A operacionalização do mercado regulado de carbono não é tarefa fácil, conforme destacaram os palestrantes de painel da EY House durante a COP30 em Belém. “Isso explica o motivo pelo qual a legislação que estabelece esse mercado no Brasil ter previsto sua implementação em cinco anos. É preciso nesse processo olhar para a experiência de mercados mais maduros para mitigar riscos da implementação”, disse Elanne Almeida, sócia-líder de Consultoria e Sustentabilidade para LATAM da EY. Para a executiva, conforme os mercados voluntários de carbono foram evoluindo, notou-se uma necessidade de respaldo tecnológico maior, com a garantia da segurança das transações, especialmente da integridade do crédito. “Com o mercado regulado de carbono, a tecnologia será ainda mais demandada, já que se espera crescimento no número de operações, com a necessidade de infraestrutura robusta para essas transações.”
Nesse sentido, a B3, em parceria com a ACX, lançou em setembro o projeto-piloto, já conectado à rede global de negociações, da primeira plataforma de registro primário de créditos de carbono do Brasil. A iniciativa registra os créditos gerados a partir da metodologia PSA Carbonflor, criada pela ECCON Soluções Ambientais e Reservas Votorantim para projetos de carbono na Mata Atlântica. Os primeiros 30 mil créditos estão em processo de aquisição pela Motiva e pela EY.
“Desejamos levar a estrutura parruda da B3 disponível no mercado de ações, que tem um trânsito de R$ 25 bilhões por dia em transações, com mais de R$ 4 trilhões de valor de mercado ao somar as empresas listadas, para o mercado de produtos ESG”, afirmou Leonardo Betanho, superintendente de Produtos Balcão da B3. “Ao considerar o mercado balcão, com toda essa parte de ativos financeiros e valores mobiliários, estamos falando de mais de trilhões de reais em estoque e quase 100 milhões de CPFs com alguma posição. Nosso objetivo é tornar o mercado de carbono tão eficiente, seguro e interoperável quanto essas operações já consolidadas”, completou.
Experiência no mercado voluntário de carbono
Leonardo Nitta, gerente de Carbono e Energia do Banco do Brasil, destacou que o banco já atua no mercado voluntário há três anos. “Temos alguns pilares na área de carbono, como desenvolvimento de produtos, por meio de parcerias com desenvolvedores, e geração de negócios, com consultoria para empresas envolvendo sustentabilidade, como adequação às regras do IFRS S1 e S2, inventário de emissões e plano de descarbonização”, afirmou. Já Andreia Limão, superintendente de sustentabilidade da Elo, observou que o mercado de carbono tem enorme potencial, e suas dores de implementação já estão sendo endereçadas. “Começamos a estudar esse mercado há mais de um ano, mapeando as lacunas que existiam e como uma empresa de meio de pagamentos, mas principalmente de tecnologia, como a Elo pode contribuir. Para isso, conversamos com vários players”, disse.
Na avaliação dela, a regulação está caminhando bem, com o compromisso do governo e das instituições financeiras de fazer esse mercado se desenvolver, já que o Brasil tem muito potencial para ofertar crédito de carbono. No entanto, a insegurança sobre a qualidade dos créditos afasta compradores. “Muita gente com quem conversamos disse que, enquanto não houver obrigação, não sabe se vai comprar crédito de carbono por não ter segurança do que está efetivamente comprando”, observou. Também por isso, para trazer credibilidade, é relevante que a segurança encontrada no sistema financeiro seja também aplicada à agenda de carbono, como faz o projeto citado da B3.
Impulso trazido pela regulação
Por fim, Amaury Oliva, diretor-executivo de Sustentabilidade, Cidadania Financeira, Relações com o Consumidor e Autorregulação da FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos), que também palestrou no painel da EY, disse que o Brasil, além de já contar com regulação consolidada e bem-sucedida em valores mobiliários, acertou ao aprovar recentemente sua legislação do mercado regulado de carbono.
“Temos toda a expertise necessária para assumir posição relevante no mundo, com empresas de credibilidade por trás dos projetos de crédito de carbono. Agora é o momento de avançar por meio da integração de todos esses atores para que o Brasil possa aproveitar essas oportunidades que estão se abrindo em nível global”, finalizou.
*Este texto faz parte da série “COP30: A sustentabilidade como valor de negócio”, com informações sobre os setores econômicos em destaque na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Leia as reportagens anteriores:
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