O agronegócio começa a usar a inteligência artificial para aumentar a produtividade e tornar mais eficientes diversas atividades. “Já vemos a adoção da IA para previsão de safra; manutenção preventiva de equipamentos; gestão da logística, da cadeia de suprimentos e dos riscos climáticos; precificação dinâmica; e previsão de churn, além do monitoramento do solo”, disse Felipe Camargo, gerente de Digital Engineering da EY Brasil, que participou do painel “Destravando o poder da IA no agro”, realizado no GAFFFF (Global Agribusiness Festival), que ocorreu na semana passada em São Paulo.
Ainda segundo o executivo, há um movimento de “aitização” (o processo de transformação provocado pela IA) de todos os setores econômicos, incluindo o de agro, o que vai impulsionar a demanda por eletrificação no mundo. “Os data centers são a infraestrutura que viabiliza todas as formas de IA. No ano passado, a demanda energética deles equivaleu a todo o consumo do Brasil, e a perspectiva para 2030 é que esse consumo advindo dos data centers seja próximo ao registrado no Japão”.
Para Denis Balaguer, diretor de inovação e do EY wavespace para América Latina, que também palestrou no evento, estamos passando com a IA pela maior revolução tecnológica em décadas, que somente pode ser comparada com a eletrificação. “A fronteira que estamos destravando é a de potencialização da produtividade humana, o que fará com que consigamos fazer mais coisas com qualidade superior e em menor tempo”, observou. Em relação ao agro, Denis comentou que o crescimento do Brasil depende em larga medida do seu desempenho, e esse ganho de produtividade permitido pela IA para o setor dará ao agro vantagens comparativas ainda maiores em relação aos outros países.
Aspectos de governança
O CIO da Motz, Marcelo Ortega, que também contribuiu para as discussões do painel, disse que as empresas precisam se preocupar com a governança. “Isso inclui aspectos como os limites no uso dessa tecnologia – até onde ela pode ir. Costumo perguntar para as pessoas se elas entregariam para a IA suas senhas do LinkedIn a fim de que a inteligência artificial visse suas postagens, escrevesse e curtisse o que bem entendesse. A resposta é sempre não. Por que então faríamos isso com os dados da empresa?”.
A Motz, transportadora digital do Grupo Votorantim, conta com 90 mil motoristas cadastrados em sua plataforma. “Somos digitais porque usamos o digital em toda a cadeia – desde o perfil do motorista cadastrado até a entrega da mercadoria ao cliente. A logística no Brasil, inclusive do agro, depende do modal rodoviário, que responde por 60% da carga transportada”, afirmou. O mercado, ainda segundo Ortega, é pulverizado, com 130 mil transportadoras, sendo que a líder não detém nem mesmo 1% de share.
O executivo destacou que a Motz está usando a IA para facilitar a vida dos motoristas, que, de forma geral, no Brasil não têm o hábito digital. Depois de analisar a jornada deles, a empresa notou que os motoristas enfrentam dificuldades para receber o dinheiro do frete. “O motorista depois que viaja vários dias para fazer a entrega tem duas coisas na mão: uma nota fiscal e uma conta corrente precisando do dinheiro do frete. Para receber esse valor, ele tem que viajar até um posto credenciado para poder dar baixa na documentação e receber o dinheiro pela prestação do serviço. É esse posto que vai verificar se está tudo certo com o documento para o motorista receber sua remuneração pelo frete realizado”.
Por meio da IA, a Motz, no seu aplicativo, passou a oferecer aos motoristas o recebimento instantâneo do valor. “Logo depois da entrega, basta apontar o celular para o documento. O app analisa a validade dele, o que inclui as assinaturas, depositando o dinheiro na conta”, disse. O resultado, ainda segundo o executivo, foi o aumento da satisfação do motorista, o que por consequência fideliza o cliente da Motz.
Verificação da real necessidade de utilizar IA
Por fim, Edson Alves, CIO da Louis Dreyfus Company (LDC), empresa do agro com foco no trade que atua em várias culturas como milho, soja, açúcar, café e laranja, comentou que começou essa jornada alguns anos atrás com a modernização da infraestrutura, por meio da implementação dos ambientes corporativos na cloud e da adoção do Copilot, liberando licenças para verificar o que a IA poderia oferecer.
Na visão do executivo, um dos maiores desafios é gerenciar as expectativas internas. “Em um trabalho recente, selecionamos algumas áreas da empresa, listando mais de cem dores relatadas por elas. Ao analisar essas necessidades, percebemos que 60% não precisavam de uma IA, mas de uma simples mudança de processo”, completou. Essa questão, aliada ao desafio de justificar o custo-benefício da IA, precisa ser avaliada pelas organizações, que devem estar também atentas à segurança da informação e à governança em relação ao uso desses sistemas, ainda segundo o CIO.
A inteligência artificial tem sido cada vez mais utilizada pelas empresas para inovar e tornar mais produtivo o dia a dia dos seus negócios. Há, no entanto, diversas dúvidas sobre como desenvolver e operacionalizar esses sistemas evitando os riscos que podem comprometer os resultados financeiros e a reputação das organizações. Nesse contexto, a EY lançou a série “IA aplicada aos negócios: Como utilizar essa tecnologia com segurança e governança para gerar inovação”, que, além desta reportagem, já publicou as seguintes:
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