O Grupo Iquine, maior indústria de tintas do Brasil com capital 100% nacional, ao aderir ao Movimento Conexão Circular, da ONU (Organização das Nações Unidas), assumiu as metas ambiciosas de zerar o envio de resíduos para aterros sanitários e implementar um modelo de negócio circular até 2030.
“Nossas plantas de Jaboatão e do Ceará já são consideradas "Aterro Zero" por causa de ações como a reutilização de efluentes tratados, a destinação responsável do lodo industrial e o reaproveitamento e reciclagem dos demais resíduos gerados”, afirma o fundador da empresa, Delino Souza, que foi homenageado na categoria Master da edição 2024 do EOY. “Sustentabilidade hoje não é uma escolha, mas um dever. Na indústria de tintas, esse compromisso exige responsabilidade em cada etapa: desde a seleção das matérias-primas até a disposição final dos resíduos”, completa.
Leia abaixo a entrevista na íntegra.
1) Quais são os desafios de comandar uma empresa familiar?
DELINO: Empreender no Brasil é, antes de tudo, um ato de coragem. Enfrentamos diariamente um cenário desafiador, com mudanças constantes na economia, competição acirrada e um ambiente que exige jogo de cintura, resiliência e paixão pelo que se faz. Agora, imagine somar a isso a responsabilidade de conduzir um legado familiar – um sonho que começou pequeno e, com o tempo, se tornou parte da vida de muitas pessoas.
No Grupo Iquine, a família sempre foi parte essencial da construção dessa história. Meus filhos cresceram dentro da empresa, cada um encontrando seu caminho e contribuindo com aquilo que tem de mais valioso. Mas como toda empresa familiar, aprendemos que é preciso maturidade e humildade para entender quando é hora de dar um passo além.
Foi assim que, há cerca de sete anos, iniciamos um processo de profissionalização da gestão. Trouxemos um CEO de mercado e estruturamos um conselho administrativo com a participação da família. Foi uma decisão estratégica, mas também emocionalmente desafiadora – afinal, entregar a gestão exige confiança, compromisso com o legado e, acima de tudo, um olhar voltado para o futuro.
Hoje, nosso maior desafio é manter viva a alma da empresa: os valores, a ética, a proximidade com as pessoas. Porque uma empresa familiar, quando bem conduzida, tem algo único: ela carrega propósito. E é esse propósito que nos move, nos dá força nos momentos difíceis e nos lembra, todos os dias, por que fazemos o que fazemos.
A sucessão, nesse contexto, não é apenas sobre quem vai assumir a liderança. É sobre como garantir que essa chama continue acesa nas próximas gerações – com visão de futuro, mas sem jamais perder a essência do passado.
2) Quais foram e são os fatores decisivos para o sucesso do Grupo Iquine no mercado de vernizes, resinas e tintas imobiliárias e industriais?
DELINO: Acredito que o verdadeiro diferencial sempre esteve na nossa inquietação, no desejo constante de fazer melhor, de transformar produtos em soluções reais para os pintores. Essa inquietação nasceu comigo, ainda no início da minha trajetória profissional, em um laboratório de pesquisa e desenvolvimento. Tive o privilégio e o desafio de aprender com químicos alemães extremamente rigorosos, que me ensinaram desde cedo a importância da excelência, da precisão e do compromisso com a qualidade.
Naquela época, a indústria de tintas no Brasil ainda era muito carente em termos de tecnologia. Isso despertou em mim uma paixão: a vontade de desenvolver produtos que realmente entregassem mais — mais durabilidade, mais desempenho, mais resultado. Quando lancei nossa primeira linha de vernizes, eu já trazia uma bagagem robusta, fruto de muitos testes, muitos erros e aprendizados. Eu sabia o que não funcionava – e mais importante: sabia o que podia funcionar melhor.
Outro fator é que eu sempre acompanhava vendedores, dava assistência e observava o que eles estavam querendo e que no mercado não tinha um produto de secagem rápida. A partir daí e com base nas pesquisas anteriores, desenvolvi o primeiro esmalte de secagem rápida no mercado. O produto deu muito certo, já que ninguém imaginava que o esmalte Dialine, lançado em 1993, derrubaria a marca que tinha 60% de share, da maior empresa do mercado.
Esses momentos mostram o que está por trás do sucesso do Grupo Iquine: a busca pela excelência técnica, o olhar sensível às necessidades reais do consumidor e a coragem de inovar – mesmo quando parecia ousado demais. Essa combinação continua sendo o norte até hoje.
3) Como produzir tintas de forma sustentável, considerando os desafios ambientais que temos atualmente?
DELINO: Sustentabilidade hoje não é uma escolha, mas um dever. Na indústria de tintas, esse compromisso exige responsabilidade em cada etapa: desde a seleção das matérias-primas até a disposição final dos resíduos. No Grupo Iquine, acreditamos que é possível crescer de forma sustentável, respeitando o meio ambiente, promovendo a inovação consciente e valorizando a produção responsável com o planeta. Sustentabilidade, para nós, não é apenas uma diretriz técnica, mas um valor que orienta nossas decisões. Esse compromisso se traduz em ações concretas no dia a dia.
Participamos do Programa ABRAFATI para a Política Nacional de Resíduos Sólidos, PNRS ABRAFATI, que é o programa coletivo de logística reversa, contribuindo ativamente com a logística reversa das embalagens pós-consumo, em parceria com entidades como a Prolata e cooperativas de catadores. Também aderimos ao Movimento Conexão Circular, promovido pelo Pacto Global da ONU no Brasil, com metas ambiciosas como zerar o envio de resíduos para aterros sanitários e implementar um modelo de negócio circular até 2030. Nossas plantas de Jaboatão e do Ceará já são consideradas "Aterro Zero" por causa de ações como a reutilização de efluentes tratados, a destinação responsável do lodo industrial e o reaproveitamento e reciclagem dos demais resíduos gerados.
Nesse contexto, uma importante diretriz que seguimos é o Programa Setorial de Sustentabilidade (PSS), criado pela Abrafati em 2021. Trata-se de uma iniciativa pioneira na indústria de tintas e que está voltada para a promoção de melhorias contínuas em áreas essenciais como Governança e Liderança Corporativa, Capital Humano, Capital Social e Meio Ambiente.
Fomos reconhecidos com o Selo Empresa Verde, da Junta Comercial de Pernambuco (Jucepe), Secretaria de Meio Ambiente, Sustentabilidade e de Fernando de Noronha de Pernambuco (Semas-PE), Secretaria de Desenvolvimento Profissional e Empreendedorismo de Pernambuco (Sedepe) e Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH), que destaca empresas com boas práticas ambientais, como controle de poluição, comunicação transparente, gestão energética e consumo consciente.
Além disso, realizamos anualmente o Inventário de Gases de Efeito Estufa (GEE), que permite monitorar, mitigar e atuar diretamente sobre as nossas emissões, reforçando nosso papel na luta contra as mudanças climáticas. Mais do que discurso, portanto, a sustentabilidade está presente nas nossas atitudes. Produzir tintas com responsabilidade é nosso jeito de contribuir para um futuro mais justo, equilibrado e cheio de cor para todos.
4) O que significa ser homenageado na categoria master da última edição do EOY? Você acredita que reconhecimentos como esse podem ajudar na visibilidade ao empreendedorismo no Brasil?
DELINO: Ser homenageado na categoria Master do EOY foi um dos momentos mais marcantes e únicos da minha vida. Quando ouvi meu nome ser anunciado, com palavras que relembravam minha trajetória, minhas batalhas e conquistas, passou um verdadeiro filme na minha cabeça. Vieram à tona os momentos difíceis, as decisões arriscadas, a persistência nos dias em que tudo parecia dar errado. Foi impossível não me emocionar. Após o evento, o apresentador Chaim Zaher, do Grupo SEB, veio até nossa mesa, fez questão de conhecer minha família – e aquele gesto, tão simples e genuíno, me fez perceber o quanto essa história não é só minha, mas de todos que caminharam ao meu lado.
Esse tipo de reconhecimento tem um valor simbólico muito grande. Ele não celebra apenas um empresário, mas também a coragem de empreender em um país que, muitas vezes, não oferece o terreno mais fértil para quem sonha grande. Empreender no Brasil exige resiliência, criatividade e uma capacidade imensa de adaptação. A carga tributária é pesada, a burocracia é intensa e o ambiente regulatório nem sempre favorece a liberdade de inovar ou crescer.
Por isso, quando histórias de superação ganham visibilidade, elas têm um poder transformador. Elas inspiram. Mostram que é possível vencer com trabalho sério, com ética, com educação e com valores sólidos. Às vezes, o empreendedorismo não nasce de um grande plano de negócios – nasce da necessidade, da oportunidade, ou mesmo da intuição. E quando esses caminhos são reconhecidos, eles abrem portas para que outras pessoas se vejam capazes de trilhar o próprio caminho.
Esse prêmio é, para mim, uma homenagem a todos que acreditam no poder da iniciativa, da persistência e da transformação que o empreendedor pode gerar – na própria vida, na comunidade e no país.
Nova edição do EOY
Idealizado e promovido pela EY desde 1998 no Brasil, o programa Empreendedor do Ano reconhece líderes empresariais de setores e mercados distintos que, com sua visão de futuro, têm algo em comum: a vontade de transformar a realidade do país, deixando seu legado e contribuindo para a construção de um mundo de negócios melhor. Inscreva-se para a próxima edição, a de número 28, no site do EOY.
Este conteúdo faz parte da série da Agência EY com representantes homenageados da edição 2024 do programa EOY - Empreendedor do Ano. Leia abaixo as entrevistas anteriores.
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