Iniciativa liderada pelo Fórum Econômico Mundial, a First Movers Coalition (FMC), lançada em 2021, na COP26, em Glasgow, tem como objetivo descarbonizar setores industriais pesados, que são responsáveis por grande parte das emissões globais de carbono. O objetivo principal dessa ação é usar o poder de compra coletivo das companhias envolvidas no FMC para criar um mercado robusto de tecnologias limpas e emergentes. Seu mecanismo central está no compromisso de compra em que as empresas participantes da coalizão se comprometem publicamente a comprar de fornecedores que usam tecnologias verdes ou de baixa emissão de carbono até 2030.
“Essa é uma excelente iniciativa que ainda não vingou como deveria. O clube global de compras pode garantir, por exemplo, que 10% de tudo que seja comprado de commodity no mundo advenha de commodities de baixo carbono”, disse Ricardo Assumpção, líder de Sustentabilidade e CSO (Chief Sustainability Officer) da EY para América Latina, que está à frente da programação e das iniciativas da EY House em Belém. “É preciso pelo menos que o mercado crie um preço premium para os produtos verdes, valorizando esses fornecedores na cadeia produtiva. Isso é fundamental para remodelar a cadeia, a fim de estimular a produção de baixo carbono”, completou.
Ainda segundo o executivo, o Brasil se beneficiaria disso, já que “tem mostrado ao mundo que dá para descarbonizar gastando menos, além de contar com matriz energética limpa e renovável que serve de exemplo para os outros países. O Brasil também tem usado a biomassa como fonte de energia - a exemplo do caroço de açaí na indústria de cimento. Nesse mesmo setor, o bagaço de cana-de-açúcar tem substituído cimento ou areia, criando materiais sustentáveis e com melhor custo-benefício.
Já na produção de alumínio, Ricardo citou o uso de cavaco de eucalipto como biomassa na fase de transformação da bauxita em alumina. Queimado em caldeiras industriais para produção de calor e vapor, esse insumo, que substitui os combustíveis fósseis, é usado na produção do alumínio e na geração de eletricidade para a fábrica. “Todos esses são inclusive exemplos de economia circular que já estão rodando com eficiência. Há também a escória, subproduto da siderurgia, que antes era direcionada para o aterro sanitário, mas hoje é valorizada por essa indústria em diversas aplicações como lastro para ferrovias em substituição à brita tradicional”, observou.
Setores prioritários
Entre os setores mais importantes para a First Movers Coalition estão aqueles nos quais a redução de emissões é tecnologicamente cara e complexa, recebendo a denominação de “hard to abate” ou “difíceis de abater”. Esse é o caso da aviação, que, no âmbito dessa coalizão, precisa substituir o querosene de aviação pelo SAF ou Combustível Sustentável de Aviação; transporte marítimo, que se propôs a comprar serviços de frete marítimo movidos a combustíveis de zero emissão; transporte rodoviário, cujo compromisso é adquirir caminhões pesados e médios com emissão zero; siderurgia, alumínio e cimento, que pretendem produzir ou continuar produzindo com emissões próximas a zero; e produtos químicos, com o compromisso de comprar insumos de base, como amônia, feitos de forma sustentável. Há por fim um compromisso do FMC de remover carbono da atmosfera por meio de tecnologias com esse propósito, com destaque para o reflorestamento.
“Ao garantir compras futuras, iniciativas como essa ajudam a diminuir o risco financeiro para produtores que investem nessas tecnologias limpas. Ao fazer isso, estão incentivando o investimento e desenvolvimento em larga escala de tecnologias de descarbonização que carecem de competitividade em custo”, finalizou Ricardo. Em 2050, de acordo com projeção do Fórum Econômico Mundial, metade da redução das emissões necessárias para atingir carbono zero deve vir de alguma tecnologia ainda não disponível em escala. Por isso, segundo a entidade, construir desde agora demanda por essas tecnologias será crítico para impulsionar sua adoção comercial.
*Este texto faz parte da série “COP30: A sustentabilidade como valor de negócio”, com informações sobre os setores econômicos em destaque na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Leia as reportagens anteriores:
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