5G em M&M envolve uma série de desafios internos e externos. O “EY Reimagining Industries Future Study 2022”, baseado em entrevistas realizadas com mais de 1.000 empresas em todo o mundo em diversas verticais e geografias, apresenta diversos insights e recomendações com base no uso empresarial de 5G e IoT, concluindo que, em M&M, os cenários mais importantes de uso de 5G estão relacionados a:

  • Controle e monitoramento da infraestrutura remota: a tecnologia 5G, aliada à IoT, viabiliza o controle de plataformas de mineração e processos/estruturas de transporte. Na edição 2022 do estudo, esse item foi apontado como relevante por 35% dos entrevistados, contra 29% no ano anterior;
  • Integração e gestão de fontes de energia renovável: com 28% de citações, foi o segundo item mais relevante para os entrevistados, evoluindo em relação aos 24% da edição 2021;
  • Automação da logística: outra área em que a conectividade 5G apresenta um grande potencial de ganho de produtividade e eficiência para o setor de M&M, passou a ser considerado relevante por 27% dos entrevistados (22% um ano antes).

Os entrevistados do setor de M&M apontam a oportunidade de explorar a integração do 5G com outras tecnologias como a principal prioridade de uso desses sistemas nos próximos anos (40% de citações). Além disso, o uso de Internet das Coisas (IoT) deverá ser fortemente impulsionado pela maior disponibilidade de redes 5G, exigindo uma adaptação das atuais estratégias de IoT (36%). A exploração do impacto do 5G em futuras oportunidades de negócios (36%) e o alinhamento da tecnologia com outras soluções, como edge computing e cloud (35%) também estão no topo das prioridades estratégicas das empresas do setor.

Para que essas possibilidades do uso de 5G se tornem realidade, porém, será preciso vencer significativos desafios, tanto internos quanto externos. Internamente, as empresas de M&M precisarão ultrapassar aspectos como:

  • Baixo entendimento de como 5G se relaciona a outras tecnologias emergentes, como edge computing;
  • Complexidade de integração de 5G com tecnologias atualmente dominantes na infraestrutura corporativa; e
  • A relevância limitada atual da tecnologia 5G na estratégia de negócios.

Esses aspectos críticos para a organização mostram que é preciso realizar um trabalho ativo de conscientização de todos os níveis corporativos quanto ao potencial transformador da conectividade 5G, bem como o horizonte de tempo em que esse potencial poderá ser realizado. Sem isso, a organização corre o risco de criar expectativas elevadas demais, ou de não desenvolver o senso de urgência necessário para que a adoção de 5G aconteça.

Como se não bastasse, também é preciso superar desafios externos, especialmente aqueles ligados às políticas e regulamentações ao uso de 5G, que não estão sob controle das organizações. Desenvolver canais de relacionamento com os agentes públicos por meio de instituições setoriais, ao mesmo tempo em que se trabalha o desenvolvimento de um ecossistema de parceiros 5G, permitirá também endereçar outro desafio crescente: a vulnerabilidade dos negócios a riscos de cibersegurança e proteção de dados.

 

Rumo à mineração do futuro

A infraestrutura disponibilizada pela comunicação 5G habilita o desenvolvimento de minas digitais. Passa a ser possível criar um “gêmeo digital”, com mapeamento em tempo real e equipamentos que atuam de forma autônoma para monitorar estruturas subterrâneas, barragens e pessoas. Nesse ambiente digitalizado, passa a ser possível tomar decisões automáticas a partir de recursos de advanced analytics, em que os próprios aparelhos aprendem e tomam decisões sozinhos. É algo que ainda não existe, mas será viabilizado nos próximos anos pelo uso de 5G.

Dessa forma, o setor de M&M se tornará mais eficiente, confiável, seguro e aderente aos padrões de excelência ESG. Com o processamento adequado, passa a ser possível prever e tomar medidas proativas em situações como instabilidades de estruturas, cálculo da disponibilidade de recursos naturais, questões logísticas e sincronização da produção com a cadeia de suprimentos.

Essa não será uma evolução linear, e sim uma disrupção em relação ao que temos hoje. As tecnologias 5G e suas aplicações permitirão que as empresas de M&M projetem sistemas específicos, customizados e de alta eficiência, Não será possível encontrar empresas M&M eficientes que não utilizem recursos 5G e suas aplicações. Será uma evolução muito acelerada que está prestes a acontecer. Prepare-se!

Colaborou: Eduardo Moreno, consultor sênior e especialista em 5G e IoT 

Resumo

A nova geração de conectividade abre grandes oportunidades e cria caminhos para solucionar os principais desafios do setor de Mineração e Metais. Nesse novo ambiente, passa a ser possível tomar decisões automáticas a partir de recursos de advanced analytics, em que os próprios aparelhos aprendem e tomam decisões sozinhos. Assim, o 5G faz com que o setor de M&M passe a atuar com operações mais eficientes, confiáveis, seguras e aderentes aos padrões de excelência ESG, contribuindo para reduzir custos operacionais, monitorar times remotamente e aumentando a integração da cadeia por meio da melhoria da conectividade. 

Sobre este artigo

Autores
José Ronaldo Rocha

Sócio da EY e Líder de consultoria para Tecnologia, Mídia & Entretenimento e Telecomunicações (TMT) para LAS

Sócio da EY e Líder de consultoria para Tecnologia, Mídia & Entretenimento e Telecomunicações (TMT). Atua em projetos estruturantes na América Latina.

João Brito

Líder de Value Chain Integration para Mineração & Metais na EY

Consultor experiente em cadeias de valor nos setores de Energia e Mineração e Metais.

Bruno Balbi

Líder de Supply Chain & Operations para Mineração & Metais na EY

Líder em transformações de Supply Chain e Operações e Executivo de Automação Industrial. Hiperfoco do cliente. Apaixonado pela indústria de mineração. Pessoas no centro de tudo.

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