COP30: Rastreabilidade da produção do agro é positiva para a sustentabilidade

20 nov. 2025

Essa medida busca assegurar que as commodities não venham de áreas irregulares, conforme destaca estudo da EY
COP30: Rastreabilidade da produção do agro é positiva para a sustentabilidade Otavio Lopes, sócio-líder da EY em agro para América Latina, participa de painel da EY House

A adoção consistente da sustentabilidade no agronegócio pode evitar a emissão de 329 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente e de 29 milhões de toneladas de resíduos, além de trazer economia de 11,5 trilhões de litros de água na captação e consumo e de 2,8 TWh de energia, de acordo com o estudo Impact Edge, produzido pela EY. Para isso, há um conjunto de ações que precisam ser executadas pelos produtores.

“A rastreabilidade da produção está entre essas medidas, a fim de assegurar que as commodities não venham de áreas irregulares. Vai nesse sentido a nova legislação aprovada pelo governo do Mato Grosso, que institui o Programa Passaporte Verde”, destacou Otavio Lopes, sócio-líder da EY em agro para América Latina, que palestrou em painel da EY House durante a COP30. Essa nova lei, que entra em vigor a partir de janeiro do próximo ano, estabelece critérios socioambientais para o monitoramento do rebanho bovino e bubalino mato-grossense.

O Passaporte Verde, que atende às exigências dos mercados internacionais mais competitivos, propõe o monitoramento socioambiental completo da cadeia da carne – desde o nascimento do animal até o abate. O programa será implementado em etapas para incluir propriedades de todos os portes, prevendo suporte técnico e orientação aos produtores. No âmbito nacional, o Cadastro Ambiental Rural (CAR), um registro eletrônico obrigatório e gratuito para todos os imóveis rurais no Brasil, é um dos instrumentos mais relevantes para trazer segurança jurídica aos produtores rurais. Seu objetivo é integrar as informações ambientais das propriedades rurais, como Áreas de Preservação Permanente (APPs) e reservas legais, para fins de controle, monitoramento, planejamento e combate ao desmatamento. O CAR é considerado fundamental para a regularização ambiental e obtenção de crédito agrícola.

O levantamento Impact Edge vai muito além da rastreabilidade socioambiental de fornecedores, por meio de georreferenciamento, auditorias, uso de blockchain e outras tecnologias para garantir a origem dos produtos, aumentando a transparência na cadeia de suprimentos. 

Isso porque o estudo sugere outras ações nessa frente ligada ao desmatamento zero, rastreabilidade e conservação, como análise e seleção de fornecedores que compartilhem dos mesmos valores ambientais e sociais para fortalecer a reputação da empresa e assegurar práticas de sustentabilidade em toda a cadeia produtiva; bloqueio de origens não conformes; e recuperação de áreas degradadas. Destaque ainda para conservação das APPs, das reservas legais e dos corredores de biodiversidade; monitoramento via satélite e cruzamento de dados sobre uso do solo; e compromissos públicos de desmatamento zero com indicadores de acompanhamento.

Contribuição do setor para a descarbonização

Outra frente indispensável para a sustentabilidade no agronegócio está na combinação de eficiência energética e fontes renováveis, segundo o estudo Impact Edge. Para isso, o uso intensivo de biomassa, biogás e energia solar não só reduz custos operacionais, mas também as emissões de gases de efeito estufa, trazendo mais autonomia e segurança energética a fazendas e agroindústrias. “A junção de práticas sustentáveis e preservação das fronteiras agrícolas é essencial para entregar o que é necessário na agenda de descarbonização do agro”, disse Otavio.

Ainda segundo o executivo, as pesquisas demonstram que existe mais oferta de capital para projetos de transformação ligados à sustentabilidade do que projetos disponíveis para receber esses investimentos. 

“O papel da COP30 tem sido aproximar os stakeholders interessados em investir com os projetos existentes no agronegócio. O processo de transformação exige a combinação de três fontes de capital: público, privado e filantrópico em um conceito chamado pelo mercado de blended finance”, observou. Nessa lógica, o capital público tem o papel de trazer segurança, assumindo a dianteira no investimento nesses projetos, que podem estar ligados a uma nova tecnologia. Depois desse fomento, o setor privado entra para trazer escala e viabilizar a adoção dessa tecnologia pelo mercado. Por fim, o capital filantrópico se mostra crucial para reduzir a assimetria de acesso a essas tecnologias, garantindo que os pequenos e médios produtores possam acessar esses projetos. Isso garante que as políticas de sustentabilidade não sejam excludentes, ficando apenas restritas às grandes empresas.

*Este texto faz parte da série “COP30: A sustentabilidade como valor de negócio”, com informações sobre os setores econômicos em destaque na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Leia as reportagens anteriores:

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