Iniciativa pode conectar, definitivamente, regulação com real transformação, acelerando a inovação nas empresas
Uma novidade lançada na COP28, em Dubai, é o global stocktake ou inventário de emissões, que permitirá que os países avaliem como estão em termos de conter o aquecimento global, conforme definido no Acordo de Paris em 2015. A iniciativa é importante para avaliar se os esforços globais têm tido progresso e contribuirá para traçar as ações necessárias para os próximos anos. Em relação aos termos do pacto de 2015, os países devem avaliar seu desempenho a partir deste ano e, posteriormente, a cada cinco anos.
O compromisso firmado no Acordo de Paris por quase 200 países é limitar, até o fim do século 21, o aumento da temperatura do planeta em 1,5ºC, em comparação com a média anterior à Revolução Industrial. Para isso, é necessário que emissões de gases de efeito estufa sejam reduzidas em 42% até 2030. Na contramão, as emissões globais vêm aumentando – houve alta de 1,2% de 2021 para 2022, atingindo-se um novo recorde, de acordo com relatório anual do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
A ONU (Organização das Nações Unidas) alerta que o aumento da temperatura pode chegar a 2,9ºC acima dos níveis pré-industriais – quase o dobro, portanto, da meta definida. A entidade aponta que os países precisam reduzir o uso de carvão de 67% para 92% até 2030 em relação aos níveis de 2019 e praticamente eliminá-lo como fonte de eletricidade até 2050. Ainda segundo a ONU, a eletricidade com baixo ou zero carbono precisa representar praticamente a totalidade (99%) no mundo até a metade do século, ainda que estejamos bem distantes disso, com a resolução paralela dos desafios tecnológicos que impedem a captura de carbono.
Nos primeiros dias da COP28, os EUA, que são grandes emissores de dióxido de carbono ao lado da China, comprometeram-se a parar de utilizar usinas a carvão para produção de energia elétrica até 2035. Cerca de 40% das emissões provenientes de combustíveis fósseis ocorrem por causa da queima do carvão, de acordo com o Center for Climate and Energy Solutions.
Viabilizando a transformação nas empresas
“O fluxo de capital está ainda muito voltado para a agenda regulatória. Ou seja, estamos regulando o mundo sem pensar como viabilizar essa transformação. O global stocktake vai mostrar exatamente isso: a regulação, embora imprescindível, não resolve por si só o problema. Para o sucesso dessa agenda, precisamos possibilitar que as empresas se transformem por meio da tecnologia e sejam mais inovadoras, mudando seus modelos de produção ao mesmo tempo em que sigam rentáveis”, diz Ricardo Assumpção, CSO (Chief Sustainability Officer) da EY e líder de ESG e Sustentabilidade, que participa da COP28 como palestrante e moderador de painéis. “A COP28 deve conectar o regulatório com a transformação, acelerando a inovação nas empresas em áreas relevantes para a agenda de mudanças climáticas. Parte das soluções de transformação é encontrada no Global Sul, onde o Brasil está inserido, como as florestas tropicais e o etanol, especialmente o de segunda geração”.
E2G
Produzido a partir do bagaço restante da produção do açúcar e do etanol comum, o E2G utiliza a biomassa, que é a celulose, como insumo de produção. Há dois benefícios nesse processo em termos de combate às mudanças do clima: menor emissão de gases de efeito estufa em comparação inclusive com o etanol de primeira geração, que já emite menos, e não competição com alimentos por áreas agrícolas. “O E2G traz o conceito de economia circular, porque usa o bagaço da cana para produção do etanol. O Brasil é pioneiro em biocombustíveis e está criando um arcabouço regulatório que constitui a base para conectar regulação com transformação, por meio de um fluxo de capital atento e interessado por inovações na indústria de energia”, diz Assumpção.
Ainda segundo o executivo, os impactos das mudanças climáticas já estão acontecendo, com reflexos no setor privado nas operações das empresas, que têm o custo operacional elevado por terem que se adaptar aos efeitos do clima sentidos por todos. “A presença maciça das empresas na COP28 demonstra a busca por ações e estratégias efetivas que possam manter ou elevar a competitividade neste cenário complexo do meio ambiente. Elas estão demandando, entre outras ações, planos governamentais de incentivo ao investimento que ofereçam previsibilidade e segurança jurídica em tecnologias, como o hidrogênio verde, que possam agilizar a transição energética”.