4 Minutos de leitura 18 jan 2021

Possíveis cenários de crescimento do PIX para os próximos 5 anos e como isso pode impactar outros meios tradicionais

Autores
Rafael Schur

Sócio da EY e Líder do segmento de Mercado de Serviços Financeiros para o Brasil

Líder do segmento de Mercado de Serviços Financeiros, Rafael acumula mais de 25 anos de experiência no desenvolvimento de soluções para projetos que alinham estratégia, governança e tecnologia.

Chen Wei Chi

Sócio líder de Transformação de Negócios e Inovação para Serviços Financeiros e Open Finance

Entusiasta de assuntos relacionados com foco no cliente e tecnologia.

Ivan Habe

Associate Partner Líder de Pagamentos da EY

Consultor de negócios para o setor de pagamentos. Entusiasta e cheio de energia.

4 Minutos de leitura 18 jan 2021
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  • Estudo EY: Possíveis cenários de crescimento do PIX para os próximos 5 anos

O PIX vai criar novas oportunidades aos negócios e permitir maior democratização dos pagamentos.

No dia 16 de novembro de 2020 foi lançado o PIX, novo arranjo de pagamentos instantâneos gerido e operado pelo Bacen, que é baseado em uma plataforma SPI (Sistema de Pagamentos Instantâneos) e uma base de endereçamento (DICT) com interoperabilidade nacional.

Trata-se de um método inovador e interoperável que possibilitará que o dinheiro seja transferido de uma conta para outra em poucos segundos. O PIX possui características únicas que o distinguem de outros meios de pagamentos e que poderão ser exploradas por consumidores e empresas, permitindo maior inclusão de pessoas no sistema financeiro, maior facilidade das transações e menores custos para os usuários.


O PIX possui características únicas que o distinguem de outros meios de pagamentos e que poderão ser exploradas por consumidores e empresas, permitindo maior inclusão de pessoas no sistema financeiro, maior facilidade das transações e menores custos para os usuários.

  • Disponibilidade: clientes e empresas podem enviar e receber dinheiro 24x7x365 dias por ano e, inclusive, entre contas de diferentes instituições 
  • Velocidade: os fundos estarão disponíveis para o destinatário de forma imediata (até 10 segundos). 
  • Segurança: as transações são baseadas na rede SFN, com tecnologias atuais de proteção, além de contar com autenticação forte para início das transações, monitoramento da rede e prevenção de fraudes
  • Conveniência: foco na experiência intuitiva do usuário, principalmente para o consumidor final, por meio do canal mobile (app).
  • Multiplicidade de uso: permite todos os modelos de pagamento P2P, P2B, B2P e B2B, inclusive com a Secretaria de Tesouro Nacional (STN) como participante para recolhimento de taxas.
  • Informações agregadas: possui notificações aos remetentes (confirmação da transferência) e destinatários (fundos disponíveis).
  • Ambiente aberto: disponível para bancos, instituições de pagamentos, financeiras, fintechs e afins.
Meios de pagamentos de maior custo e menos eficientes devem perder espaço no decorrer dos anos 

Modelos tradicionais de pagamento e transferência como boleto, cheque, cartões de débito, devem ser os mais impactados – até mesmo o dinheiro físico. No longo prazo, bilhões de reais transacionados nesses meios de pagamentos poderão migrar para o PIX. Pesquisas realizadas pela EY apontam que consumidores estão utilizando cada vez mais pagamentos digitais, seja de fintechs ou de bancos digitais, dentro de seu padrão de consumo. O contexto de pandemia tem acelerado essa mudança de comportamento. 

Segundo a Abecs, no 1º semestre de 2020, as compras não presenciais somaram R$ 173,5 bilhões e cresceram 18,4% em comparação com o mesmo período do ano passado. Pequenos negócios e até mesmo atividades da economia informal devem migrar do dinheiro, cheque, para o PIX, principalmente pelo baixo custo e pela conveniência, segurança e agilidade para confirmação do pagamento e efetiva entrega de produtos e serviços. 

O mundo corporativo (B2B) também busca no PIX novas soluções de pagamento e transferências que possam endereçar suas atuais deficiências causadas pela complexidade dos processos, processamentos manuais e, principalmente, pelo tempo de processamento da transação. Por fim, outros tipos de parcerias com o Bacen devem alavancar ainda mais a migração de pagamentos tradicionais para o PIX. Empresas concessionárias e distribuidoras devem permitir pagamento de contas de energia, telefonia, água, entre outros. O PIX também pode acelerar o processo para restabelecimento do serviço para os casos de inadimplência. 

Nesse contexto, o estudo deste artigo utilizou dados históricos de quatro países que implementaram pagamentos instantâneos e, a partir dessas informações, foram desenhados três cenários de análises.

Os 4 países escolhidos tiveram diferentes níveis de penetração, com destaque para Austrália que atingiu 30% no Ano 3 de operação. 
É possível notar um padrão de crescimento nos primeiros anos, com um pico logo no início e uma estabilização nos anos seguintes.

Comparando a curva de crescimento dos países considerados, é possível notar um pico padrão logo no primeiro ano do lançamento do produto, indicando um comportamento natural na adoção do produto pelo mercado.

Para obtenção da penetração de pagamentos instantâneos foi calculada a representatividade do seu volume financeiro transacionado com relação ao total, dado como a soma dos volumes transacionados em pagamentos instantâneos, pagamentos eletrônicos (cartão de crédito e cartão de débito) e não eletrônicos (cheques e saques). 

Apesar de um crescimento na penetração do produto bem similar à Suécia, o Reino Unido apresentou, a partir do Ano 5, um aumento considerável, praticamente dobrando sua representatividade no mercado britânico, provavelmente justificado pelo lançamento da rede 4G no mesmo ano. 

Notas: (1) A penetração de Pagamentos Instantâneos foi calculada considerando os métodos: Pagamentos Eletrônicos e Não Eletrônicos Fonte: Análises EY; Reserve bank of Australia (RBA); European Central Bank (Eurosystem).
Para projetar o volume do PIX previsto para os primeiros cinco anos, foi considerada a performance dos países analisados e métodos analíticos para projeção de três cenários.

O objetivo principal do estudo foi a obtenção de cenários embasados em tendências comportamentais da população e no histórico de adoção de pagamentos instantâneos em 4 países, de forma que se tivesse uma percepção das principais direções que o PIX pode tomar no Brasil nos primeiros 5 anos de operação.

 Para que se conseguisse mitigar influências culturais no histórico de adoção de pagamentos instantâneos nos outros países, foi realizada uma ponderação considerando as tendências comportamentais futuras de cada país no que diz respeito à propensão ao uso de papel moeda e de serviços bancários online. Essas tendências foram retiradas da EY Future Consumer Index, pesquisa que visa mapear o sentimento do consumidor ao longo do tempo globalmente. Dessa forma, foi possível adaptar os dados dos outros países à realidade brasileira. 

Com isso, foram identificados 3 cenários para o futuro do mercado do PIX no Brasil: cenário conservador, baseado apenas em Reino Unido, Suécia e Índia, que não considera efeitos de tendências comportamentais; cenário moderado, baseado nesses 3 países, mas que leva em consideração as tendências comportamentais; e cenário agressivo, que leva também em consideração a Austrália, país que possui uma curva de penetração dos pagamentos instantâneos mais agressiva. 

Notas: (1) Com base nos dados da Future Consumer Index de Outubro de 2020. (2) O Volume Financeiro foi projetado para os próximos 5 anos, tomando como base o transacionado pelos métodos de Cartão de Crédito e Débito, Saque e Cheque; Fonte: Análises EY; Future Consumer Index EY; FEBRABAN; Reserve Bank of Australia (RBA); European Central Bank (Eurosystem).
Para projetar o volume do PIX previsto para os primeiros cinco anos, foi considerado um mix de países e formatos de cálculos diferentes para cada cenário.
Todos os cenários apontam para um crescimento positivo do PIX.

No cenário agressivo, o PIX transaciona o equivalente a 36,3% do PIB1.

87% da população brasileira é urbanizada.

71% da população têm acesso à Internet e 66% utilizam smartphones.

Nos primeiros dois anos, o volume de PIX deve ser entre R$ 230 bilhões e R$ 620 bilhões. Com exceção do cenário conservador, os demais cenários atingem o pico a partir do 4º ano e a tendência é iniciar uma estabilização do crescimento abrupto. 

Em todos os cenários, fica clara a acentuação da queda das transações com papel moeda e cheque, tendência que está em curso no Brasil e nos países analisados. Uma análise mais ampla de crescimento das transações no Brasil, considerando débito direto, transferência de crédito (TED e DOC), cheque, cartão de débito, pré-pago e crédito, o potencial montante transacionado com PIX para os próximos 5 anos poderá atingir R$ 4,78 trilhões.


Notas: (1) Com base no PIB projetado em 2020, pós-pandemia, para 2024. Fonte: Análise EY, IBGE, Ministério da Fazenda, Bacen
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Conclusão

Considerações Finais

O estudo teve como foco a previsão da curva de adoção do PIX, com referência em outros países que já adotaram o método de pagamentos instantâneos, através da análise do driver de penetração de pagamentos instantâneos em relação a pagamentos eletrônicos (Débito + Crédito) e não eletrônicos (Saques + Cheques).

A análise mostrou que os meios de pagamento não eletrônicos sofrerão um maior impacto, uma vez que o PIX causaria uma queda elevada no volume de saques e cheques e, consequentemente, no de papel moeda em circulação. Dessa forma, pode-se afirmar que: 

  • Com menos papel moeda em circulação, as transações se tornariam mais seguras e o custo do governo para emissão das cédulas ou moedas diminuiria; 
  • Os custos com transferência de numerário de agências bancárias e varejo são considerados altos e, com a queda na circulação de papel moeda, seriam reduzidos e, o processo,  simplificado; 
  • Empresas de transporte de numerário e empresas de gestão de sistemas de caixas eletrônicos, poderão ser afetadas conforme velocidade de adoção do PIX, que poderá ser um dos balizadores para a diminuição na circulação de papel moeda. 

Além disso, mostrou também que a migração de pagamentos eletrônicos para o PIX é baixa nos dois primeiros anos, mas muda de comportamento entre o terceiro e o quarto ano de operação, em que  se observa um declínio no volume financeiro dos métodos tradicionais. Dessa forma, empresas que atuam diretamente no ecossistema de cartões de Débito e Crédito (Emissores, Credenciadoras, Sub-Credenciadoras e Bandeiras de Cartão) deverão se preparar para desenvolver produtos adjacentes a fim de compensar uma possível queda de receita. 

É importante ressaltar que o cenário a ser seguido pelo Brasil dependerá, principalmente, das tendências comportamentais da população brasileira, derivadas neste estudo a partir da EY Future Consumer Index. Além disso, fatores como o modelo escolhido pelo BACEN para o PIX, o forte incentivo governamental, a comunicação feita pela mídia, o sentimento de confiança da população em relação ao método, o nível de bancarização, a digitalização e a aceitação do método em micro, pequenas e médias empresas (MPME) também serão variáveis decisivas para a definição do cenário no país.

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Resumo

Estudo projeta o crescimento do PIX para os próximos 5 anos utilizando dados históricos de países que já passaram por essa transformação

Sobre este artigo

Autores
Rafael Schur

Sócio da EY e Líder do segmento de Mercado de Serviços Financeiros para o Brasil

Líder do segmento de Mercado de Serviços Financeiros, Rafael acumula mais de 25 anos de experiência no desenvolvimento de soluções para projetos que alinham estratégia, governança e tecnologia.

Chen Wei Chi

Sócio líder de Transformação de Negócios e Inovação para Serviços Financeiros e Open Finance

Entusiasta de assuntos relacionados com foco no cliente e tecnologia.

Ivan Habe

Associate Partner Líder de Pagamentos da EY

Consultor de negócios para o setor de pagamentos. Entusiasta e cheio de energia.

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