A transição energética dos combustíveis fósseis para as energias renováveis faz parte da agenda de ações definida para a COP30, dando sequência aos compromissos do global stocktake firmado na COP28. A geração de energia é a maior responsável por emissões de gases de efeito estufa no mundo, com uma liderança folgada em relação às outras fontes de emissão. Para que essa transição seja possível, os minerais críticos, como cobre, cobalto, lítio, níquel, grafite e elementos de terras raras, são imprescindíveis. A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) projeta que a demanda por minerais críticos para tecnologias de energia limpa deve, no mínimo, quadruplicar até 2040 para que o mundo atinja as metas do Acordo de Paris.
“Já está em curso uma corrida por esses minerais, com previsão de aumento da demanda por eles em todo o mundo. Alguns minerais como cobre, lítio e terras raras devem registrar crescimento da ordem de 500% nas próximas décadas”, destacou Afonso Sartório, líder de energia e recursos naturais da EY. “As mineradoras estão se preparando para o aumento da demanda em um movimento que só se fortalece por trazer a sustentabilidade para o centro da produção”, completou.
O executivo comentou que mineração e sustentabilidade são interdependentes, e esse raciocínio fica mais claro neste momento de utilização dos minerais críticos como insumo dos equipamentos das fontes limpas de energia. “A mineração precisa ser responsável com o meio ambiente. Ao mesmo tempo, a sustentabilidade necessita da mineração para prover os insumos para as tecnologias que vão descarbonizar a economia”, observou.
O estudo Impact Edge, divulgado pela EY durante a COP30, traz uma série de iniciativas que têm sido adotadas por essa indústria para tornar mais sustentáveis suas operações. As iniciativas-chave em gestão hídrica são recirculação de água; captação e uso de águas pluviais; aproveitamento de água de mina; monitoramento hidrológico em tempo real; bacias de dissipação; e planos de contingência. Além disso, a pressão por descarbonização nos escopos 1 e 2 tem levado a mineração a buscar alternativas tecnológicas como uso de biocombustíveis, eletrificação da frota, contratos de energia renovável e adoção da inteligência artificial.
Gestão de rejeitos da mineração
O levantamento aponta a gestão de rejeitos como um dos pontos mais críticos da mineração brasileira. Como ponto positivo, as mineradoras têm sido bem-sucedidas na transição para empilhamento a seco e uso de tecnologias de filtragem de rejeitos que reduzem a dependência de barragens convencionais. Destaque por fim para sistemas avançados de monitoramento e auditorias independentes que reforçam a segurança, enquanto planos de emergência garantem proteção às comunidades vizinhas.
“A circularidade tem apresentado índices cada vez mais elevados nessa indústria. A Vale tem um programa de reaproveitamento de rejeitos da atividade de mineração. A expectativa da empresa é que esses rejeitos representem 10% da produção de minério de ferro nos próximos anos”, observou Sartório. Esse trabalho faz parte do projeto Waste to Value, realizado pela EY para a Vale, que, somente no ano passado, produziu 12,7 milhões de toneladas de minério de ferro por meio de fontes circulares.
Tais iniciativas observadas no setor de mineração, ainda de acordo com o executivo, se juntam ao menor uso de água para processamento dos minerais, bem como à destinação dos rejeitos não usados no processo principal da mineração para outros usos, como blocos da construção civil e insumos para a indústria de cimento.
“Outra indústria de alta circularidade é do alumínio, que pode ser reciclado indefinidamente, com perda mínima de qualidade”, finalizou o executivo. No ano passado, um milhão de toneladas de produtos de alumínio consumidos no Brasil vieram de metal reciclado, o equivalente a 57% do total, segundo a ABAL (Associação Brasileira do Alumínio). Essa porcentagem é mais do que o dobro da média global.
*Este texto faz parte da série “COP30: A sustentabilidade como valor de negócio”, com informações sobre os setores econômicos em destaque na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Leia as reportagens anteriores:
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