Adoção da sustentabilidade no agro pode impulsionar crescimento do setor em 26,5%

19 nov. 2025

Estudo da EY divulgado durante a COP30 aponta que ações como plantio direto, rotação de culturas e sistema integrado lavoura-pecuária-floresta podem ativar R$ 247 bilhões na economia do país
Adoção da sustentabilidade no agro pode impulsionar crescimento do setor em 26,5% Palestrantes de painel da EY House abordam as perspectivas do agronegócio na sustentabilidade

A adoção de práticas de sustentabilidade pode impulsionar o setor de agronegócio em até 26,5%, ativando R$ 247 bilhões na economia do país com a geração de 2,1 milhões de empregos, de acordo com o estudo Impact Edge, produzido pela EY. Em termos de tributos, a estimativa é de arrecadação de R$ 112 bilhões, valor equivalente a aproximadamente 700 mil vagas em creches ou 14 mil quilômetros de rodovias duplicadas. Essa porcentagem de 26,5% corresponde ao crescimento acumulado do agronegócio nos últimos sete anos, de acordo com o CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) - Esalq, da USP (Universidade de São Paulo). 

O manejo de solo e sequestro de carbono constituem uma das frentes para que essa riqueza seja alcançada. As práticas de plantio direto, rotação de culturas e adubação verde não apenas mantêm a fertilidade do solo, mas também promovem o sequestro de carbono. Além disso, sistemas integrados como de lavoura-pecuária-floresta ampliam a biodiversidade e aumentam a resiliência climática das fazendas. 

“A agricultura brasileira já reúne essas melhores práticas globais. Já há algum tempo utilizamos o zoneamento agrícola, que veio para minimizar os riscos associados ao agronegócio considerando as características climáticas das regiões”, disse Otavio Lopes, sócio-líder da EY em agro para América Latina, que palestrou em painel realizado pela EY House durante a COP30. “Por meio do zoneamento agrícola, é possível garantir que o cultivo de determinada região vai vingar – ou pelo menos elevar essa possibilidade. Ele se adapta às mudanças climáticas por ajustar periodicamente suas recomendações com base em dados de clima e solo, dando mais segurança aos agricultores para escolher o momento ideal da semeadura.”

Para o executivo, no agronegócio, é preciso focar nas emissões líquidas, considerando nesse cálculo o impacto do sequestro de carbono, por meio da conservação e da não movimentação de terras. “Nesse contexto, conter o avanço do uso das terras para essas atividades do agronegócio é muito importante, e o Brasil vem fazendo isso muito bem. De forma geral, vemos a produtividade agrícola aumentando sem avançar em novas terras.” O executivo trouxe, no entanto, um ponto de atenção que diz respeito aos produtores sem acesso à tecnologia, com base na sua experiência anterior na Ásia, onde teve a oportunidade de conhecer a indústria de óleo de palma na Malásia e Indonésia, que são países bastante dependentes da exportação desse produto.

Acesso à tecnologia

“O produtor sem acesso à tecnologia avançava em novas terras à medida que as palmeiras não davam cachos suficientes para a extração do óleo de palma”, observou. Isso ocorre por causa do que chamou de “assimetria de acesso ao conhecimento entre os produtores”. “É muito mais fácil para um grande produtor ter acesso à tecnologia para fazer a restauração do solo, adotar as melhores práticas agrícolas e obter rentabilidade naquela área do que para o pequeno, que não tem acesso a esses recursos”, explicou. 

Tão logo o produtor sem acesso aos recursos tecnológicos perceba que a terra não está dando o retorno esperado, ele avança para a próxima área. “Trazendo para o Brasil, o raciocínio é semelhante, com a particularidade de que a movimentação de terra no país responde por mais de 40% das emissões brutas de carbono no agronegócio, o que representa parcela expressiva”, finalizou.

Para Alessandra Agostini, Head de ESG da EY-Parthenon para Corporate Finance, que fez a moderação do painel, o agro é um setor muito pulverizado, trazendo uma leitura complexa para realmente entendê-lo. “Temos as grandes e médias empresas com uma atuação mais conhecida, além de mais de cinco milhões de produtores rurais que são pequenos e, obviamente, não têm o mesmo nível de conformidade e exigências públicas incidentes sobre as grandes empresas de capital aberto”, disse.

Ponto de não retorno

O desmatamento pode ser consequência desse avanço do agronegócio em novas terras, motivo pelo qual os assuntos estão relacionados. Essa agenda precisa, portanto, equilibrar a expansão produtiva com a conservação ambiental, de acordo com o estudo Impact Edge, buscando garantir a rastreabilidade da produção, a fim de assegurar nesse processo que as commodities não venham de áreas irregulares. Além disso, compromissos públicos, monitoramento via satélite e auditorias independentes trazem mais confiança para consumidores e mercados internacionais. 

“O desmatamento afeta inclusive a própria agricultura, que depende da manutenção do ciclo de chuvas. No caso da Floresta Amazônica, que, por meio dos seus rios voadores, permite a formação de chuva nas Américas, essa relação fica evidente”, afirmou Christopher Martius, conselheiro sênior em Mudanças Climáticas, Energia e Desenvolvimento de Baixo Carbono do CIFOR (Center for International Forestry Research), que também palestrou no painel da EY. “O ponto de não retorno, conforme alerta do professor Carlos Nobre, é real para a Amazônia e precisa ser evitado a qualquer custo sob pena de os danos serem irreversíveis para a vida no planeta.”

*Este texto faz parte da série “COP30: A sustentabilidade como valor de negócio”, com informações sobre os setores econômicos em destaque na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Leia as reportagens anteriores:

Infraestrutura resiliente requer revisão do plano diretor e estímulo a concessões e PPPs

Mineração circular encontra minério em material tido antes como descartável

Efeitos das mudanças climáticas ameaçam produtividade do agronegócio

Apesar das dificuldades, bancos avançam na adoção de variáveis climáticas na concessão de crédito

COP30: Preservação da Amazônia passa por sociobioeconomia e reflorestamento

Desafio do Brasil é tornar infraestrutura de energia mais resiliente às mudanças climáticas

COP30 precisa debater efetividade das NDCs, indicadores de adaptação e justiça climática

COP30: Cidades precisam aumentar esforços de adaptação às mudanças do clima

COP30: Resiliência no setor elétrico passa por integração dos setores econômicos

COP30: Gestão da água e segurança de barragens são desafios da mineração

COP30: Iniciativas ESG na mineração podem estimular atividade econômica em 21%

COP30: Iniciativas de sustentabilidade podem gerar crescimento de 5,6% no setor de infraestrutura

COP30: Países buscam criar padrão global para o mercado de carbono

Brasil pode liderar mercado de carbono desde que avance em tecnologia e na integração global

COP30: Minerais críticos impulsionam sustentabilidade na mineração

COP30: Alumínio brasileiro se destaca por ser de baixo carbono e alta circularidade

COP30: Financiamento de transição não chega aos países em desenvolvimento, aponta estudo da EY

COP30: Clube de compras pode impulsionar redução das emissões de carbono

COP30: IA desafia agenda climática em relação ao consumo de energia e água

COP30: Emissões de carbono podem subir 63% no setor de transportes até 2050

Termos de Uso

O material publicado pela Agência EY pode ser reproduzido de maneira gratuita desde que sejam colocados os créditos para a Agência EY e respeitados os termos de uso. Mais informações pelo e-mail ey@fsb.com.br.