Os negócios de impacto social têm ganhado cada vez mais espaço no Brasil. Ao alinhar o lucro com o enfrentamento de questões ou demandas sociais, há ganho de escala próprio da lógica do mercado, o que agiliza a solução para esses desafios. Carolina Ignarra e Juliana Ramalho, da Talento Incluir, estão entre essas empreendedoras de impacto social e foram homenageadas na categoria Winning Women da edição deste ano do EOY. “A pessoa com deficiência ainda é invisibilizada no Brasil. O mercado ainda não entende que existimos, consumimos e somos, portanto, negócio. Essa é uma pauta de impacto social que tem um longo caminho pela frente, apesar dos avanços conquistados nos últimos anos, como a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência”, disse Carolina.
Confira abaixo a entrevista na íntegra.
1) Como vocês têm contribuído para a inclusão das pessoas com deficiência?
CAROLINA: A Talento Incluir tem a missão de colaborar com o desenvolvimento das pessoas com deficiência ampliando sua inclusão no mercado de trabalho e na sociedade como um todo. Ainda há uma invisibilidade no Brasil em relação à pessoa com deficiência, ainda que tenhamos avançado nos últimos anos como país, com a aprovação, por exemplo, da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência em 2015. O desafio é fazer com que o mercado nos enxergue, entendendo que existimos, consumimos e somos, portanto, negócio. Há um indicador que aponta para 9% de PCDs na sociedade brasileira, mas não acredito nesse número porque a OMS (Organização Mundial da Saúde) indica que o mundo tem 15% de pessoas com deficiência. É impossível que o Brasil tenha somente pouco mais da metade do número global, com todos os riscos que existem aqui de as pessoas adquirirem deficiência, como a violência que assola nossas cidades e os inúmeros acidentes de trânsito.
A regulação mencionada tem cumprido seu papel para que sejamos vistos, prevendo inclusive o direito à empregabilidade. Nós trabalhamos para que a lei não exista no futuro, mas entendo que hoje ela é extremamente necessária para garantir nossa representatividade no mercado de trabalho. Ainda que haja muito a avançar no Brasil, especialmente em educação e acessibilidade, o país é referência global no mercado de trabalho para PCDs. Temos visto que as multinacionais destacam suas iniciativas no Brasil nas apresentações para outros países.
2) E como tem sido o trabalho em relação à pauta de combate ao etarismo?
JULIANA: Depois que fizemos o programa de mentoria da EY, o Winning Women, expandimos nosso negócio com a criação da Talento Sênior, que promove a empregabilidade para os profissionais com mais de 45 anos de idade. Já tínhamos o plano de negócio na gaveta, e a mentoria nos deu força para colocá-lo em prática. O combate ao etarismo é, na realidade, uma pauta econômica, já que, em uma sociedade com casais tendo em média 1,7 filho, haverá no futuro o predomínio de pessoas mais velhas. As empresas, que já perceberam isso, estão se adiantando, pois sabem que não apenas a força de trabalho será mais velha como a de consumo dos seus produtos e serviços. Estamos no começo dessa onda, que ganhou força depois da pandemia.
Claro que ainda predomina o cenário de dificuldade de voltar ao mercado de trabalho para as pessoas com mais de 45 anos. É preciso não apenas dar oportunidade a elas, como também treiná-las em relação ao uso da tecnologia em um contexto de ascensão da inteligência artificial. A integração desse profissional não precisa ser em jornada integral de trabalho, já que existem formas flexíveis na legislação, como a contratação por projeto. Há diversas características muito bem-vindas nesses profissionais, como o fato de serem solucionadores de problemas, o que se deve à sua experiência ao longo da carreira. As pequenas e médias empresas, por exemplo, que são tradicionalmente carentes de talento, têm muito a ganhar com esses profissionais.
3) Como vocês se sentem sendo homenageadas na 27ª edição do EOY?
CAROLINA: Os reconhecimentos do trabalho, como o EOY, encurtam o caminho de validação do negócio. Eles são importantes não apenas para o mercado valorizar nosso esforço, mas também para que possamos aprender com a experiência de outros empreendedores sobre aspectos diversos do negócio como processos e governança. Somos muito agradecidas também pela oportunidade do Winning Women. Participamos da turma de 2019 e podemos dizer que o programa nos aperfeiçoou como sócias. Triplicamos nosso propósito e faturamento nesses anos pós-programa de mentoria. Quanto mais gente alcançamos com nosso negócio, mais vontade temos de continuar.
JULIANA: Um reconhecimento como o EOY mostra que precisamos nos valorizar. No dia a dia, o empreendedor pensa muitas vezes em desistir porque as dificuldades vão se sucedendo. O EOY dá motivação para essa jornada ao demonstrar que o esforço está valendo a pena, motivo pelo qual precisamos seguir em frente.
Edição 2024 do EOY
Idealizado e promovido pela EY desde 1998 no Brasil, o programa Empreendedor do Ano reconhece líderes empresariais de setores e mercados distintos que, com sua visão de futuro, têm algo em comum: a vontade de transformar a realidade do país, deixando seu legado e contribuindo para a construção de um mundo de negócios melhor. Saiba mais no site do EOY e inscreva-se aqui para participar da próxima edição, a de número 28.
Este conteúdo faz parte da série da Agência EY com representantes homenageados da edição 2024 do programa EOY - Empreendedor do Ano. Leia abaixo as entrevistas anteriores.
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