O cenário de inação no setor de transportes pode elevar o total de emissões em 424 Mton de dióxido de carbono equivalente em 2050, crescimento de 63% em relação a 2023, de acordo com o estudo “Coalizão dos Transportes” apresentado na COP30, produzido pelo CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), do qual a EY faz parte como associada.
A projeção foi feita considerando a demanda em 2050 calculada a partir do alinhamento do crescimento do setor com o da economia brasileira (estimativa de 2,4% ao ano), além da manutenção do perfil da matriz de transportes, que está baseada nas rodovias, e da ausência de avanços em novas tecnologias e em expansão de combustíveis limpos. O setor de transportes tem participação relevante nas emissões totais do país, representando 11% das emissões de dióxido de carbono equivalente, das quais mais de 90% são provenientes do modal rodoviário. Apesar do aumento significativo, o estudo destaca que, considerando a emissão per capita, ela estaria ainda assim bem abaixo de países como EUA e França.
“A eletrificação do transporte, substituindo os veículos a combustão, está entre as soluções para diminuir a emissão de carbono. O Brasil está em posição privilegiada no mundo porque pode conduzir esse processo a partir de fontes renováveis de energia. É uma contradição eletrificar os veículos usando os combustíveis fósseis como matriz energética”, disse Alexandre Vidal, sócio de Governo & Infraestrutura da EY-Parthenon, que participou das discussões sobre energia na EY House em Belém.
Na avaliação de Ricardo Assumpção, líder de Sustentabilidade e CSO (Chief Sustainability Officer) da EY para América Latina, que está à frente da EY House, o Brasil, além de contar com matriz energética limpa e renovável que serve de exemplo para os outros países, tem usado a biomassa como fonte de energia. “A natureza deixa cada vez mais de ser um passivo para se tornar um ativo, fazendo parte das soluções de empresas e governos para uma economia de baixo carbono.”
A China, apesar de estar caminhando bem nessa agenda da eletrificação, liderando o mercado global com mais de um milhão de veículos elétricos vendidos apenas no mês passado, é altamente dependente dos combustíveis fósseis na sua matriz energética. Cerca de 87% do fornecimento de energia advém dessas fontes, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).
Propostas para os próximos anos
Para evitar que o setor de transportes aumente suas emissões de dióxido de carbono, CEBDS, Motiva, CNT (Confederação Nacional dos Transportes) e Insper formaram uma coalizão composta por mais de 50 entidades de seis verticais de transporte: mobilidade urbana, rodoviário, aeroviário, aquaviário, ferroviário, infraestrutura e transversalidade. No total, foram mapeadas 90 alavancas para a descarbonização desse setor, com três vetores responsáveis por 60% do potencial de redução das emissões. São eles: concretização da mudança na matriz de transportes, com foco em modais limpos; expansão do uso de biocombustíveis; e eletrificação e power-to-X.
Sobre o primeiro, três destaques: aumento da participação do modal ferroviário de 16% para 33% na movimentação de cargas, com projeção de investimento de cerca de R$ 270 bilhões para viabilizar isso; expansão da participação do modal aquaviário de 15% para 22%; e redução da participação do modal rodoviário de 70% para 45%, por causa da expansão dos modais ferroviário e aquaviário. A projeção do estudo é de redução das emissões em 65 Mton de dióxido de carbono equivalente.
Em relação ao segundo vetor, deve haver a ampliação do uso de combustíveis mais limpos, como SAF (Combustível Sustentável de Aviação) e diesel verde, com estimativa de investimentos em torno de R$ 225 bilhões para atender à demanda adicional de 25 bilhões de litros de biocombustíveis em 2050. A estimativa do estudo é de redução das emissões em cerca de 10% na comparação com o cenário de inação.
Por fim, para o terceiro vetor, a Coalizão traz como alavanca a necessidade de aproveitar a matriz energética limpa do Brasil para eletrificação, especialmente para o transporte individual rodoviário. Com isso, o potencial de redução das emissões é de 145 Mton de dióxido de carbono equivalente. Há necessidade de investimento de R$ 40 bilhões para a infraestrutura de recarga, que representa o principal gargalo hoje para popularizar os veículos elétricos no país.
Considerando o tamanho desse desafio, o levantamento traz três exemplos que podem servir como habilitadores das alavancas propostas. São eles: Novo Marco Legal das Ferrovias para servir como mecanismo de fomento a investimentos privados voltados para a expansão da capacidade desse modal; Lei do Combustível do Futuro com diretrizes para ampliar o uso de biocombustíveis; e Programa Refrota, do governo federal, que prevê financiamento para a compra de 2.296 ônibus elétricos.
*Este texto faz parte da série “COP30: A sustentabilidade como valor de negócio”, com informações sobre os setores econômicos em destaque na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Leia as reportagens anteriores:
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