Os desafios de sustentabilidade na infraestrutura vão desde a proteção das cidades contra eventos climáticos extremos até a necessidade de redução das emissões no transporte e a universalização do saneamento básico. Ao mesmo tempo, essas intervenções têm potencial para gerar valor econômico, contribuindo assim para o crescimento sustentável da economia brasileira. A adoção de iniciativas de sustentabilidade nesse setor pode gerar crescimento de 5,6% da atividade econômica, de acordo com o estudo Impact Edge, divulgado pela EY, durante a COP30. Esse valor corresponde a dois terços do crescimento anual do setor de infraestrutura, de acordo com dados da PIA (Pesquisa Industrial Anual)/IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Esses impactos se espalham ao longo da economia, indo além das empresas e do setor de infraestrutura, com ganhos esperados de R$ 34 bilhões ao ano, o equivalente ao PIB da cidade de Belém em 2022.
“O setor privado está atento a essas oportunidades de investimento, que são estimuladas no Brasil por meio de parcerias público-privadas e concessões”, disse Luiz Claudio Campos, sócio-líder de Governo & Infraestrutura da EY-Parthenon para América Latina, que palestrou em painel da EY House realizado em Belém. “Essa parceria do setor público com as empresas dá velocidade para investimentos na infraestrutura, além de resultar no compartilhamento de expertise e governança do setor privado com o governo”, completou. O executivo pontuou que o plano diretor das cidades é relevante também no contexto de criar ações de adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. “Contribuímos nesse sentido com a revisão do plano diretor de Porto Alegre, com ações para os próximos anos voltadas para a infraestrutura resiliente, que sejam capazes, portanto, de responder satisfatoriamente às ameaças climáticas. O gestor público deve pensar nas particularidades da sua cidade para saber ao certo as iniciativas que precisam ser priorizadas”, finalizou.
Desde a entrada em vigor do novo marco legal do saneamento, já foram realizados 60 leilões, de acordo com a ABCON SINDCON (Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto), com R$ 181,6 bilhões destravados em novos investimentos. Ainda segundo a entidade, cerca de um terço dos municípios já contam com serviços de saneamento básico operados pelo setor privado. O que continua impulsionando os investimentos em saneamento básico é o novo marco legal do saneamento, que estabeleceu metas de universalização: até dezembro de 2033, 99% da população brasileira deve ter acesso à água potável e 90% ao esgotamento sanitário.
O setor de saneamento básico tem aparecido bem colocado em intenção de investimentos, chegando a liderar em algumas edições o Barômetro da Infraestrutura, estudo realizado pela EY-Parthenon em parceria com a ABDIB (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base). Na última edição, que considera as percepções dos empresários e especialistas do setor de infraestrutura, as rodovias apareceram na primeira posição. Na comparação com a edição anterior da pesquisa, houve aumento de 10,4 pontos percentuais na expectativa de investimento, o que elevou sua preferência para 46,6% das respostas.
No ano passado, os investimentos em infraestrutura registraram recorde na série histórica iniciada em 2010 do Barômetro da Infraestrutura, com crescimento em termos reais de 15,36% na comparação com 2023, alcançando R$ 260,6 bilhões e ultrapassando o maior valor registrado até então – de R$ 240,7 bilhões em 2014.
Geração de empregos
Ainda segundo o estudo Impact Edge, em termos de geração de empregos, as iniciativas de sustentabilidade podem resultar em mais de 293 mil novas vagas, o que equivale à população de Foz do Iguaçu. A projeção é que sejam arrecadados 2,6% a mais em impostos anualmente, valor que pode sustentar o Bolsa Família por cinco meses. Sobre os efeitos positivos nas métricas de sustentabilidade, o estudo projeta redução da emissão de 266,6 MtCO₂ equivalente, bem como diminuição da captação e consumo de água em 36 milhões de litros, com 2,8TWh de energia poupados.
Na esfera da responsabilidade social, essas iniciativas podem gerar a criação de 15.378 vagas afirmativas em posição de liderança. Por fim, em termos de saúde pública, por causa da mitigação dos impactos negativos das obras, o cálculo do estudo é que essas medidas evitem 6.247 internações anualmente, gerando economia de gastos do SUS (Sistema Único de Saúde) de R$ 21,91 milhões ao ano.
*Este texto faz parte da série “COP30: A sustentabilidade como valor de negócio”, com informações sobre os setores econômicos em destaque na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Leia as reportagens anteriores:
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