COP30 demonstra que protagonismo da agenda climática é da iniciativa privada

24 nov. 2025

A falta de consenso da diplomacia em questões críticas como a dos combustíveis fósseis reforça que a transição para uma economia de baixo carbono será liderada por empresas e investidores
COP30 demonstra que protagonismo da agenda climática é da iniciativa privada Ricardo Assumpção, CSO da EY para América Latina, participa de painel da EY House em Belém

O setor privado assumiu o protagonismo da COP30 em Belém. A “COP da Ação ou da Implementação” mostrou que, para esse objetivo se concretizar, as empresas precisam liderar o financiamento, colocando no centro dos seus negócios a natureza. A boa notícia, considerando seu envolvimento com a COP deste ano, é que esse movimento está em ascensão.

“Foi notável o alinhamento entre iniciativa privada, setor público, diplomacia e academia. Na EY House construída em Belém, que promoveu esses encontros, recebemos 60 CEOs, mais de 90 profissionais do nível C-Level, quatro governadores, ministros de Estado e prefeitos de grandes capitais globais, além de cientistas e especialistas em sustentabilidade brasileiros e estrangeiros”, destaca Ricardo Assumpção, líder de Sustentabilidade e CSO (Chief Sustainability Officer) da EY para América Latina. “A COP somente iniciou o trabalho que será conduzido neste ano e no próximo pela Presidência brasileira, com engajamento das empresas e dos investidores, até a efetiva entrega do bastão para a Turquia e Austrália, que farão conjuntamente, de forma inédita, a próxima edição do evento”, completa.

A Presidência da COP30 se comprometeu até 2026 a criar dois mapas do caminho: um para reverter o desmatamento e outro para fazer a transição dos combustíveis fósseis para as fontes limpas e renováveis de energia. Em negociações internacionais, o mapa do caminho ou roadmap significa um roteiro político e técnico que traz etapas, prazos e recursos para chegar a um objetivo comum. “A partir de agora, com as empresas como protagonistas dos investimentos necessários para viabilizar a agenda climática, a descarbonização deve ser vista como consequência. A descarbonização é, portanto, resultado de planos bem estruturados de investimento em sustentabilidade, e não o motivo ou a causa desses aportes”, explica Ricardo. “Com a COP30, consolidou-se uma nova diplomacia baseada nas empresas, já que elas vão fornecer a escala necessária para as soluções de sustentabilidade que precisamos.”

Para o executivo, os encontros realizados dentro e fora da COP demonstraram que as organizações estão atentas à sustentabilidade como forma de equalizar os riscos para seus negócios e destravar oportunidades. “As lacunas financeiras para as definições da COP30 e para aquilo que ainda não obteve consenso, como a transição energética, só serão preenchidas com forte participação corporativa. A iniciativa privada é peça central da implementação da agenda climática”, observa. 

A meta de triplicar os recursos para adaptação foi mantida no documento final da COP30, mas com a extensão do prazo para 2035. Além disso, o texto final aprovou o Objetivo Global de Adaptação (GGA, na sigla em inglês), com a criação de 59 indicadores para padronizar em escala global a mensuração do progresso, das vulnerabilidades e das ações de resiliência dos países. 

“A criação de uma taxonomia global é relevante para avaliar os países que estão realmente comprometidos com a agenda climática. A partir do momento em que os países são avaliados da mesma forma, com os mesmos critérios, as empresas têm clareza de onde investir para obter os melhores retornos combinados de sustentabilidade e do ponto de vista financeiro”, afirma. “O capital busca projetos maduros – dotados de governança e transparência – para receber os investimentos. É por meio dessa lógica própria de mercado que o financiamento verde funciona.”

Plano diretor é estratégico

Os projetos, na avaliação do executivo, estão inseridos basicamente em dois cenários: voltados para mudanças climáticas e mudanças do clima. O primeiro representa o processo pelo qual o planeta está passando há muitos anos, demandando planos de descarbonização de longo prazo, metas agressivas para redução das emissões dos gases de efeito estufa e incorporação de inovação ao processo produtivo para economia e reutilização de recursos. O segundo é tudo que está acontecendo no curto prazo, com o aumento do número de eventos climáticos extremos no mundo inteiro, exigindo planos urgentes de adaptação para tornar as cidades mais resilientes. 

Para ambos os casos, olhando especificamente para o Brasil, o plano diretor desempenha papel central ou estratégico para contemplar iniciativas de combate às mudanças climáticas e elevar a capacidade adaptativa das cidades. 

“Quanto mais desenvolvida uma cidade, maior o custo de adaptação para fortalecer sua infraestrutura. Quanto menos desenvolvida, maior o custo para adaptá-la no sentido de reduzir as vulnerabilidades aos efeitos climáticos das regiões onde a população mora, principalmente a mais carente. Especialmente neste segundo caso, a adaptação, se não for feita a tempo e satisfatoriamente, traz o maior risco de todos: o de perda de vidas”, conclui o CSO da EY.

Soluções baseadas na natureza

A definição da sede da próxima cúpula climática em 2026 trouxe um arranjo inédito. A Turquia será a anfitriã ou país-sede, com a Austrália liderando o processo de negociação. A Turquia pretende liderar o debate em torno dos minerais críticos, considerando que descobriu reservas imensas de terras raras em seu território. Esses minerais são imprescindíveis para as novas tecnologias – inclusive as de transição energética. Já a Austrália deseja trazer as discussões para os desafios ambientais enfrentados por ela e seus vizinhos, como a proteção aos ameaçados corais. 

"A COP31 pode ser interessante para o Brasil porque pode alavancar ainda mais o debate sobre nature based solutions ou soluções baseadas na natureza, já que essa pauta tem relação com bioindustrialização e biodiversidade. Essa agenda também interessa ao setor privado, e isso já foi sinalizado pela Austrália”, finaliza Ricardo.

*Este texto faz parte da série “COP30: A sustentabilidade como valor de negócio”, com informações sobre os setores econômicos em destaque na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Leia as reportagens anteriores:

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