Os últimos nove anos foram os mais quentes já registrados, com a estimativa de que os próximos cinco serão de temperaturas ainda mais altas, o que exige das organizações atenção para os efeitos gerados para seus negócios, de acordo com estudo da EY
A urgência de adaptação aos efeitos das mudanças climáticas ficará evidente neste ano para empresas e governos, de acordo com o estudo “2024 Geostrategic Outlook”, elaborado pela EY. Nas últimas três décadas, o clima mudou efetivamente. Os últimos nove anos são considerados os mais quentes já registrados, com a estimativa da Organização Meteorológica Mundial de que os próximos cinco serão de temperaturas globais ainda mais altas. Desde a Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em 1992, os esforços se concentraram na mitigação, que é basicamente atuar para reduzir as emissões de gases de efeito estufa com o objetivo de controlar as mudanças climáticas. O global stocktake divulgado na COP28 demonstrou que os países – e, por consequência, as empresas – terão que se dedicar cada vez mais à adaptação de ambientes e processos para a realidade de temperaturas médias mais elevadas.
Isso vai incluir, por exemplo, novos padrões e investimentos para aumentar a resiliência dos edifícios aos riscos ambientais. Os Estados Unidos estão direcionando mais de US$ 1 bilhão a esses esforços e, ao lado de outros governos, criando soluções baseadas na natureza para reduzir o impacto das condições climáticas extremas, como resfriamento de calçadas e outras soluções que diminuam as temperaturas nos ambientes urbanos. Além disso, seguindo a TNFD (The Taskforce on Nature-related Financial Disclosures), o ISSB (International Sustainability Standards Board), que lançou em 2023 as normas IFRS S1 e S2, pode iniciar neste ano um projeto para incluir biodiversidade nas divulgações.
Ao mesmo tempo, ainda segundo o estudo da EY, o déficit de investimento na adaptação deve se tornar mais aparente neste ano. O atual ciclo do El Niño-Oscilação do Sul será provavelmente um evento climático forte, elevando o risco de eventos climáticos extremos em 2024. A Austrália já está se preparando para mais ondas de calor, incêndios florestais e ciclones. De forma geral, a expectativa é que um clima tão extremo reduza o crescimento econômico. Entre 2012 e 2021, por exemplo, tempestades, incêndios florestais e inundações causaram perdas anuais de cerca de 0,3% do PIB em nível global, de acordo com a resseguradora Swiss Re.
A necessidade de adaptação é estimada em um patamar de cinco a dez vezes superior aos fluxos financeiros atuais de adaptação, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas). Uma questão central neste ano continuará sendo se e como os governos desenvolvidos vão financiar os esforços de adaptação climática. O que está certo é que a natureza estará no topo da agenda em 2024 dos governos e dos negócios, com destaque para a 16ª Conferência de Biodiversidade da ONU, que será realizada na Colômbia em outubro. As três ações a seguir são recomendadas para as empresas pelo “2024 Geostrategic Outlook”:
1) Investimento em estratégias inovadoras de adaptação climática
O estudo projeta que, conforme cresce a atenção para a adaptação climática, haverá mais capital público e privado disponível para financiar a pesquisa e ampliação em torno de estratégias inovadoras de adaptação. A estimativa é que esse movimento se torne um mercado anual de US$ 2 trilhões nesta década, considerando as oportunidades criadas para empresas de construção civil e de infraestrutura, assim como para as organizações de forma geral, independentemente do setor econômico, que oferecem soluções baseadas na natureza e que melhoram a biodiversidade.
O EY Nature Hub, lançado pela EY na COP28, auxilia as empresas a encontrar essas soluções que não estão sendo consideradas nos frameworks de sustentabilidade. “Para isso, reunimos os stakeholders ligados à sustentabilidade para criar modelos de negócio integrados com a natureza. As empresas precisam elaborar planos de negócio sustentáveis que sejam pensados a partir da realidade brasileira, de predomínio de fontes limpas na matriz energética, e considerando a natureza como aliada”, diz Ricardo Assumpção, CSO (Chief Sustainability Officer) da EY e líder de ESG e Sustentabilidade.
Ainda segundo o “2024 Geostrategic Outlook”, em um contexto de busca de soluções de adaptação climática que começam pelas essenciais como a incorporação de árvores na paisagem urbana, consideradas agentes resfriadores da temperatura, os executivos precisam avaliar se suas empresas têm um papel a desempenhar no desenvolvimento dessas inovações, ao mesmo tempo que incluem estratégias de adaptação nas operações das suas organizações.
2) Preparação para possível aumento da carga tributária
As alterações climáticas estão danificando infraestruturas, incluindo a de transporte e de eletricidade, o que muitas vezes causa a interrupção de outras atividades comerciais. Enquanto a lacuna de adaptação climática persistir, os governos vão enfrentar redução da arrecadação de tributos por causa de atividades empresariais interrompidas ou inviabilizadas pelas mudanças climáticas e aumento das despesas para reconstruir as estruturas danificadas por esses eventos extremos.
Os executivos devem então se preparar para um possível agravamento da situação fiscal dos países especialmente atingidos por esse cenário. Além disso, ainda segundo o estudo, as empresas devem monitorar se essa situação das contas públicas, na tentativa de melhorá-la, poderia levar os governos ao aumento da carga tributária – seja de forma generalizada, seja de forma direcionada para indústrias específicas como petróleo e gás.
3) Incorporação das mudanças climáticas para analisar localização da empresa e viabilidade de investimentos
Os eventos climáticos extremos continuarão danificando a infraestrutura das empresas, motivo pelo qual seus riscos devem ser corretamente mensurados no negócio. Os de longo prazo, como o aumento do nível do mar, podem inclusive resultar na interrupção das operações.
Sendo assim, de acordo com o “2024 Geostrategic Outlook”, será cada vez mais importante que as empresas considerem esses riscos ao investir em novas fábricas ou outros projetos de longo prazo, adicionando a essa avaliação a hesitação crescente das companhias de seguros no oferecimento de cobertura para locais de alto risco climático. A continuidade do relacionamento com fornecedores e a viabilidade da aquisição de outras empresas devem passar pela análise dos planos de adaptação climática, bem como pelos impactos gerados para a biodiversidade por esses parceiros e pelo negócio a ser comprado.