O alumínio, que está entre os insumos de maior circularidade da indústria, pode servir de referência para os debates sobre economia circular na COP30. Somente no ano passado, um milhão de toneladas de produtos de alumínio consumidos no Brasil vieram de metal reciclado, o equivalente a 57% do total, de acordo com a ABAL (Associação Brasileira do Alumínio). Essa porcentagem é mais do que o dobro da média global. Com a possibilidade de ser reciclável indefinidamente, havendo perda mínima de qualidade nesse processo, o alumínio apresenta alto valor de mercado, principalmente quando comparado com outros materiais. A logística eficiente também favorece sua reciclagem, já que o fato de ser leve contribui para sua compactação, o que facilita o transporte para centros de coleta e depois para plantas de reciclagem.
Ao considerar somente as latas de alumínio para bebidas, o índice de reciclagem sobe para 97,3%, o equivalente a 33,9 bilhões de unidades ou 417,7 mil toneladas de material reaproveitado, de acordo com a ABAL e com a Abralatas (Associação Brasileira da Lata de Alumínio). Já são 16 anos consecutivos com índices superiores a 96%, o que faz do Brasil uma referência global em reciclagem de latas de alumínio e, por consequência, na circularidade desse insumo.
“O alumínio tem como característica estar presente na cadeia por inteiro – desde embalagens, como a caixinha de leite UHT, passando pelos produtos de consumo, como as panelas de alumínio, até a construção civil, sendo usado em portas e janelas, e o setor de transportes em ônibus, caminhões e carros”, observa Luciano Alves, CEO da CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), na segunda edição do videocast "COP30 - Da Natureza ao Negócio", apresentado por Ricardo Assumpção, líder de Sustentabilidade e CSO (Chief Sustainability Officer) da EY para América Latina. “Como a CBA está plenamente integrada à cadeia, além dessa característica intrínseca do alumínio que comentei, conseguimos controlar nosso impacto ambiental em cada uma das etapas produtivas. Nosso alumínio é produzido com energia 100% renovável advinda de uma geração dentro de casa que se divide entre hidrelétrica e eólica. Isso significa, portanto, que nossa produção de alumínio é de baixo carbono.”
O alumínio brasileiro, de forma geral, tem uma das menores pegadas de carbono do mundo por ser produzido com 90% de energia renovável. Esse metal contribui inclusive para ampliar a infraestrutura de energia limpa, já que está entre os insumos dos painéis solares e dos cabos elétricos. Também aumenta a eficiência energética dos meios de transporte por ser um material leve e que garante durabilidade e resistência à corrosão. O Brasil está entre os países com maiores reservas de bauxita, que é a principal matéria-prima para produzir o alumínio, ainda que seja preferível, para o meio ambiente, evitar essa produção primária por meio da reutilização da sucata no processo produtivo.
A pegada de carbono da CBA na produção de alumínio, segundo Luciano, está em aproximadamente 2,7 toneladas de dióxido de carbono para cada tonelada produzida, o que dá à empresa a classificação de “produtora de alumínio de baixo carbono”. Isso porque, para que seja considerado um alumínio verde ou de baixo carbono, a emissão deve ficar abaixo de quatro toneladas de dióxido de carbono equivalente para cada tonelada produzida desse metal. “Estamos bem abaixo desse limite. A média mundial hoje está acima de 15 toneladas, já que a matriz energética de países produtores como a China ainda está baseada nos combustíveis fósseis. Mesmo que estejamos avançados nesse sentido, definimos o desafio de reduzir em até 40% nossa emissão até 2030, já tendo cumprido parte importante dessa meta”, completa.
A EY House, construída em Belém pela EY para promover uma série de debates entre governo, iniciativa privada e academia durante a COP30, incorporou perfis extrudados de alumínio de baixo carbono da CBA. Esse material recebeu o selo Alennium, emitido pela empresa para atestar o alumínio sustentável, cuja produção, como citado anteriormente, gera emissões abaixo de quatro toneladas de dióxido de carbono equivalente por tonelada produzida de alumínio.
Sustentabilidade impulsionando a inovação
Na avaliação de Ricardo Assumpção, as agendas robustas e bem implementadas de sustentabilidade têm trazido inovação para as empresas. “Com esse objetivo em mente de diminuir as emissões e os impactos ambientais de forma geral, os CEOs têm liderado uma série de iniciativas nas organizações que buscam rever o processo produtivo, trazendo reflexos positivos para toda a cadeia”, afirma. O executivo complementa dizendo que a COP30 representa uma oportunidade de o Brasil organizar essa narrativa de inovação, reunindo todos esses pontos positivos encontrados no país, como a matriz energética mais limpa do G20 e a oferta incrível de capital natural. “São características que, se bem exploradas pelas empresas, trazem enorme diferencial competitivo para elas, especialmente em relação aos seus concorrentes globais”, finaliza.
Como exemplo desse tipo de inovação mencionado pelo CSO da EY, Luciano destaca tecnologia desenvolvida pela CBA em parceria com a Tetra Pak para viabilizar a reciclagem de embalagens do tipo longa vida, separando alumínio, plástico e papel, algo anteriormente complexo. “O desafio da indústria sempre foi separar esses três materiais nessa embalagem. A folha de alumínio tem como propósito conservar o alimento ou a bebida que está ali dentro. A solução criada por nós, que se encontra em fase de testes, tornará possível reciclar essas embalagens, que representam um problema para o meio ambiente”, comenta.
*Este texto faz parte da série “COP30: A sustentabilidade como valor de negócio”, com informações sobre os setores econômicos em destaque na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Leia as reportagens anteriores:
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